02 abril 2009

Os Bismarcks não são moçambicanos

E, assim, vamos ampliando a nossa alma exportadora, o nosso coração matéria-primal. Exportamos e exportaremos (melhor: fazem-nos exportar), em parcerias assentes, do nosso lado, em réditos fiscais, mordomias redentoras e modestos salários pagos aos trabalhadores. Não se vislumbra qualquer intenção de favorecer a burguesia nacional, de a estimular, de a levar à industrialização, de a proteger. Decididamente os Bismarcks não são moçambicanos. Parecemos ser definitivamente recolectores, recolhemos impostos e mordomias, construímos as estradas e as pontes para o que vamos exportar. A mentalidade produtora e transformadora, essa fica com os outros. Os nossos genes são feitos de circulação, não de produção industrial endógena. Mas para não perdermos muito a nossa auto-estima - deixem-me usar o guebuziano termo da moda -, cá temos o capitalismo comercial do ou-vai-ou-racha do chapa 100, do dumba nengue, do import-export de Xiquelene. E os camarões e as amêijoas e os carangueijos e os leões e os búfalos para turistas que podem pagar pacotes de cinco mil dólares deliciados com o exótico africano. E no que ao conforto toca, sentamo-nos nos sofás que importamos depois de termos desalmadamente exportado a nossa rica madeira. E se não podemos sentar-nos nos sofás, sentamo-nos no senta-abaixo bebendo cerveja produzida por capitalistas estrangeiros orgulhosos do selo "made in Mozambique".
Passamos horas em workshops (esquecemos até o termo seminários), criamos mestrados por atacado para formação em economia, convidamos excelsas cabeças pensantes para nos ensinarem como se fazem negócios, convidamos todos e sobretodos para virem investir no nosso país, estabelecemos parcerias inteligentes não importa com quem.
Mas algum dia se fez neste país um workshop a sério, prolongado, sobre como erguer e ajudar a manter a indústria moçambicana? Sobre como proteger a nossa burguesia? Sobre como financiar os nossos empresários, não os empresários com mentalidade chapa 100, mas os empresários que queiram investir na produção a sério? Sobre como assegurar facilidades bancárias e juros preferenciais? Sobre como travar o acesso dos produtos estrangeiros que fazem colapsar os nossos? Sobre como sermos um Estado forte ao serviço de uma indústria forte, genuinamente moçambicana?
Não: não fizemos, nem fazemos. Por quê? Porque estamos a juzante, porque somos matéria-primados, orgulhosos por exportamos o que os outros transformam para seu benefício. Não é a amêijoa saborosa? Não está o camarão produzido pela natureza? E não é carvão definitivamente carvão? E que importa se dentro de 35 anos apenas restar o choro final dos embondeiros da minha terra, se, entretanto, não tiverem dado cabo deles (consta-me que os abatem)?

4 comentários:

umBhalane disse...

"Sobre como proteger a nossa burguesia?"

Confesso que posso estar desactualizado.

Baralhado.

Afinal existe uma burguesia para além da burguesia Frelimo!

Mesmo, mesmo, fora do guarda-chuva da Frelimo!

Quem me pode esclarecer, por favor.

Anónimo disse...

o professor podia avancar ideias sobre como se asseguram creditos com juros bonificados. Ou como se limita o acesso ao nosso mercado de produtos estrangeiros. Nao espere pelos seminarios.
Cumprimentos. Salimo Remane

Anónimo disse...

ver sobre o assunto savana pag 7 desta semana

T.B.

Anónimo disse...

Cuidado com a inspecção de trabalho que anda muito activa por Moatize e sobretudo nas minas. Ha já tres semanas encerrou uma mina só por que os donos não comem com ninguém.
Anda lá um inspector chamado geremias que mais não parece um líder sindical.
A ver vamos, se os tais inspecções encomendadas de longe, só por que querem retirar a licença a uns para beneficiar a outros, espreitarão os campos da Vale e de outros investidores.
Neste país tudo se resume a quotas sociais e compra de contratos de exploração. O resto é resto.