O "Notícias" de hoje apresenta um trabalho sobre o estado lastimável em que se encontra a Escola Primária Unidade 30, localizada no Bairro 25 de Junho B, periferia da cidade de Maputo, frequentada por milhares de alunos. A direcção afirmou esperar que uma organização não-governamental reabilite a escola. Como é possível que o Estado se exima da responsabilidade de, ele-próprio, levar a cabo a reabilitação? Por que até agora nada foi feito para evitar o atentado à saúde de milhares de crianças?
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
14 comentários:
Quando falamos em qualidade só olhamos para leitura e escrita tudo o resto não importa!...
Cidadãos
90% das escolas deste país estão nestas mesmas condições. A tão propalada massificação do acesso ao ensino é feita desta maneira. Não se tome esta esccola como um caso isolado, porque isso faz pensar que o resto está bem. Não está, e isto que se vê é o de somenos importância. Esses mesmos 90% de escolas têm a dar aulas indivíduos a quem se chama professores, apesar de não terem qualquer formação profissional como tal, ou terem um ano de formação sobre uma mais do que precária 10a classe.
Não se questione como é que o governo não cuida desta (uma) escola. Questione-se como é que o governo abriu 90% destas escolas, e como é que instituições internacionais que se dizem amigas da criança apoiam esta massificação do "ensino", em nome das Metas de Desenvolvimento do Milénio.
Uma escola com problemas não seria um problema nacional nem comprometeria o futuro da nação. Mas Moçambique tem um problema nacional… e o futuro comprometido.
Obadias Azarias
Caro Obadias Zacarias,
DE facto o que afirmas e verdadeiro. As escolas do nosso pais sao como essa ai descrita, ou ate pessimas.
Mas ai esta o velho dilema: escola com qualidade (serao poucas), ou oferecer o minimo de condicoes e dar educacao a muitos.
Creio que a escolha do Governo foi a segunda.
Eu proprio venho de uma dessas escolas, em que sentavamo-nos no chao, e ja tive professres que vinham descalcos, porque nao havia sapatos nas lojas (anos 80).
Eu, como muitos outros colegas, formamo-nos.
Para dizer que temos que moderar as criticas e olhar para as condicoes do pais.
Eu julgo que o proprio Governo sabe e esta muito preocupado com isso.
Os louvores da comunidade internacional tem razao de ser, porque apreciam o esforco do Governo de dar educacao a todos. A primazia e saber ler e escrever (nao estou a defender o conteudo dos curricula).
Os pais dessas criancas agradecem muito, acreditem. Sabem que o filho esta encaminhado na vida.
A medida que o pais for a crescer, o ensino vai melhorar.
Em 1985 havia 4 ou 5 escolas pre-universitarias em Mocambique. Hoje, quantas existem? Esforcos do Governo e do povo tambem.
Nao devemos pensar que o Governo e sempre insensivel. Pelo menos na educacao tem havido esforcos.
A questao de professores sem formacao, o argumento e o mesmo. Se esperarmos ate ter professores formados, nao vamos conseguir ensinar 60% das criancas e muitos jovens ou adultos. Ha bons professores que nao tem preparacao, assim como ha tambem aqueles que mesmo formados, nao prestam bons servicos. Nao estou a negar que a formacao e importante.
E preferivel ter uma escola dessas, do que nao a ter.
A educacao nao deve esperar por melhores dias. Educacao e agora e ja.
O mais triste neste assunto é a descreça que todos nós temos em nós mesmos, no nosso governo, nas nossas autoridades, nas nossas instituições. Preferimos pedir ajuda fora. Já sabemos que de dentro nao vem nada. (Não há nada a fazer! Será mesmo que não há nada a fazer?).
À pergunta do professor, junta-se esta: Como é possivel que nós não sejamos capazes de exigir um pouco mais de nós mesmos e mais do nosso Estado? (Não se poderiam juntar os pais para apoiar?)
Eu vejo muita gente satisfeita, bebendo cerveja nas barracas todos os dias e com os filhos nestas escolas. Outros com "altos" carros, com filhos em escolas como estas. PRIORIDADES...
MF
Caro Teo Mambo
O principal já disse: "DE facto o que afirmas e verdadeiro. As escolas do nosso pais sao como essa ai descrita, ou ate péssimas."
O resto não é preciso discutir: se semeias milho não podes esperar colher arroz. Se 90% das sementes que usaste são estéreis, só terás 10% de produção por Ha. É por isso que só 35% dos estudantes que entram na 1a classe concluem a 5a sem reprovar nenhuma vez. E, mesmo assim, sem ao menos dominar a leitura e a escrita. Isto não é uma opinião. É um facto. Pergunto: então, o que é que foram lá fazer? São escolas, ou centros recreativos, para ocupar as crianças?
Agora, que o Teo Mambo ache que tais escolas, de onde é um dos de lá saídos, são suficientes, isso já é matéria que eu não posso discutir - cada um sabe sozinho daquilo que gosta.
Ora, uma vez que os factos falam por si (e contra eles, já diz o ditado, não há argumentos), é só uma questão de tempo. Sei que mudará de opinião quando as incompetências graves resultantes destas escolas o afectarem pessoalmente, um dia, seja num hospital, numa fábrica, ou num edifício.
Saberá dar-me uma explicação da razão pela qual nos últimos 5 anos houve curtos-circuitos em mais edifícios do que nos anteriores 30 todos juntos? São os electricistas e os gestores que estão a produzir estas escolas que "E preferível ter uma escola dessas, do que não a ter.".
Sabe porque é que eu acho que não? Porque sem estas escolas, teríamos consciência de que não temos méedicos, engenheiros, arquictectos, etc. Enquanto que, assim, hoje temos várias centenas deles todos, mas quando se avaria o pontão para a Catembe... temos que contratar sul-africanos para o virem reparar – senti-me tão envergonhado. Um simples pontão!
Não era melhor ter formado até agora só 50 engenheiros capazes de reparar (pelo menos) pontões do que formar 100, 150, 300, mas que nenhum deles é capaz de reparar, pelo menos, um pontão?
Nota: O meu nome não é Zacarias. É AZARIAS. Pelo menos o meu nome, estou a pedir…
Obadias Azarias
Que futuro?
Azarias,
Desculpe por ter escrito mal o teu nome. Nao vais pensar que e por ter estudado numa dessas escolas? (risos)
Olha, como viste, concordo consigo em algumas partes. Mas ai esta o dilema. Coloque-se no lugar do MINED ou MEC e faca as seguintes escolhas: Nao tens dinheiro, mas tens, anulamente, 1 milhao de criancas com 6 anos para irem a escola. O que farias?
Porque terá de ser a ONG a reabilitar a escola?
A aposta do governo deveria de ser na construcao de mais escolas, só desta forma nos poderemos libertar da ignorancia e do analfabetismo, e desta forma nos tornarmos auto-suficientes.
Os Pais tem o dever de ajudar os filhos nos trabalhos escolares, mesmo que eles proprios sejam analfabetos, devem verificar que os filhos fazem os deveres todos os dias. Nao e so mandar os filhos para a escola, esperando que os professores facam milagres, em salas de aulas com mais de 50 alunos...
Eu tive de ajudar um dos meus filhos que tinha um problema de aprendizagem, se nao teria de ir para uma escola especial. Fui eu propria aprender com os especialistas, como poderia ajuda-lo, especialmente numa lingua que eu nao dominava, a terapia durou 2 anos, mas consegui. Hoje, e uma crianca feliz e com notas acima da media.
Tive de fazer uma opcao: ou o ajudava na altura e ele tornar-se-ia uma crianca independente e auto-suficiente no seu futuro, ou seria uma crianca frustrada e dependente para toda a vida. Apesar de ter 6 filhos, abandonei a minha carreira por 2 anos, embora fizesse alguns trabalhos de freelancer para ajudar nas despesas da casa.
Maria Helena
Futuro Melhor!
A Frelimo é que fez a Frelimo é que faz!
Nao passa tanto tempo que as escolas da Munhuana e do Alto-Mae estavam em condicoes identicas...
E quisermos dissertar um pouco mais, a propria UEM tem algumas faculdades a leccionarem assim nos anfiteatros.
Nas engenharias, ja foi tradicao nos longinquos 1990, sob a batuta do famoso "teacher" Ratxide Ackyamungo Gogo!
Professor,
Eh realmente frustrante ver as criancas sentarem no chao, quando o pais eh rico em madeira e recursos florestais...quem realmente se beneficia da exploracao dos 'nossos' recursos naturais?
Lopes
Teo Mambo
Tens dois terrenos, e água que só chega para sustentar a cultura de milho de 1 deles. Mas tens pessoas para comerem o milho dos dois terrenos. Se usares a água num só dos terrenos, esse terreno irá produzir milho suficiente para alimentar bem apenas metade dessas pessoas. Que, assim fortalecidas, serão capazes de produzir mais milho na campanha seguinte. Mas, em vez disso, podes distribuir a água pelos dois terrenos - e, como ela não chega, nenhum dos terrenos produzirá milho nenhum, e no ano seguinte, todos fracos, ninguém será capaz de produzir milho nenhum - mesmo que haja água para ambos os terrenos.
Como dizia o nosso velho Samora, "A Vitória prepara-se, a vitória organiza-se". Era sobre questões como esta que ele falava.
Não há uma escolha, aqui. É falsa essa escolha entre fazer escolas assim e não fazer escolas, porque estas, assim, não são escolas. São currais! Não ensinam nem educam. Maltratam e distorcem
É melhor ser um analfabeto são e livre, do que um escolarizado ignorante, com a espinha torta, tratado com métodos agressivos e autoritários.Oprimido e estupidificado.
Obadias Azarias
Concordo com Teo Mambo. Sou da opinião que não deviamos criticar a massificacão do ensino mas as condicões das escolas, o sistema ensino-aprendizagem que não devem se manter no estado em que se encontram.
As Metas de Desenvolvimento do Milénio são excelentes. Nem que seja debaixo das árvores a educacão tem que comecar para todas as criancas... A maior parte de nós passou por piores condicões, incluindo aqueles que em 1975 sabiam ler e escrever ou estavam no ensino secundário...
Sou da opinião que discutamos sobre o investimento do Estado na Educacão. Vem aí o OGE, tenhamos atencao em ver qual a percentagem que vai para o sector de educacão...
Volto
Abraco
Sei, fortemente sabido, adquirido, que quando há bons projectos NUNCA falta dinheiro.
Dinheiro é o que mais há no mundo.
Quando há bons projectos (bem pensados, estruturados, passiveis de boa execução, mormente/principalmente a financeira,...)o dinheiro aparece.
É uma questão de políticas, e prioridaddes.
Simples.
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