Nono número da série. Ainda na segunda questão, agora com o terceiro respondente, a saber:
Carlos Serra: Terão os espaços livres influência no desenvolvimento das capacidades físicas e lúdicas das crianças e dos jovens?
Mabel Serra (mestrada em Desporto para Crianças e Jovens): Posso afirmar que sem espaços e materiais não é possível garantir um desenvolvimento motor adequado. É através do movimento que a criança estabelece um conjunto de relações - com o seu próprio corpo, com os objetos (em deslocamento ou não), com o espaço (necessário em todos os tipos de relação) e ou não em cooperação com o outro – relações necessárias ao seu desenvolvimento motor (fundamental para a vida, afinal o corpo é o “passaporte para a vida” e para o desporto que deve fazer parte da vida de todos e na sua expressão maior de alguns dos quais esperamos alegrias). Mas onde estão os espaços onde esse corpo se constrói?! Num passado muito recente podíamos ver crianças ou jovens aproveitando espaços baldios, passeios e até ruas com pouco tráfego para brincarem. Hoje não restam espaços baldios, as viaturas e vendedores ocuparam os passeios e as ruas, mais parecendo rios tão intenso é o tráfego, não mais terão o prazer de por momentos se transformarem em campos futebol. Ontem a criança fabricava a sua bola e usava-a sonhando ser campeão; hoje a bola está à venda nas lojas e fora delas, mas onde vai usá-la? Com quem vai partilhá-la? Não admira que hoje o jogo seja virtual! Preparemo-nos para as consequências disso… a factura será alta! As crianças já têm bolas mas deixaram de ter espaço para a atividade física espontânea ou do tempo livre. Será que a escola cobre a necessidade desses corpos em crescimento levando-os a um nível de desenvolvimento motor adequado? Algumas crianças nem espaços têm e a maioria se os tem encontram-se em estado de degradação. Nas escolas do ensino primário é difícil encontrar um professor que respeite a hora de educação física e se esporadicamente realiza a aula a qualidade é questionável… Haverá excepções mas isso não altera muito o cenário. E é nas escolas onde as bases para o desporto devem ser garantidas…A encerrar, ousaria dizer que caminhamos para o analfabetismo do corpo… Motivo desta série aqui, cartun reproduzido daqui.
(continua)
1 comentário:
Analfabetismo do corpo - precisamos dizer mais?
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