Extracto do editorial do semanário "Savana" de 06/08/2010, com o título "Crise, qual crise?": "A frase é atribuída a um proeminente político moçambicano quando em 2008 era confrontado com os efeitos da crise mundial no país. Menos de três anos passados, a crise aí está, avassaladora e de consequências imprevisíveis. (...) O governo, tido habitualmente como bom aluno dos programas emanados de Washington, em 2009, porque tinha eleições a enfrentar, fez orelhas moucas a alguns princípios fundamentais de economia. Manteve artificialmente os preços dos combustíveis, controlou o valor do metical, mantendo a estabilidade dos produtos ao consumidor, chegando ao fim do ano com um índice de inflação "à europeia". Como os "falcões" queriam mesmo os dois terços do voto "à angolana", afastaram qualquer possibilidade de conciliação quando o partido MDM foi miseravelmente impedido de concorrer em nove círculos eleitorais. A política e a economia não tardaram em escurecer a abertura do segundo mandato do presidente Guebuza. Os pagamentos apressados às gasolineiras secaram o pequeno mercado financeiro local. A falta de liquidez nos bancos comerciais e o que ficou convencionado como "a grave dos doadores" fizeram o resto. O açambarcamento das divisas disponíveis, apesar das sucessivas injecções de dólares pelo banco central, tornou inevitável o disparo das moedas mais importantes do mercado local. O dólar está 40% mais caro e não o há, o rand disparou 35% e tem um impacto terrível nos bens de primeira necessidade consumidos, sobretudo no sul de Moçambique. A inflação subiu dos artificiais 3,25% em 2009 para 14,5% no primeiro semestre de 2010. Este é o índice que indica claramente a perda do poder de compra dos moçambicanos nos últimos seis meses. Uma imprensa acrítica, sempre embalada pelo discurso da auto-estima e pouco preocupada com os reais problemas do país, presta-se a um perigoso jogo de espelhos, passando para o governo e para o partido que lhe dá apoio, a percepção de que o país avança vitoriosamente nos seus grandes desafios, nomeadamente no estafado slogan da luta contra a pobreza absoluta".
Nota: como é habitual neste diário, tereis ocasião de conferir oportunamente o dossier "Savana".
Adenda às 7:18 de 06/08/2010: compare com este texto aqui.
Adenda às 7:18 de 06/08/2010: compare com este texto aqui.
2 comentários:
DIRAO: O ESTADO DA NACAO é BOM.
Malandros.
Zicomo
Infelizmente estamos 'entregues' - este é o governo que temos, o governo que escolhemos.
Maria Helena
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