08 janeiro 2014

Sobre apelos

Em certas circunstâncias dramáticas (ameaça de cheias, por exemplo), surgem no nosso país dirigentes zelosos apelando às "populações" para deixarem as zonas de risco. Primeiro do que tudo, há este fascínio permanente pelos conjuntos sociais amorfos do tipo "populações"; depois, o problema de saber quem é que, em áreas de vida difícil, tem o divino prazer e o poder de saber (e de escutar) que, a certa hora, em certa rádio, a alta "estrutura" fala para os residentes locais que não têm casas de alvenaria, energia eléctrica, água potabilizada, etc.

2 comentários:

Salvador Langa disse...

Ouvi na Rádio Moçambique, outros apelos irão surgir, há sempre quem acredite que os chefes mais acima os ouvem.

nachingweya disse...

Depois o rescaldo da calamidade ocorrida no Zumbo é analisada nas reluzentes salas de conferencia do Hotel Polana em power points cheios de enfeites a falar deles, as populações.
No ano 2000 muitos, mas muitos chefes mesmos alugaram helicopteros para sobrevoar as zonas inundadas de Gaza e Maputo com máquinas de filmar a tiracolo como fazem os turistas. Em lugar de se gastarem esses recursos para actualização de informação geografica, mapeamento das zonas de risco e formação das lideranças locais.
Há 3 ou 4 anos ouvi o então Ministro da Administração Interna a falar na radio das casas de reassentamento construidas em Caia dizendo que o projecto estava concluido em 90 e muitos porcento, que era um sucesso espectacular, etc.... Na ocasião um ouvinte ligou para o programa e disse estar a falar da aldeia x onde nenhuma das casa de reassentamento ultrapassara a altura da janela, que nenhuma estava terminada. Aí o sr Ministro convidou o ouvinte a deslocar-se a aldeia y para ir ver se não havia lá casas concluidas. Cadê sensatez?