04 setembro 2010

Que relação se pode estabelecer entre as manifestações e William Whyte?

Que relação se pode estabelecer entre as manifestações sociais, entre o novo sismo social ocorrido em Maputo, Matola e Chimoio (também o de 2008 foi largamente descrito e analisado neste diário) e o sociólogo americano William Foote Whyte? Parece uma pergunta bizarra, mas permitam-me dar-vos a conhecer esta posição de Whyte: "Um membro da classe média não verá nos quarteirões pobres senão uma confusão extrema, senão num caos total" - Whyte, William Foote, Street Corner Society, La structure sociale d´un quartier italo-américain. Paris: La Découverte/Poche, 2002, p. 36.
Adenda às 18:40: no blogue do Tony Manna: "(...) os tumultos acontecem por desespero e não por que se quer curtir uma de roubar, pilhar, ou vandalizar!!!"
Adenda 2 às 19:01: Ainda há hesitação, mas a diversão voltou, começou o descongestionamento da alma no cimento de Maputo. Restaurantes voltaram a povoar-se, viaturas de luxo começaram a fazer-se de novo à rua, chapas em movimento, ruas com alguma vida, o Palácio dos Casamentos teve povo, o Jardim dos Namorados regressou aos rituais casamenteiros. Este noite, mais tarde, a diversão nocturna estará activa. Lá longe fica a periferia dos indóceis (lembre Whyte), aparentemente apaziguada.

6 comentários:

ricardo disse...

Matematicamente falando, julgo que William Whyte e as nossas manifestações são directamente proporcionais.

Aliás, recordemos a canção de Max Gonzaga:

"Sou classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal
Sou classe média
Compro roupa e gasolina no cartão
Odeio “coletivos”
E vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um pacote cvc tri-anual
Mais eu “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com estado quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão
O pára-brisa ensaboado
É camelo, biju com bala
E as peripécias do artista malabarista do farol
Mas se o assalto é em moema
O assassinato é no “jardins”
A filha do executivo é estuprada até o fim
Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal
Porque eu não “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida"

Musica aqui:http://www.youtube.com/watch?v=KfTovA3qGCs&feature=player_embedded

Assim é, o nosso mundo.

Anónimo disse...

Entretanto, mais um SMS recebido de um misterioso número incompleto - 82488676:

"Moçambique, Mambas sigam em frente. Vamos chutar para fora a violência e o vandalismo. Precisamos de união para vencermos este jogo."

...

Como disse o Salazar: "O que nós queremos é futebol!"

ricardo disse...

A misturar a política com o desporto, ainda que via SMS, ainda nos vão fazer acreditar que os Mambas são da FRELIMO...

Ou será que já o são?!

La Strega disse...

Ameen para William Foote Whyte!

Abdul Karim disse...

Interessante as conclusoes da NU sobre a combate 'a pobreza, no Noticias de Hoje.

Se tudo feito ate agora esta errado,

O que esta certo entao ?

Interessante tambem sera estudar como esses erros todos cometidos ate Hoje, deverao ser corrigidos,

Espera-se grandes mudancas nos fluxos financeiros orientados para pobreza, e com certeza no comportamento de actuais orientadores dos mesmos fluxos, muito naturalmente, em relacao a pratica ate ao presente.

Unknown disse...

William White evidência a dicotomia da sociedade que estudou. uma dicotomia similar existe também em moçambique entre as Cidades de Ciemto e os Bairros periféricos em vários aspectos (urbanistíco, residêncial, serviços urbanos, nível de vida, etc...). esta dicotomia cada vez mais pronunciada cria um desequilibrio social que resultou nas manifestações violentas.
para manter a "paz" em situação desequilibradas existem duas soluções:
-vigilência policial ou
-políticas visando ao melhoramento das condições de vida dos mais pobres