26 junho 2016

Guerra e hermenêutica das valas comuns em Moçambique [13]

Número anterior aqui. Prossigo no quarto ponto do sumário [recorde-o aqui], a saber: 4. Espectáculo viral das fotos. Escrevi no número anterior que bem mais forte e viral foi o efeito das fotos de choque, das fotos do horror da morte. E acrescentei que podíamos considerar dois tipos de fotos: as fotos atribuídas à vala comum de Sofala e as fotos atribuídas aos corpos a céu aberto. A publicação em Abril pela agência "Lusa" de uma notícia dando conta da descoberta [não comprovada até agora] de uma vala comum com cerca de 120 corpos em Sofala, deu origem, rapidamente, ao surgimento de falsas e chocantes fotos - sem nenhuma relação com Moçambique - em vários quadrantes da internet. Por exemplo: este blogue [seria possível citar outros blogues do género copia/cola/mexerica] recorreu ao recorte de uma foto das Filipinas para ilustrar a notícia dos 120 corpos, confira aquiaqui e aqui:
Um blogue, creio que guineense, ostenta a foto abaixo:
Um terceiro portal não ficou atrás [confira também aqui] e fez uso da sofisticada foto abaixo, que nada tem a ver com Moçambique:
Um quarto portal decidiu juntar à notícia dos 120 corpos o que chamou "foto de arquivo", como segue:
Para ilustrar a notícia dos 120 corpos, os autores de um quinto portal encontraram na internet a "foto de arquivo" com os ossos que consideraram adequados, como segue:
Finalmente, prestem agora atenção à foto [creio ser sul-americana] que se segue, colocada num portal cujo autor escreveu ser "um jovem estudante, blogueiro e amante da internet": 
Observação amena: os utilizadores das fotos em epigrafe, cada um à sua maneira, certamente tiveram em vista fazer uma introdução ao escândalo do horror. Para citar Roland Barthes: "A fotografia literal é uma introdução ao escândalo do horror, não ao próprio horror" [Fotos de choque, in Mitologias. Lisboa; Edições 70, 1973, p.140]

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