14 janeiro 2014

Estatística

Como nasce a estatística, em que contexto social? Nasce, exactamente, com as cidades europeias cheias de operários reivindicando melhores condições de vida. O objectivo último é o de domesticar a ordem social nascente, de controlar a mudança social, de vigiar os operários, de domar as “classes perigosas”, expressão cunhada entre os séculos XVIII e XIX. Casando-se intimamente com a sociologia e com as preocupações das burguesias nacionais europeias, a estatística cumpre o seu papel de parteira científica da ordem pública. Com efeito, especialmente no século XIX, os inquéritos aos “pobres” multiplicam-se. Tudo se pretende saber deles: o que comem, o que bebem (especialmente o que e quanto bebem), o que fazem, como se divertem, quais os seus hábitos sexuais, etc. E o momento nuclear aqui é a estatística criminal. Mais tarde, em 1925, nos Estados Unidos, lá onde a estatística se tornou quase, em certas correntes sociológicas, a sociologia por excelência, Park e Burgess, na sua "Introdução à ciência da sociologia", escreveram: “Todos os problemas sociais são problemas de controlo social”. Também não é por acaso que, nos caminhos destinados ao controlo social, surja, já no século XVIII, o tema do “desvio social, enquanto Lombroso funda no século XIX a criminologia e define o criminoso como um indivíduo que “reproduz os instintos ferozes da humanidade primitiva e dos animais inferiores”.