10 abril 2016

Espírito do deixa-falar [5]

Número anterior aqui. Membros da equipa "Espírito do deixa-falar", da esquerda para a direita nas caricaturas em epígrafe: Sónia Ribeiro, moçambicana, professora de Biologia, Bairro Sansão Muthemba, cidade de Tete; Carlos Serra, moçambicano, coordenador, Bairro da Polana, cidade de Maputo; Geraldo dos Santos, moçambicano, historiador, Bairro da Malhangalene, cidade de Maputo; Félix Gorane, moçambicano, advogado, Bairro do Macúti, cidade da Beira; Joseph Poisson, francês, farmacêutico, Rue des Écoles (quarteirão latino), cidade de Paris. Sobre a história do surgimento do "espírito do deixa-falar", leia o que o Geraldo Santos escreveu em 2006, aqui.
Geraldo dos Santos: Olá a todas e todos. Tenho para mim que é sempre mais sensato e convencional os nossos estudantes do ensino primário e secundário trajarem uniformes. Na verdade, talvez seja útil vermos as coisas do ponto de vista institucional, digamos assim, em lugar de discutirmos as virtudes e os defeitos das maxis e das minisaias. Talvez a vida seja sempre, historicamente, a busca do equilíbrio e da sensatez. Respeitosos cumprimentos.
Carlos Serra: Caro Geraldo, o corpo e a sua sexualidade pertencem a uma ordem de coisas bem mais vasta: pertencem, digamos, à ordem da ordem. O controlo político será sempre a tentativa de controlo da desordem que é suposta emergir e multiplicar-se perigosamente pelo corpo e pela sua sexualidade armazenada, designadamente através do corpo feminino. Os ritos de iniciação à maturidade são ritos de gestão política do corpo sexual e não é por acaso que eles são revestidos de secretismo e geridos pelos mais velhos, pelos guardiões da ordem (claro, hoje a exposição do corpo pode ser, em muitas partes do mundo, uma forma eficaz de controlo político, bem mais económica: permitir para melhor controlar). Abraços.
Sónia Ribeiro: A expulsão da Eva pelo colectivo adâmico moçambicano é um claro exemplo da politização do problema. Não é a simples questão de ver numa estrangeira o sinal de uma intrusão política nos assuntos locais, é especialmente a questão de ver uma estrangeira defender a gestão feminina do corpo em frente a uma escola local. Bjos do tamanho do Zambeze.
Félix Gorane: Cá por mim sou completamente a favor do "ponto de vista instucional" do Geraldo. Vamos lá ser francos: por que querem certas pessoas despir as nossas raparigas? Por que carga de água devia surgir uma Eva a ir contra os nossos costumes e a nossa moral? Tenho dito.
Joseph Poisson: Bom dia à tous. Alors não podemos deixar um bocado de côtè esse problème sem fundo de la sexualité? Deixem-me proposer que falemos un peu sobre essa vossa mania das guerras. Alors como estão de tiros nessa terre? Os Renamos já tomaram o pouvoir lá où eles disent ter ganho as eleições? Amitiés.

5 comentários:

Sir Baba Sharubu disse...

"Os Renamos já tomaram o pouvoir lá où eles disent ter ganho as eleições?"

O pai Afonso é um rei de Bagdá: ele acha que é o máximo, quando na verdade é um perdedor.

nachingweya disse...

Uma maxi e uma mini saia caem ao chao em igual lapso de tempo se a mente nao se encontra apetrechada para adiar esse momento. A questao nao esta na mascara mas na mente. A mente dos educadores que ao admitirem cair em tentaçao face à nudez ( admitamo-mo-la completa memo, nao apenas a sugerida por uma saia) de uma filha se demonstram perversos. Capazes de comportamentos insestuosos assim que enxergam um pedaço de carne acima do joelho. O que farao esses dentro das 4 parades das suas casas onde correm o risco de ver as suas proprias filhas em trajes mais descontraidos?
Por mim o que deve ser reformatado é todo o edificio do nosso sistema de educaçao, nao apenas a sua periferia. E ao me é dado apreciar daqui do lado de fora apenas so aspectos secundarios da educaçao estao na agenda do dia. Muita propaganda com inauguraçao ministerial de uma 'Gota no Oceano" de carteiras, vozeria ministerial aplaudida sobre a culpa dos estudantes no caos das reprovaçoes em massa em 2015, discursos ocos e nenhuma medida seria contra o alcool nas escolas, agora as saias ( espero que nao cheguemos à burka para amansar is impetos sexuais dos professores que se pertubam perante a beleza de uma discente adolescente) sao apenas o red or do problema da educaçao.
A expulsao de Eva era desnecessaria e espero que a Espanha returca com proporcionalidade. Ha em Espanha muitos moçambicanos que se metem em muito piores alhadas. Assim deve ser no concerto das Naçoes

nachingweya disse...

Não, a Renamo ainda nao tomou o pouvoir nas provincias onde ganhou as eleições de 2015. A Frelimo está no poder nas provincias onde perdeu as eleiçoes em 2015. Uma especie de "naked power", portanto. Que por definiçao legal é:"Power over a person or thing unrelated to an interest in the well-being or continuation of that person or thing." Aquele poder que o leao exerce sobre uma gazela ou gato sobre o rato e que nos humanos nao perdura.
No entanto o Povo, os cidadãos ( ou como agora é mais comum ouvir-se dos governantes, as populações) estão prestes a levantar-se impulsionados pela mola das EMATUMs que parecem nao ser poucas afinal. Os planos para baixar a qualidade do pão para manter o preço por mais um par de luas podem por a descoberto mais atum na travessia para a Catembe é na circular. O que elevaria o nivel de 'insoberania' em mais 3 ou 4 mil milhoes à espera do gas de Palma o qual repousa ainda la onde sempre esteve.
N.B. Vi imagens do mau tempo ha dias na Costa da Beira. Aquele nao é um problema municipal como é a Toponimia. Devem ser necessarios para ontem mais de 50 milhoes de dollares para a construção de dispositivos de dissipação de energia das mares bem urgentemente que a construçao da estrada para a Praia da Ponta do Ouro.

Foquiço disse...

Entre as maxi e mini saias, onde ficam as calças? Eis mais uma questão.

Já agora, mesmo sendo leigo na matéria, arrisco-me a dizer que a mente também se alimenta de coisas reais, tácteis, localizáveis... Com base nisso, preocupa-me quando se pensa não haver diferença entre as maxi e mini saias. Há que mudar de mentalidade e buscar ver essa diferença entre ambas. Não creio que as maxi-saias vem para tapar a feminilidade da mulher (nem conseguiriam)... E se esse for o objectivo, é contra os direitos das mulheres, elas não podem ser tapadas, apagadas ou ignoradas como mulheres, elas são mulheres e precisam ser-na o dia-a-dia, na escola, na igreja, em casa, na rua... Sim, são mulheres e não precisam esconder-se de ser mulher. Entretanto, tenho para mim que as maxi-saias podem ser usadas como uma ferramenta de educação. Aqui sim, precisamos pensar diferente. Neste contexo, por mais periférico que se pode pensar sobre o assunto, há que não menosprezá-lo, pois, da periferia também depende o centro e, quiçá, as maxi-saias podem mudar o curso de qualquer coisa no sentido de trazer bons resultados na educação e desenvolvimento humano. Não sei, só quero pensar diferente. De onde começar é uma questão de estratégia.


Boa semana a todos.

nachingweya disse...

" O habito nao faz o monge", diz-se e é verdade.
A mente é que deve ser treinada par saber distinguir entre o decente e o indecente. Se enveredarmos pelos obstaculos mecanicos para configurar a moral acabaremos por juntar cintos de castidade ao fardamento escolar...
Como enquadramos nas nossas mentes o tradicional " topless" no meio rural e em algumas praticas culturais ?
O problema pode residir nas generalizações. Na decada de 80 muitas senhoras de bem foram deportadas para campos de concentração no Niassa, Cabo Delgado, Sofala, etc, apenas porque resolveram ir a um clube nocturno para um pé de dança ; o interprete de alguma directiva de entao decidiu que toda a mulher que vai a "boite" é prostituta. Podemos tambem nos estar a caminhar para a prostituitização da saia cujo comprimento nao ultrapasse o joelho...ou proibir que a mulher use calças como era de lei no Malawi pelo memos ate ao Sec XX!
Diabolizar uma indumentaria vai criar outros problemas nesta sociedade que se veste dos fardos das calamidades onde as pessoas tem pouco a dizer sobre o corte das roupas.
A Educação tem problemas tao grandes que a maior maxi saia nao tapa.