Em 1974/1975, cidade da Beira, estudante universitário e jornalista que era, decidi também tornar-me professor. Inscrevi-me no Liceu Pero de Anaia, tive o privilégio de ser aceite como professor eventual. Comecei, então, a subversão nas aulas: leccionar história de África e de Moçambique em lugar da história dos programas coloniais. Isso aconteceu nos antigos sextos, quintos e terceiros anos, especialmente nos quintos anos, cheguei a dar 48 horas de aulas semanais, de manhã, de tarde e à noite. Comprava na pequena livraria das Paulistas (ali onde funcionava a gráfica do antigo Diário de Moçambique, na rua onde morou o jornalista e poeta Heliodoro Baptista) montes de livros em francês (em especial da Présence Africaine), que lia sofregamente e cuja notícia fui dando e praticando, com estudantes entusiasmados por conhecer o que não conheciam. Dezenas de trabalhos de pesquisa foram realizados pelos estudantes (em trabalho de campo e na biblioteca municipal de então), muitos deles de grande valor, trabalhos que estavam guardados na direcção do liceu. Desse já distante tempo guardo a memória saudosa desses estudantes que tive na delicada fase de transição política do país, estudantes que souberam respeitar a história do nosso continente. Se a história se repetisse, eu procederia da mesma forma.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
4 comentários:
Grande coral este diario cada dia a surpreender.Bravo bravo bravo bravo. Mxango
Eu fui estudante desse tempo e lugar, na transição entre o Liceu Pero de Anaia e o Liceu Nacional da Beira.
Não fui aluno do Professor mas tenho amigos que foram. Confirmo o entusiasmo do Professor. Chegava ao ponto ,com recursos próprios e ajuda de outros professores (Lembro-me do envolvimento do Professor José de Matos Neves)organizar viagens de estudo por exemplo, às pinturas rupestres de Manica. Creio que o Professor conduzia na altura um VWfusca e professor Matos Neves um Land Rover dos curtinhos...
Era, sim ,contagiante a sua sede por saber e partilhar.
Parabenizo pela qualidade deste post. Muito mesmo.
Aleluia! Força África! Força Professor e Alunos e todo o Povo!
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