04 fevereiro 2010

O transe nos Camarões (2)

Termino esta série.
O ano passado, o teólogo sociólogo camaronês Kamta criticou a proliferação das seitas salvacionistas no seu país.
A esse propósito, fez o seguinte enquadramento: desde 1980 que se vive em crise no país, há declínio económico devido a uma crise moral que, por sua vez, é resultado de uma crise espiritual que dá origem à crise económica, à crise financeira, à miséria e à pobreza. As pessoas procuram as soluções fáceis e imediatas, a cura, a segurança social, vão às igrejas, às seitas. Nos Camarões vive-se uma cultura de medo, medo da feitiçaria, medo dos maus espíritos, medo do mau olhado. Faz algum tempo que ocorre o fenómeno de transe nos estabelecimentos escolares, transe que é simplesmente a expressão do medo que as pessoas vivem todos os dias com a crise. A conferir no cameroun link, em francês, aqui. Caso queira ler em português, use este tradutor, aqui.
Adenda: seria interessante conhecer a opinião dos leitores.
(fim)

1 comentário:

ricardo disse...

Em verdade V. digo caro Professor, que em África, há muitas ditaduras silenciosas e obscurantistas. Razão pela qual os defensores do "status-quo" nacional muitas vezes nos criticam quando exigimos mais neste blog.

Mas exigir, é parte da cultura de excelência e também sinónimo de um passo em frente na cultura democrática de um povo.

O sr. Paul Biya, o sr. Bongo, o sr. Obiang-Nguema, o sr. Sassou-Nguesso são nomes de ditadores com luvas de pelica, os quais, por serem fiéis aos seus patrões e detentores de um manancial de recursos naturais imprescindíveis para o Primeiro Mundo, são branqueados na arena internacional. Mal se ouve falar das desgraças quotidianas dos seus países e dos seus actos individuais. Aqui tenho de dar a mão à palmatória para o que Viriato Dias diz de Mugabe.

De facto, não é o único, mas é um entre muitos que se destacam pela negativa. E isso é o que conta.

Em Moçambique, que eu saiba, ainda não foi reportado um caso de transe colectivo. Todavia, isso não invalida a ocorrência de actos de histeria colectiva, como é o caso dos linchamentos. E por essa ordem de análise, duas faces da mesma moeda.