22 dezembro 2013

A parte nocturna das boas vontades

Ante a síndrome de Muxúnguè, perante o soar das metralhadoras, multiplicam-se os apelos ao diálogo (ao diálogo político, acrescentam alguns), sucedem-se os discursos sobre a inclusão, implicitamente há quem apele ao pacto social. A ideia central consiste em substituir o estado natural do conflito pelo estado social do acordo. Por outras palavras, a ideia central consiste em evacuar o tribunal da emoção a favor do tribunal da razão.
Quem faz tais apelos? Muitos, dos políticos gestores do Estado e a ele aspirantes aos académicos e outros intervenientes da chamada sociedade "civil", passando pelos porta-vozes de confissões religiosas.
No fim, é como se estivessemos perante ume enorme missa humanista. Esta é a parte diurna do conjunto de boas-vontades.
Porém, poucos parecem dispostos a enunciar quais devem ser as regras e os conteúdos do diálogo, para além das piedosas e nefelibatas fórmulas do género "vamos sentar e conversar" e da festa dos seminários de reflexão em locais de luxo. A dificuldade para colocar de frente - na medula do diálogo - o problema da redistribuição de recursos de vida, poder e prestígio é a parte nocturna das boas vontades.

2 comentários:

nachingweya disse...

Ao que parece é mesmo verdade que Dlhakhama ainda vive. E mesmo depois de lhe terem bombardeado a residência querem falar com ele. Isto é muito sintomático sobre o que o grande Capital anda a sussurrar perto dos ouvidos do poder vigente.
. Tomara que as ordens para conversarem cheguem logo,logo. Não há pior morte do que a que não têm nenhuma razão de ser.

ricardo disse...

Os vampiros sao normalmente animais de habitos nocturnos...