Quarto número da série. Entro no segundo ponto do sumário proposto aqui. 2. Dois paradigmas de propaganda eleitoral. É frequente socorrermo-nos de termos e de estruturas analíticas prontas-a-consumir do género "simpatia", "juventude", "desejo de mudança", "programa governamental bem elaborado", "seriedade", "passado", "confiança no futuro", etc., para explicarmos vitórias e derrotas eleitorais. Por que razão o partido A venceu? Porque as pessoas querem mudança - esta é uma explicação interessante mas que nada explica. Muitas vezes tão abnegado conjunto de ferramentas mais não faz do que explicar as causas da vitória pela vitória e as da derrota pela derrota. Lembrando Durkheim, é como querer explicar os efeitos do ópio pelas suas virtudes dormitivas. Há, ainda, o problema das absolutizações, das totalidades unitárias das quais são eliminadas as diferenças entre os indivíduos: a partir de que tipo médio é construída a unidade de um grupo (partido, eleitores)? A partir da maioria dos membros do grupo? A partir dos "processos psíquicos" dos dirigentes? A partir de que efectivo os desviantes seguros ou prováveis podem ser tomados como quantidade negligenciável? Em que medida o carácter mais ou menos rigoroso da "interdependência funcional" ligando os membros do grupo autoriza ou interdita tratar a informação lacunar de que dispomos como caução da unidade psíquica do conjunto? (recorde aqui). Acresce (este é para mim um ponto fundamental) que desejamos, regra geral, explicar o fenómeno político em geral e o fenómeno eleitoral em particular pelas virtudes do que Balandier chamou um dia "iluminação exclusiva da razão", esquecendo-nos do que, ao nível do poder, ele chamou "transposição, pela produção de imagens, pela manipulação de símbolos e sua organização num quadro cerimonial." Com algum humor: acho ser necessário ponderar nos imponderáveis.
(continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário