E lá dizia o director naquele tom augusto, imitado até à náusea por n pessoas: “É preciso envolver toda a gente, as organizações não-governamentais, a sociedade civil…” Mágica expressão esta, a sociedade civil, ambígua, todo-o-terreno: ambígua porque sem consistência analítica, todo-o-terreno porque suposto tê-la. Tudo e nada, afinal, nela podem caber. Por outro, guarda um profundo sentido normativo, pois constrói-se eticamente por oposição ao Estado-Leviatão, mesmo quando usada por dirigentes estatais. E assim vão passando os dias, reuniões decorrendo, lá está a sociedade civil, meia dúzia de fulanas e fulanos que falam sempre as mesmas coisas em todos os seminários (palavra definitivamente substituída por workshops), naquele ambiente fatalmente igual com o sumário executivo, a água mineral e as propostas solenes. A criatividade é sobretudo evidente nas sessões de HIV/SIDA, género e prevenção de conflitos. Parece ser evidente que somos um produtor copioso de sociedade civil para consumo de seminários.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
4 comentários:
Com os Oceanos de dados com que nos inundam em tais Seminários, é cada vez mais fácil entrarmos gente que sabe imensas coisas ... que não interessam nada.
Um abraço
"...E assim vão passando os dias, reuniões decorrendo, lá está a sociedade civil, meia dúzia de fulanas e fulanos que falam sempre as mesmas coisas..."
Acresce-se que se tratam sempre das mesmas caras tambem, nos hoteis, mas tambem na radio e televisao.
Os incontornaveis!
Pois é. Um membro do partido desloca-se 100 vezes ao ano a Maputo ou outra província para capacitação em HIV/SIDA, etc., etc., etc., mas não temos a mesma rtealidade com os professores.
Meu tio desde que entrou para a docência em 1976 nunca teve uma única formação, uma única saida. Foi professoer de muitos que na latura nem chango tínham para tapar os dedos, hoje são o que são.
Que futuro se espera dos nossos professores que estão nos distritos? Dizem que os carros não chegam lá, que a energia que é nossa não chega lá, que é mato, por isso não é de louvar fazer deslocar o ministro para lá, ministro esse que sai do campo.
Bela democracia.
Zicomo
A plataforma do "blogger" continua com problemas e por isso, tal como já procedi em outras postagens, sou obrigado a copiar o anónimo comentário d eum leitor e a introduzi-lo como segue:
"Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "Todo-o-terreno":
E por falar em sociedade civil,
permitam-me sugerir uma visita ao Suplemento TINDZAVA, do País, às quintas feiras: exemplo perfeito da globalização de valores."
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