30 maio 2012

Meca do safari e do mergulho

Herdámos, alguns de nós, a convicção colonial de que os Africanos não têm história, de que são mera modalidade de natureza, exercício de tradições imutáveis.
Quanto mais o grande Capital internacional explorar as nossas riquezas e nós nos empenharmos no fomento do turismo, mais robusta será a associação naturalizada entre pessoas, bichos e natureza.
Percurso que operará na glorificação folclórica das tradições, tidas por eternas, perversamente evacuadas de tudo o que é história, mutação e futuro.
Percurso que terá ainda pé sólido na glorificação da fauna, do mundo fabuloso dos animais, dos leões, dos peixes, dos hipopótamos, etc.
Receio que o nosso destino seja o de um lugar elitário, um céu na terra, um “bush and beach” paradisíaco, uma “meca do safari e do mergulho” como, por exemplo, escrevia o Washington Post em 2008.

3 comentários:

nachingweya disse...

O que mais perturba é que isto até seja um dos paradigmas de desenvolvimento a nível de governação.
Somos reserva de matérias primas, mercado de quinquilharias e bens usados e ainda "a meca do safari e do mergulho"!
Dizia-me ontem, pelos lados de Goba, um velho local que se exprime mais facilmente em inglês que português:" you must accept slavery before you can stand by yourself", a proposito dos agricultores boer que, literalmente, estão a tomar a albufeira dos Pequenos Libombos pela margem esquerda desde a barragem até a a vila de Goba, para produzir banana. A troco de um posto de saúde.Kilometros e Kilometros de terra irrigável a troco de um posto de saúde!
Todos os homens nascem livres? O velho, ontem, disse-me que não; que existe uma classe de escravatura voluntária a que não se pergunta se deseja ser livre. É o Neocolonialismo tal como concebido: fazer da Áfria fonte de matérias-primas e centro de consumo de produtos acabados.

Salvador Langa disse...

Quando mergulhamos nem sequer pensa mos no futuro.

Anónimo disse...

Mas, honestamente professor, temos mesmo algo para oferecer? Nem somos capazes de escrever a historia de Maputo, ou se somos, ninguem a compra... Já se for escrita por alguem la do norte ou com algumas origens do norte... ela é imediatamente aceite... O que mais temos para oferecer... E se for a ver quem oferece... entao cai de costas. Se fosse um Marrengula, Manhiça ou Murrirricho... Mas será um Smith, o Alves ou outro apelido... isso é triste, mas é a verdadeira realidade nacional... NB. Nao é uma critica, mas uma constatação minha. Pode estar errada!