21 abril 2016

A concepção elitista do eleitor mata-borrão

Na verdade, os hábitos e os fixismos são renitentes. E muitos e variados. Por exemplo, mesmo com verniz académico, sem pestanejar, sustentam muitos, nos mais variados fóruns, que - por exemplo - o norte do país é matrilinear e o sul, patrilinear. Quer dizer, é como se cada um, pela sua localização geográfica, fosse também geneticamente marcado, irremediavelmente estrangeiro à história e, portanto, à mudança. O mesmo se passa com a suposta geneticidade étnica. Se os votos na província de Gaza, por exemplo, vão especialmente para o partido X, é porque aí viveram dirigentes fundadores desse partido, é porque aí habita uma etnia etnicamente fiel a esse partido. Se os votos em Sofala vão especialmente para o partido Y, é porque aí viveram dirigentes fundadores desse partido, é porque aí habita uma etnia etnicamente fiel a esse partido. Então, perfumados com essa imputação causal, os resultados eleitorais são colocados em cima das substâncias étnicas desenhadas nos mapas, substâncias herdadas da epistemologia colonial. Por vezes sucede que, em lugar de dizermos "votos étnicos", dizemos pudicamente "votos regionais". Sugestão de leitura:

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