20 abril 2010

Muros

Nos mais pequenos pormenores dos ajuntamentos - das reuniões protocolares às festas - estão bem em evidência as fronteiras, os muros psicológicos que separam e advertem instintivamente pessoas e grupos: trajes, formas de falar, olhares, títulos, distâncias, gorjetas, avisos, exibição ostensiva de objectos valiosos, advertências silenciosas ou marcadas por símbolos imponentes. A cidade de Maputo é um excelente documento de análise a esse nível. Não é apenas o conjunto de marcadores, de sinalizadores - visíveis, instalados em nossos hábitos, naturalizados -, que adverte, que acentua e que reforça as diferenças sociais, mas, especialmente, a silenciosa aceitação dos estatutos e dos deveres. No geral da vida, do dia-a-dia, a desigualdade social é menos produto da imposição do que da aceitação. Finalmente: para vos falar com toda a franqueza, nenhuma aula de sociologia devia ser dada numa sala. O habitat da sociologia é na rua.

4 comentários:

ricardo disse...

Na rua... como ensinava Socrates aos seus discipulos.

Todas percepcoes sao consequencia de uma sociedade estratificada em classes.

Um curiosidade: quando viviamos no Partido Unico que percepcoes sociologicas lhe saltavam mais a vista, caro Professor?

Eh,eh,eh...

V. Dias disse...

"nenhuma aula de sociologia devia ser dada numa sala. O habitat da sociologia é na rua." Disse tudo.

Zicomo

Abdul Karim disse...

Grande Licao.

corina disse...

Fantástico. Esta é uma das coisas que aprendi aqui, professor. E por causa dessa lição hoje vivo coisas assim:
http://coracaoinquieto.blogspot.com/2010/04/apesar-de-ser-desagradavel-depender-de.html
Eu diria que este post, sim, pode ser considerado um post comemorativo de 4 anos de blog. Emblemático.