27 junho 2011

Mudar sem mudar (9)

Nono número da série. A matriz da luta antiracial consiste não em trabalhar sobre os mecanismos infra-estruturais do sistema social que produz e reproduz a visão racial, mas em defender a paridade das raças, em defender que as raças têm os mesmos direitos. Diferentes, mas iguais - para usar um cliché da moda. Nesta óptica, o problema não está na raça em si, mas na distribuição desigual de direitos raciaisContinuamos, também aqui, no campo das acções-aspirina de Paulo Freire. No próximo número procurarei explorar mais alguns aspectos deste delicado tema e mostrar como o antiracismo é, muitas vezes, um mero biombo do racismo, seja este ofensivo ou defensivo.
(continua)

3 comentários:

Salvador Langa disse...

http://www.brasilescola.com/educacao/sistema-cotas-racial.htm

Anónimo disse...

Professor, permita-me sugerir-lhe:

http://www.zwelangola.com/activismo/index-lr.php?id=6259

Anónimo disse...

por Sambo, o Negro Consciente

Não tenho a certeza de ter compreendido a posição do bloguista: concorda com esse sistema de cotas ou não? Inclino-me a pensar que não concorda, mas não tenho a certeza.

A minha opinião é que o sistema de cotas é o mecanismo que se encontrou para abordar a questão da ausência de negros em muitos aspectos de relevo da vida brasileira. Tenho acompanhado discussões sobre o assunto e sempre me fica a impressão que os que atacam as cotas na verdade pretendem a manutenção do status quo (e são, na maioria dos casos, brancos ou mestiços com mais auto-identificação com os brancos).

Os negros brasileiros, sobretudo grupos intelectuais, estão na origem das propostas feitas ao governo no sentido do estabelecimento do sistema de cotas para ajudar a integração efectiva destes nas Universidades e nos postos de trabalho melhor remunerados. Estes intelectuais certamente que estudaram o assunto sendo evidente que se inspiraram num sistema semelhante implementado nos EUA décadas atrás e que foi um dos mecanismos que ajudou, entre outras coisas, a consolidar o crescimento de uma classe profissional e académica negra nos EUA. Espera-se, portanto, que o sistema de cotas no Brasil surta efeitos semelhantes.

Só duas questões àqueles que se opõem ao sistema de cotas: se não concordam com este sistema, e reconhecem que os negros brasileiros são efectivamente discriminados, o que sugerem como alternativa para abordar EFECTIVAMENTE o problema? E se acham que não há problema de discriminação (= o Brasil é uma "democracia racial") então como explicam as disparidades sociais que esta sociedade apresenta (talvez os negros sejam mesmo inferiores ou então estão "contentes" no lugar que ocupam na sociedade)?

Gostava de estabelecer um paralelismo entre as várias situações de populações negras pelo mundo afora que, ou foram colonizadas ou foram discriminadas por grupos humanos de origem europeia. Em quase todos os casos onde houve uma mudança do status quo de discriminação racial tal resultou de ACÇÕES ENÉRGICAS para se superar a situação anterior. O último exemplo que conhecemos foi a agitação social violenta dos anos 60, 70 e 80 que desaguou no desmantelamento do sistema de Apartheid da África do Sul. No caso das antigas colónias portuguesas e da Rodésia do Sul houve inclusive uma acção armada da parte dos segregados.

Em face destes exemplos não me parece justo exigir que os negros brasileiros e os brancos que os querem ajudar (nos quais de inclui o actual governo brasileiro) fiquem de braços cruzados ao invés de fazer alguma coisa para mudar a situação. No fundo eles não desejam fazer revolução alguma, muito menos violenta. Só querem que os direitos de todos os cidadão sejam respeitados no quadro da presente estrutura social!

P.S.:
Os mecanismos sociais, como os que dão azo ao racismo e discriminação racial, não desaparecem por si mesmo, sem nenhuma acção humana consciente e deliberada.

Veja os links seguinte para reflexão:

http://efigenias.org/2010/10/01/mulher-negra/

http://www.amde.ufop.br/arquivos/educacao_para_diversidade/Curso/relacoesetnicas/RelacoesRaciais.pdf

http://www.aomestre.com.br/ent/e_kabengele.htm