11 dezembro 2006

Movimentos sociais e linchamentos: uma hipótese analítica


A socióloga Natacha Morais, membro da Unidade de Diagnóstico Social (UDS) do Centro de Estudos Africanos, preparou um texto preliminar com o título em epígrafe, que pode ser importado aqui. Esse texto deverá sofrer alterações e será posteriormente publicado no portal da UDS.

3 comentários:

Anónimo disse...

Li atentamente e com interesse o trabalho sobre os movimentos sociais e a hipotese analitica nele avancada. Achei deveras interessante, mas gostaria de colocar algumas questoes (ou avancar alguns reparos).

1) Em relacao a classificacao de movimentos sociais que apresenta (de David Aberle), nao acharia mais interessante dividir entre aqueles que procuram a transformacao nas atitudes, comportamentos e valores ao nivel individual e aqueles que procuram o mesmo a nivel social geral (e depois detalhar o nivel de transformacao a que se propoe - total ou parcial, etc.)? E nessa optica, a espontaneidade sera realmente uma classe de movimento, ou uma caracteristica das classes apresentadas?

2) Em relacao a irracionalidade, nao e possivel admitir que ainda que o movimento seja efemero e espontaneo, baseado na oportunidade do momento, as accoes nao serao necessariamente irracionais? (Nao li ainda nada sobre a psicologia dos linchamentos, por isso nao estou a avancar com nenhuma hipotes, so com este simples questionamento. Gostaria de saber o que torna um acto racional e o que o torna irracional).

3) E ja agora, na senda do oportunismo, sera que de facto, por ser uma accao baseada na oportunidade estara mesmo desprovida de coesao de valores e crencas? Creio que a crenca maior partilhada por este tipo de grupo espontaneo esta na necessidade de punicao do pressuposto criminoso. Penso que a partilha de valores e crencas nunca e hermetica e fixa. Varia de momento para momento dentro da fluidez das relacoes sociais.

4) O texto menciona, a dado passo que para Neil Smelser 'para que os comportamentos colectivos se transformarem em movimentos sociais institucionalizados é necessário a existência de um grupo coordenado, mobilizado e pronto a actuar, a existência de um líder e de meios de comunicação regular entre os participantes'. Com esta afirmacao nao percebo se consegue fazer passar a mensagem clara de como e que ve, entao, que os linchamentos sejam parte de um movimento social, uma vez que com a sua espontaneidade, oportunismo e efemeridade, claramente parece nao corresponder ao perfil requerido para serem considerados um movimentos sociais.

5) Por ultimo, goataria de referir a questao do desemprego nos bairros perifericos. Nao sei se ha algum estudo que indique que o desemprego nos bairros perifericos e maior que nos bairros da cidade de cimento. E se e, se isso implica que nao ha meios de subsistencia alternativos. Penso que a questao dos bairros perifericos tera mais a ver com a situacao economica precaria (e nao especificamente com o desemprego), como bem referiu posteriormente.

Anónimo disse...

As questões levantadas por la strega são pretinentes, a investigação é sempre um produto em construção com necessidade de retificações ou clarificações;
1.a questão da divisão proposta a classifição dos movimentos sociais, parece-me um contributo a ter em conta, a introdução desta nova categoria espontaneadade foi em resultado de as características a ela subjacentes não encontrarem revistas nas outras categorias.
2.não se pensou o fenómeno na prespectiva da psicologia do linchamento, mas dentro das propostas sociologicas dos movimentos sociais.
A irracionalidade inspira-se na teoria dos comportamentos das multidões proposta por Le Bon, e seria no sentido de que os movimentos institucionalizados tem forma estruturas de acção com vista a atingir os seus objectivos. E que esta forma de movimento em algum momento da sua actuação perde o controlo da situação e os membros agem de forma irracional. Mediante o facto social os movimentos tem várias possibilidade de actuação, mas a falta de estruturação desta forma específica de movimento leva a que os sugistionamentos não sejam questionados, e a necessidade de uma resolução rápida do problema toma proporções inesperadas.
3.concordo quanto a partilha parcial de valores entre os membros do movimento e na formação atraves da descrença nas instituições legais. Mas também acredito em que algum momento e a acima de tudo há uma diturpação dos valores sociais e humanos e consequentemente usurpação da legitimidade de exercer a violência. A não ser que passemos a institucionalizar estes actos introduzindo-os nos nossos quadros ideológicos como valores?
4.smelser propõe algumas características como sendo essenciais para a constitução de movimentos sociais mas a ausências parcial das mesmas não invalida o uso do modelo de pre-condições de actuação do movimento.
5.é sem dúvida uma situação de precariedade generalizada em que se vive onde concerteza as zonas periféricas são as mais penalizadas em todos os sentidos.

natacha

Anónimo disse...

Obrigada.