Na página 2 do semanário "Domingo" de hoje, o jornalista Alfredo Dacala regressa ao tema dos incendiários de Mopeia para produzir uma tese ampla e firme, cujos termos, reproduzidos na íntegra, assinalarei com aspas. Claro, os incendiários são "energúmenos", "pirómanos" de "'indole tribal e regional" que apenas provocam desgraça, "a mando de pessoas que têm outras agendas, que não as do desenvolvimento do país, da paz e da harmonia social". Mas avancemos: se se "fizer contas de somar" - propôs o jornalista -, descobre-se que "este tipo de situação" esteve na origem da perseguição, do espancamento e do assassínio de pessoas em alguns distritos de Nampula e Cabo Delgado por causa do boato de que a cólera era intencionalmente introduzida através do cloro. E "se se fizer o "dois mais dois" - prosseguiu o jornalista -, verifica-se que é da "mesma raiz" a agitação provocada pelo boato da chuva amarrada no céu por mal-intencionados. Mas mais: "A isto deve-se também somar os discursos inflamatórios de ordem tribal e regional que têm vindo a serem proferidos no Parlamento por uma certa estirpe de deputados ávidos de chutarem para longe todos os desígnios sobre a unidade nacional e a harmonização social". Evidentemente que é a Renamo que Dacala tem em vista. E eis a pergunta-conclusão do jornalista: "Com que autoridade esta gente dinamiza toda esta agitação e calamidade sociais no centro e norte do país? Quais são os seus reais objectivos?" Resposta: "Em ano de eleições, a resposta parece bem óbvia: criar um clima de intimidação (...) tentar "ruandalizar" o país e dividir as suas gentes, num exercício perigoso de política". O que se deve fazer, então? Resposta do jornalista: "Tem de se cortar o mal pela raiz e parece que a raiz está à vista de todos" (p. 3).
Observação: à medida que nos aproximarmos das eleições, veremos intensificar-se este tipo de teses, teses que, pretendendo mostrar a violência de outrem, são, elas-próprias, de um violência sofisticada e sem mercê. A atribuição sistemática de desígnios obscuros, de agendas externas, anti-nacionais, agitadoras, aos dirigentes e aos partidos da oposição "não construtiva" (mas, também, a qualquer protesto colectivo sem filiação partidária), vai aprofundar-se tendo como alvos a Renamo e o MDM. O toque já está a ser dado por Edson Macuácua. Mas não só: na página 5 do referido semanário", na sua habitual crónica, Sérgio Vieira aparece decididamente montado na tese, atacando frontalmente "o novo dirigente político do Chiveve" (evidentemente que se refere a Deviz Simango, que ele associa a "interesses ultra-colonialistas de antanho") e manifestando, sarcástico, o pio desejo de aguardar "alguma oposição credível com a bandeira da pátria e livre dos mentores de antanho das causas coloniais e racistas".
4 comentários:
Professor,
GRANDE TESE do jornalista!
Que tal a UEM dar lhe um Honoris Causa?
O novo Curriculo deve permitir isso! pois nao?
MZ
Prof. Serra está mais uma vez alertar aquilo que produz massacres em Mocambique, mas que os o lêem mal, não porque não sabem ler,mas porque defendem os discursos próximos de quem são a favor, irão lhe interpretar mal. É interpretar mal até cidadãos sejam massacrados.
Com Sérgio Vieira, o estalinista estamos muito fartos. Quando leio o discurso vazio do estalinista Sérgio Vieira só me cria saudades de David Alone que lhe dizia a verdade em frente. Mas espero que Barnabé Ncomo trate desse assunto desse Sérgio Vieira, um dos responsáveis de tanta desgraca em Mocambique.
Até o coronel de capoeira Sérgio Vieira ataca o MDM?
Até quando teremos de aturar as diatribes deste dinossauro?
A coisa é séria, o MDM ameaça mesmo!
É mesmo graças às vendas que o jornal Domingo ainda existe?
Enviar um comentário