05 julho 2010

Cientistas sociais são “sacerdotes”? (5)

Mais um pouco da série.
Cumpridos os ritos iniciáticos, percorrida a estrada de Damasco, ascendidos à maturidade institucional graças ao doutoramento (o PhD majestático dos cartões de visita), operando em estabelecimentos especiais, os cientistas dão então curso ao saber especial, ao saber afastado do saber comum das comunidades, das pessoas do dia-a-dia.
Nas salas de aula das universidades, nos seminários, nos congressos, através dos artigos de revistas e dos livros, os cientistas sociais produzem e retro-alimentam o sagrado mundo da ciência, com suas regras, seus códigos, seus símbolos, seus ritos, seus paradigmas, sua linguagem que pretendem desemocionalizada, suas críticas, suas numerosas guerras de poder, seus rodapés, sua revisão da literatura.
Mas não só: adquirem o hábito reificado de acreditar que as questões científicas nada têm a ver com as relações sociais nas quais estão inseridos, que essas questões nascem unicamente, por geração espontânea, na ciência e pela ciência. No mundo enfeitiçado da ciência, poucos são os que aceitam que ela é produto de determinadas relações sociais e de determinado modo de produção. Por isso, felizes em sua acreditada neutralidade - também ela enfeitiçada -, raramente se colocam estas duas perguntas: 1. Que tipo de sociedade queremos?; 2. De que tipo de ciências sociais precisamos?
(continua)

3 comentários:

Abdul Karim disse...

Arisco:

1- Precisamos de sociedade mais justa, com igualdade de opurtunidades para desenvolver talentos, com respeito pelo proximo, em busca dum maior equilibrio entre os esquecidos e os favorecidos.

2- Queremos ciencias sociais mais interventivas no dia-a-dia, que produzem solucoes para problemas sociais, principalmente pobreza.

Anónimo disse...

Excelente abordagem!

Como bem destaca, (...) "ao saber especial, ao saber afastado do saber comum das comunidades, das pessoas do dia-a-dia."

Eu diria: precisamos de "CIÊNCIA DE PROXIMIDADE"

Anónimo disse...

Caro prof. Carlos. Perfeita abordagem, à qual eu acrescentaria mais uma 'qualidade' desse suposto saber superior: a fogueira de vaidades que ele gera.

Meus cumprimentos,
Paulo; Brasil