26 abril 2010

Assassinado director das Alfândegas

Foi esta noite assassinado na cidade de Maputo, cerca das 19 horas, com um tiro na cabeça, o jovem director Orlando José (na imagem à direita), da auditoria das Alfândegas de Moçambique, três horas depois de ter surgido na televisão a falar da apreensão de três viaturas de luxo - acaba de noticiar a estação televisiva STV.
Adenda: esta deve ser uma resposta dos sindicatos do crime a quem é honesto.
Adenda 2 às 20:47: um ex-formador do director assassinado, disse-me que Orlando José era um homem frontal e honesto.
Adenda 3 às 21:09: sinto que temos de analisar o tipo de sociedade em curso e a apologia desenfreada de certos valores.
Adenda 4 às 21:28: regressam-me à memória os sombrios dias dos assassinatos de Carlos Cardoso e Siba-Siba Macuácua.
Adenda 5 às 6:57 de 27/04/2010: actualize-se aqui.

23 comentários:

Carlitos Cadangue disse...

Julgo tratar-se de ajuste de contas. Neste mundo ninguem gosta de quem é "frontal". Pra já que se investiguem bem os proprietários das 3 viaturas luxuosas: Range Rover, BMW e Mercedes que o finado acabava de anunciar que circulavam com matrículas "bonecos". Nao acham, caros leitores deste blogue?

Mausse disse...

Triste,
Prof
Para além da aprensao das viaturas existe tb um artigo que fala da aprensao de 400 mil dolares dum cidadao libanes em Manica em operacao coordenada pelo falecido.

Pelos visto quem cumpre a lei tem de estar consiente de que pode pagar com propria vida.

e assim vai o nosso Mocambique.

Anónimo disse...

Se ja assassinam figuras de altas patentes por abrirem a boca, imagina nós, simples cidadaos. É no que dá tentar tornar a sociedade mas justa. E o cidadao pacato, q nao sabe matar só pode continuar a pagar seus impostos de bico calado.

E os criminosos continuaram impunes...

Que me perdoem o prof e os demais leitores, mas desta vez vou postar como anonimo...pelas razoes obvias

Reflectindo disse...

Isto está mau compatriotas!

Recordemos disto aqui!

ricardo disse...

Pois e Professor Serra. O nosso affirmative action tem muitas nuances destas. Uma delas e nunca termos a certeza que aquilo que nos mandam fazer e efectivamente uma ordem superior ou o caminho para o nosso cadafalso...

Ja noutro dia, aquando da apreensao dos 400 mil dolares em Machipanda, eu me interroguei porque cargas de agua autorizaram aquele jovem quadro das Alfandegas a falar a imprensa, quando ha quem tenha essa funcao na AT. Porque temia o que viria acontecer hoje.

A questao que subjaz e saber o que e, uma vez mais, que este Governo vai fazer para responder a tao hediondo acto. Pela amostra da PIC, possivelmente nada. Conversa, conversa, conversa e mais conversa.

Mas se depender da AT unicamente, a resposta nao se fara esperar e sera firme.

Ha sempre um dia em que a gente se farta de certas coisas...

Aguardemos

Reflectindo disse...

Espero que não venham concidadãos meus a escrever que calhou que o assassinado é director das Alfândegas.

Repito a minha pergunta sobre o porquê durante a campanha eleitoral e poucos meses antes não houve coisas horríveis destas.

Questiono o que realmente o SISE está a fazer, atendendo que nos últimos anos tem recebido uma boa fatia do bolo (OGE).

Questiono se é que realmente não se conhecem os donos dos criminosos, aqueles que quando querem dão férias de luxo a Anibalzinho.

Não podemos ter um país onde cidadão honestos têm medo assumir tarefas de relevo.

Será chega com as nossas lamentacoes?

ricardo disse...

E uma questao pertinente Reflectindo. Se eu te disser que vi muito desse lumpen nas brigadas de choque de um determinado partido politico em Outubro de 2009, acreditavas?

Outra. Porque e que sempre em vesperas da Quadra Festiva a taxa de evasoes das nossas penitenciarias aumenta vertiginosamente, mas quase ninguem e assaltado?

Ha coisas que ja nao vale a pena questionar. Para bom entendedor, meia evidencia basta.

V. Dias disse...

Lamento.

Criou-me arrepios.

Num Estado de direito como é o nosso pode falhar tudo, menos a justiça.

Desculpem-me, mas não concordo com a maioria do que se disse aqui.

Mais uma vez a minha experiência é chamada a dizer que não é bom que se faça especulações antes que se dispare para especulações que muita das vezes ou atrapalha o trabalho da polícia ou fere com a família da vítima.

Portanto, entenda-se como quiser, a opinião do professor é a mais cauta: " um ex-formador do director assassinado, disse-me que Orlando José era um homem frontal e honesto."

Haja justiça!

ricardo disse...

Na tristeza, ler e o melhor remedio...

"...A Colonia Penal ( Franz Kafka)

O livro faz uma análise crítica sobre o instituto da pena, analisando os seus limites, a impropriedade das penas baseadas em castigos corporais e ilustra com clareza e precisão a barbárie que constituíam as técnicas medievais na aplicação desses castigos punitivos.
Narra a história de um explorador que, durante visita a uma colonia francesa, presencia o sistema empregado na execução de um soldado acusado de insubordinação. O sistema que o condenou está baseado numa doutrina jurídica arbitrária, em que o acusado não tem direito à defesa. Quem administra essa "justiça maquinal" é um instrumento de tortura que escreve lentamente sobre a pele, no corpo do condenado, com agulhas feitas de vidro, a sentença do crime que, muitas vezes, ele mesmo não sabe que cometeu.
A colonia penal é também uma crítica à exaltação das máquinas e dos mecanismos usados com intuitos cruéis. O Oficial, personagem do livro, que é a favor do uso da Máquina de tortura para executar sentenças, fala desta como se tratasse de um "deus". Ele adora-a como tal.
O funcionamento da máquina se justifica, na voz dos seus utilizadores, por ser uma máquina infalível, portanto seu julgamento nunca pode ser contestado. O livro é uma crítica aberta aos estados despóticos nos quais o processo judicial e o direito de liberdade não são respeitados e a todas formas de tortura.
Todo o livro gira em torno desta máquina. Observamos o descaso do oficial para com o Condenado - que, como já foi dito, não sabe o porquê de estar ali, nem sabe que foi acusado - e vemos o cuidado e a perícia com o aparelho de tortura e usado para torturar e matar.
Franz Kafka é o grande nome da literatura moderna de lingua alemã e esse livro é uma bela crítica à essa nova sociedade que usa os modernismos em prol de uma verdadeira desumanização do Homem..."

ler aqui: http://manybooks.net/titles/kafkafraother05penal_colony.html

Ou se puder, leia o original (em alemao):
http://manybooks.net/titles/kafkafra2579125791-8.html

Anónimo disse...

Uma notícia muito triste esta.

Numa democracia , deve haver responsabilidade e consequência política pelo cometimento de tais actos. Espero que Mocambique não seja uma excepcão.

AAS

Uqueio, Dionerio disse...

Questiono eu; quando é que vamos aceitar neste país pessoas dispostas a combater a corrupção, o crime organizado, onde está a policia? onde está o sise? para quê são pagas essas pessoas? que juraram servir o povo e assistem coisas do genero a acontecerem! Ele foi morto porque liderou a operação que culminou com a apreensão dos 400 mil USD, e por ter denunciado que três viaturas luxosas tinham entrado no país sem o pagamento das respectivas obrigações fiscais, que pena o páis que temos. Siba Siba, Carlos Cardoso e Orlando José mortos pela verdade.

Linette Olofsson disse...

Grande tristeza pela perca desta vida humana!
Perdermos um quadro Nacional com extremas capacidades e bem formado!
Pena para este jovem!
Faz-me recordar as palavras do Juíz Dimas Marroa no final do julgamento dos aeroportos de Moaçmbique...que nos impressionou bastante.

Há semanas, fui tratar de um assunto na Direcção Geral das Afandegas, fiquei impressionada com o atendimento profissionalizado desde os serviço básico até ao topo.
Espantou-me a prontidão,delicadeza entre outros bons sinais que esta instituição esta a transmitir aos cidadãos mais simples...

Recordei-me de que, foi um esforço conjunto entre o governo Moz e os britanicos, penso que este quadro Nacional era o produto dessa formação.

O Carlistos bem o disse, e eu fi-lo muitas vezes neste e em outros foruns de que, as pessoas honestas, frontais não tem espeaço neste País, isso passa-se em quase todas as organizações.

Demonstração clara que o sindicato do crime continua bem organizado, e manda neste País.
As viaturas apreendidas não pertença de quaisquer cidadãos!

É também mais uma demonstração da queda dos valores morais na sociedade.

A este propósito, Ciencias sociais e verdade é um bom tema de reflecção Professor!

Chacate Joaquim disse...

Prof. Serra,

A maioria dos agentes das alfândegas são cumplices de contrabando que envolve chantages emocionais e ajuste de contas. nas fronteiras, como nas básculas há gente autorizada a praticar actos de contrabando,livre transito sem pesagem nas básculas sem que os bons ofícios de oficiais honestos se faça sentir, já houve auditoria nos Transportes Lalgy, na Cayum e tantos outrosque pagam impostos em jeito de responsabilidade social? Comprando canetas numa leiloada simulada!

As big houses que andão no belo horizonte, Malhampswene, tchumeni etc na sua maioria são de oficiais "honestos" das alfândegas em alguns casos de agentes da PIC e negociantes livres e autorizados ou protegidos!

Portanto, sugiro um trabalho ciêntífico para percebermos a metamorfose das mortes na PIC, agora nas alfândegas, de modo a apurarmos até quando os nossos agentes são honestos.

Estas mortes semeiam dor antecedida de esclusão a que a maioria da sociedade é submetida pelos detentores de autoridade e poder. Por que as pessoas recorrem ao assassinatos para responderem a acção coersiva do Estado (aprovada por todos nós)? Será a imunidade de alguns um motivo de revolta para estes compariotas assassinos?

A experiência mostra que, onde há equidade há pouca revolta, há pouco crime e a justiça é efectiva.

Paz à alma do director e a justiça seja feita.

Gata disse...

Chocante! Hoje mata-se um ser humano mais facilmente do que se matava galinhas em casa dos meus pais. Triste!

Abdul Karim disse...

Eu concordo com Ricardo e Viriato,

Vamos deixar o AT e a Policia fazer o seu trabalho,

Jutica para todos.

Reflectindo disse...

Abdul Karim e Viriato

Desto a expressão "vamos deixar bla bla fazer o seu trabalho". Isso é recomendacão ao conformismo, ao comodismo, ao DEIXA A ANDAR.

Nenhuma polícia, nenhum governo, nenhuma autoridade fará o seu trabalho com cidadãos conformados.

Nós temos que debater estes problemas, usando o nosso direito constitucional, os nossos conhecimentos teóricos e práticos.
Temos que pressionar as autoridades para fazer o seu trabalho.

Já foram muitos os que morreram em circunstâncias iguais. De Pemba a Maputo, aconteceram muitas coisas nos últimos 15 anos e pouco foi o resultado do trabalho da polícia, da Justica. É o Estado Mocambicano que está capturado pelos criminosos, companheiro/s!!! Nós temos que lutar duramente para libertarmos o nosso Estado.

Ricardo e Chacate, parabéns pelos pontos de reflexão. Também os outros.

Anónimo disse...

Caro Professor, esta canção diz tudo:
Vampiros: Zeca Afonso

''No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas Pela noite calada
Vêm em bandos Com pés veludo
Chupar o sangue Fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [Bis]

A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas

São os mordomos Do universo todo
Senhores à força Mandadores sem lei
Enchem as tulhas Bebem vinho novo
Dançam a ronda No pinhal do rei

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos Na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota O sangue da manada

Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam''

nadahttp://letras.terra.com.br/jose-afonso/67167/

V. Dias disse...

Reflectindo,

Não é bem assim. Certos comentários só atrapanham as investigações. E mais: são um "atentado" à família da vítima. É peciso dar tempo ao tempo, e sobretudo, um voto de confiança ao trabalho da polícia.

Lembre-se que estamos num teatro onde não há camarotes, nem telespetadores, todos participamos.

Não é momento para atirar pedras ou acusar a quem quer que seja, até que a polícia nos traga informações concretas.

Se é mais um caso igual ao do Siba Siba, pode até ser mas não há mentira que dure ara sempre. Carlos Cruz já dizia, "a mentira pode durar mil anos, mas a vedade apanha-a num dia".

É trabalho da polícia investigar. Podemos opinar em função dos trabalhos da polícia, mas não sermos nós os investigadores.

Certos comentários até parecem vir de profetas, disparam a torta e a direita sem conhecer os contornos da situação, ou seja, sem dados plausíveis.

Querem debitar a todo o custo uma opinião. São testemunhas? Não, apenas movido pelo desejo de comentar acusando. Não é que Fijamo tinha razão. O Homem é um bicho complicado.

Zicomo

Abdul Karim disse...

"a mentira pode durar mil anos, a verdade apanha-a num dia."

'E desse dia de Verdade que estou 'a espera.

Sinto o dia perto, acredito que vira,

Tenho fe, ainda que nao tenha mil anos para esperar,

Esperarei pela Verdade ate ao ultimo dos meus dias.

A Verdade tem que aparecer, e Iluminar-nos rumo a uma vida condigna, licita, e honesta.

Jamais vao vencer os mentirosos, ainda que repitam mil anos a mentira,

O dia da Verdade vira concerteza.

Linette Olofsson disse...

Abdul Karim!

A verdade vence sempre sozinha.
A mentira precisa de um cumplice!

As puras verdades precisam sempre de corajosos que as expressam!

Quando se trata de seres Humanos, não há garantias!

Reflectindo disse...

Viriato

Aqui não vejo nenhum comentário que esteja a substituir o trabalho da polícia e muito menos que lhe atrapalhe. Ninguém está intervir no trabalho da polícia, e, não cabe a nós a investigacão, mas nós temos o direito de manifestar a nossa indignação não apenas contra o assassinato de Orlando José, mas contra o crime organizado.

O que está escrito aqui são pontos de reflexão e para tal parte-se de muitos casos que por sinal essa polícia ainda não deu resposta. Ou será que ainda ela não trabalhou?

Já leste e bem o paper apresentado pelo nosso Procurador Geral da República, em 2003 em Coimbra?

O caso não diz respeito apenas à família do malogrado, pois não se trata de um assunto de uma pessoa privada. São tantos os que morreram ontem e não foram objecto de notícias. Mas mesmo se fosse uma pessoa privada, dependendo das circunstância em que morreu, levantaria um debate público e reflexões profundas sobre a SOCIEDADE MOÇAMBICANA, sobre aspectos de segurança.

Veja meu amigo, este assassinato vai reunir (se é que não reuniu ainda) muitos analistas para debatê-lo e tenho certeza que o Prof Serra está a preparar-se para isso. E nós aqui estamos também reunidos para analisar sobre o crime organizado em Moçambique. Note que é assim como a Rádio Moçambique intitulou o assassinato do Orlando José. De facto, não precisamos de esperar que a polícia nos diga que isto se trata de uma acção do crime organizado.

Na minha opinião, o tipo do teu apelo, pode ser dado pela POLÍCIA e os GOVERNANTES dão e isso compreende-se, pois entre outras coisas, esse é uma das maneiras de sair da culpabilidade, também uma forma de prometer nem que seja em vão.

Um abraço

Abdul Karim disse...

Minha Querida Linette,

Nao se precisa de garantias,

Precisa-se da Verdade,

As imperfeicoes do ser Humano, nao podem ser tais que nos tornemos em desumanos ou animais selvagens.

V. Dias disse...

Reflectindo,

Gostei da última parte do teu comentário. Agora, quanto ao resto, basta fazeres uma análise cuidadosa dos comentários aqui depositados. Zás.

Chamuale, muita das vezes somos engandos pela emoção em debitar comentários à prior sem saber muito bem o que dizer, vale, para essas pessoas, o debito dos comentários. Quando tempo depois vem a se descobrir que afinal as coisas não eram bem assim, fintam, desaparecem, tornam-se fusíveis queimados. Tive muitos casos desses em Nampula e Maputo. Viu o primeiro comentário de Chissano sobre a detenção de Manhenje? Que leitura faz / fez? Bem, este é outro assunto.

Estamos há 50 dias do mundial, e não é bom, na minha opinião, que se transmita pesar nas pessoas que queiram visitar o país. Houve um assassinato, claro, mas não podemos fazer disso um pretexto para o país acabar. Gostaria que futuros comentários fossem no sentido de dar forças a polícia e não o inverso. Só isso.

Zicomo