02 junho 2011

Sobre crise (14)

"Onde a diferença falta, é a violência que ameaça" (René Girard, A violência e o sagrado)
Avanço um pouco mais nesta série, escrevendo sobre o sexto ponto do sumário que vos propus, a saber: três exemplos de imputação críseca em Moçambique.
Ainda sobre o primeiro exemplo de imputação críseca referente ao partido Frelimo. Escrevi no número anterior que membros séniores desse partido têm surgido a fazer uma crítica pública ao estado do país e ao sistema de governação. Esse tipo de atitude tem provocado dois tipos de reacções: a reacção exterior ao partido que, directa ou indirectamente, julga intuir uma crise em gestação e a reacção interior que, directa ou indirectamente também, critica os críticos, por vezes severamente, entendendo que a crítica deve ser exclusivamente feita no interior do partido.
Uns e outros vivem acantonados num mesmo princípio.
Que princípio? O sacrossanto e substancialista princípio da identidade absoluta: uma coisa só pode ser ela e não outra, a lógica formal em sua cristalina pureza, o pitagorismo no Uno indivisível. Uns pressagiam e desejam a crise, outros temem-na ou julgam-na impossível; os externos gostariam de ver a Frelimo em crise definitiva, os internos acham isso completamente antinatural. Em pedestais diferentes, os críticos externos e internos nadam, porém, no mesmo rio no qual a água é a crise, a concepção epidemiológica de crise, a crise como doença fatal.
Prossigo mais tarde.
(continua)

1 comentário:

Salvador Langa disse...

Pois é, membro de partido disciplinado deve apenas sonecar ou repetir o que os chefes dizem.