Algum dia se fez neste país um seminário a sério, prolongado, sobre como erguer e ajudar a manter a indústria moçambicana? Sobre como proteger a nossa burguesia? Sobre como financiar os nossos empresários, não os empresários com mentalidade chapa 100, mas os empresários que queiram investir (e que estão a investir) na produção a sério e produzir patamares de justiça social? Sobre como assegurar facilidades bancárias e juros preferenciais? Sobre como travar o acesso dos produtos estrangeiros que fazem colapsar os nossos? Sobre como fabricarmos a nossa mobília com cortes de madeira que assegurem a biodiversidade? Sobre como sermos um Estado forte ao serviço de uma indústria forte? Não: não fizemos, nem fazemos. Por quê? Porque estamos a juzante, porque somos matéria-primados, orgulhosos por exportamos o que os outros transformam para seu benefício. O que fazemos, fizemos ou poderemos fazer para evitar a síndrome da dependência, do arruinamento de tudo o que, de produtivo, é nosso e poderia ser nosso? Nada. Amamos apenas o primário e o terciário em nossas parcerias ditas inteligentes. A nossa mentalidade é de galinha. Falta-nos a pedalada da Lurdes Mutola. Para quê comer o nosso bolo se o bolo estrangeiro chega rápido e barato? Embarcamos orgulhosamente no "made in Mozambique" com os pulmões respirando, porém, o oxigénio do export matéria-primal. Amamos o turismo, os turistas, expomos praias, acampamentos na selva, camarões e leões. E o que mais? É inviável questionar as regras do jogo? É inviável defendermos um país forte, industrializado, lutador, com uma burguesia forte, com um Estado protegendo a sua indústria? É inviável pensarmos que temos centenas de engenheiros agrónomos capazes de pôr a nossa agricultura a funcionar em pleno sem necessidade de técnicas chinesas, americanas, russas ou galáxicas? Servirão as futuras estradas, a futura energia eléctrica para termos o nosso povo mais rico e feliz ou para fazermos com que a nossa matéria-prima saia mais rapidamente para benefício estrangeiro? Já nos interrogámos sobre isso? Já procurámos sair um pouco fora dos carris de quem nos pensa em lugar de nos levarem a pensar por nós-próprios? Estamos dispostos a pensar que a crítica faz bem melhor ao nosso povo e ao nosso país do que o seguidismo acéfalo, think-tanks?
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
3 comentários:
Nao conheco nenhum empreendedor no mundo que tenha sido criado por Decretos Presidencias e nem funcionarios publicos que sejam empresarios privados em simultaneo.
Por mais que nao se goste do capitalismo ele tem regras de ouro que se aplicam a todos, salvo as devidas excepcoes que trazidas por advogados, mas de acordo com a Lei.
Por isso, nao pode haver misturas, nem confusoes a este respeito. Um estado soberano e um estado soberano. Uma colonia e uma colonia (retro ou neo). Um vintem e um vintem.
Industrializar sem energia soberana e uma quimera. Fazer turismo sem receitas soberanas tambem. Ter uma visao de desenvolvimento sempre atrelada ao que passa na Africa do Sul, como as nossas elites sempre defenderam, tambem.
Por essa razao, temos mesmo de descentralizar Mocambique reorientando o foco do desenvolvimento do Vale do Zambeze ate ao Rovuma. Bem longe de Pretoria e da zona de influencia da sua politica de seguranca nacional. Toda e qualquer acto soberano que lhe coloque em causa pode nos valer uma guerra de desestabilizacao ou uma intervencao militar.
Ha duvidas?
Mas quem e que viabiliza novas/velhas barragens, gasodutos, portos e caminhos de ferro ou ate o debate/pensamento academico em Mocambique?
Africa do Sul! Desde o tempo de Cecil Rhodes, ainda no sec. XIX.
Entao, que pedalada seria essa sr. Professor, sem uma regionalizacao supra-partidaria e abrangente? So se for para emagrecer ainda mais a nossa auto-estima...
"Por essa razao, temos mesmo de descentralizar Mocambique reorientando o foco do desenvolvimento do Vale do Zambeze ate ao Rovuma."
A primeira capital de MOZ foi na Ilha de Moçambique; a segunda capital foi Lourenço Marques, hoje Maputo.
Para assegurar um desenvolvimento mais equilibrado, MOZ vai ter que considerar seriamente uma capital mais no centro do pais. Uma capital para um pais com um grande futuro à sua frente.
Ao que tudo indicaé na Constituição que se deve mexer para uma melhor cidadania. Mexê-mó-la então!
Enviar um comentário