08 janeiro 2013

Teorias da conspiração (1)

Quando a causa, directa ou indirecta, de um determinado fenómeno, é atribuída à acção intencional de uma força considerada externa, maléfica e desestabilizadora, estamos perante uma teoria da conspiração. Há múltiplas teorias da conspiração, num espectro que vai das pequenas e populares às grandes e políticas. Prossigo mais tarde.
(continua)

4 comentários:

Salvador Langa disse...

A propósito do tema a minha sugestão é ler esta carta que apareceu no jornal Noticias de ontem---

"Quando objectivos políticos escusos instrumentalizam uma causa justa
SR. DIRECTOR!

Aceite os meus agradecimentos pelo espaço que me concedeu, para a publicação da minha opinião sobre a anunciada greve dos médicos.


Nos últimos 24 meses o MISAU fez progressos assinaláveis na melhoria da condição socioprofissional dos quadros da saúde:

a) Passou a pagar um subsídio mensal de 2.000 USD (dois mil dólares norte-americanos), designado “topping up”, sobre o salário dos médicos especialistas que trabalham fora da cidade de Maputo;

b) Concluiu e submeteu a aprovação do governo, o estatuto do médico (que neste momento aguarda aprovação na Assembleia da República);

c) Como forma de melhorar a renda dos seus profissionais, passou a autorizar, a todos os hospitais, o atendimento personalizado, depois de cumprirem com zelo o atendimento público normal;

d) Autorizou que os médicos pudessem exercer actividade de carácter privado, fora do horário de trabalho;

e) Vários médicos beneficiaram de isenções fiscais na importação de viaturas pessoais; e

f) Passou a atribuir um subsídio de almoço (1.8), e casa própria, de função, aos médicos que trabalham nos distritos.

Estes progressos mostram que o ministério está consciente da necessidade de melhorar o quadro socioprofissional dos trabalhadores da saúde.

Mostram que há um diálogo permanente, e construtivo, entre o ministério e os seus colaboradores, sobretudo o entendimento recíproco de que as conquistas devem ser progressivas e, dentro de um quadro económico-financeiro, sustentável, ou seja, não se pode dar o que não há. – mesmo que sejam passaportes diplomáticos, o direito à não revista nos aeroportos, o direito de conduzir nas estradas em contra-mão, etc.

É considerando esta premissa que o presente movimento reivindicativo não pode deixar de ser visto como uma operação política que visa a desestabilização do Estado, e suas instituições, agora que se aproximam momentos eleitorais. Se ele não for travado os seus cabecilhas galvanizam-se penetrando, depois, a educação, a polícia, o transporte público, e outros sectores vitais, provocando a ingovernabilidade e o caos, no país.

Ele está claramente na esteira dos governos de transição, e outros estratagemas da mesma índole, que visam o poder, fora do quadro democrático.

A liderança da associação médica, a mando de um lobbie que, ou ela não percebe, ou ela abraça conscientemente, faz da justa luta dos médicos (profissionais honestos que fazem das tripas o coração, quando se trata de salvar vidas) um trampolim para objectivos políticos escusos, alheios aos interesses da classe. Em termos mais populares, alguém toma a dor do parto da senhora para parir ratos e quejandos, e não o fruto de uma gestação humana normal e, ainda diz ao pai da aberração: é tão parecido contigo!
(vai continuar)

Salvador Langa disse...

segunda parte da carta----

"É perante este quadro que a ANEMO, com muita maturidade, decidiu distanciar-se da greve. Os enfermeiros perceberam, acima de tudo, que um médico que valha não os exclui da sua luta, seja ela qual for, que um médico não precisa de passaporte diplomático, a não ser que a sua ONG queira fazer contrabando internacional, que nesta época de luta contra o terrorismo ninguém deve escapar ao scan nos aeroportos, mesmo que isso represente mostrar o tamanho dos seus genitais.

É justa a luta dos médicos, é justo, responsável e comedido, o esforço do MISAU para proporcionar melhores condições de vida e de trabalho aos seus profissionais, num sistema onde, ao nível do seu melhor hospital, morre em média uma pessoa em cada meia hora.

Do ponto de vista ético não posso convocar uma greve para um sector que não sirvo, a não ser que seja eu um partido político da oposição. Não posso convocar uma greve estando eu a servir, com zelo, um outro patrão, ainda por cima, uma ONG estrangeira. Um médico deve ter ética. Essa é uma condição sine qua non para o exercício dessa nobre profissão, e inspirar confiança aos pacientes cujas vidas estão em suas mãos.

Samuel Mahazula"

nachingweya disse...

Obrigado pela carta acima.
Sobre a reivindicação dos médicos tenho a dizer que me solidarizo. Se é à Deus ou à Natureza, com ou sem big bang, (ambos conceitos com poderes acima do controlo humano) que se atribui o dom da vida e é ao médico que se atribui a capacidade para salvar as vidas dos homens contra doenças que a ciência já domina, então é legítimo que ao médico se atribuam condições condignas de vida para que se possa concentrar no seu trabalho/missão. Essa motivação vai traduzir-se numa melhoria substancial na qualidade da assistência médica. Para mim antes uma greve ruidosa de todos os médicos do que uma greve silenciosa de alguns. Esta última é equivalente a uma doença cancerosa. Enquanto numa greve aberta os médicos lutam por direitos constitucionalmente consagrados, numa silenciosa estarão contra o seu juramento profissional.
Em relação aos conspiradores contra a iniciativa da AMM seria de aconselhar, se ouvissem, que já basta de procurar inimigos por trás das sua próprias ineficiências. A mão externa pode ser a extremidade do seu próprio braço de que não têm e nem podem ter consciência por miopia mental.
O Sr Samuel, tal como o sistema, temem o efeito dominó que as greves resultantes da evidente falência sistêmica das políticas governativas podem e VÃO provocar e tentam localizar a raiz da peste em Gorongoza. É desonestidade.

Foquiço disse...

Se fosse a aplicar a teoria da conspiração, conforme definido acima, diria perguntando:

Qual a razão maior dos gordos salários nuns sectores e muito magrinhos noutros do mesmo Aparelho Estatal?
Afinal, para quê existe o Estado: Segurança, justiça e bem-estar comuns?
Como garantir a consecução desses fins?
Ou, a tese de Marx, vale usar o Estado, oligarquicamente, para estratificar e dominar?
...

Enfim, é preciso que o Estado Moçambicano sirva aos moçambicanos!

Mas não disse!!!