21 março 2011

Produção simbólica de saúde na cidade de Maputo (4)

O quarto número desta série.
Escrevi no número inaugural que nos mais variados pontos da cidade de Maputo, mas especialmente nas avenidas Kenneth Kaunda e Friedrich Engels, centenas de pessoas correm ou andam diariamente, manhã cedo, fim de tarde, todos os dias, jovens, idosos e meia-idade, homens e mulheres, magros e gordos, produzindo simbolicamente saúde.
O que quero com isso dizer? Quero dizer várias coisas, lançando sempre hipóteses (rigorosamente apenas isso).
Vamos lá a uma terceira coisa. Se observarmos certos buscadores de saúde nas ruas de Maputo, facilmente verificaremos que as caras de algumas e de alguns mostram um sofrimento indizível, um desesperado esforço para cumprir pela disciplina da mente o que o corpo recusa vigorosamente. Os esgares, a corrida desajeitada, o arfar assustador: eis alguns indicadores. Provavelmente a maior parte dos buscadores de saúde pedestre não consulta médicos, limitando-se a seguir o que os outros fazem. Se todos fazem, se todos correm, se todos marcham, então eu também farei o mesmo, a mimese comanda. A crença de que tudo isso dá saúde e prolonga a vida não precisa de provas, é ela-própria a prova, o aparato do equipamento copiado das televisões e dos estádios é o veículo da prova. A esperança comanda o corpo, o futuro domestica o presente, a fé alimenta-se dela-própria. Mas há ainda uma quarta coisa a considerar: o estatuto social, a busca e a visibilidade disso. Prossigo mais tarde (crédito da imagem aqui).
(continua)

2 comentários:

Salvador Langa disse...

Parabenizo, brilhante serie.

ricardo disse...

Por vezes, e muito mais saudavel ficar sentado a apanhar ar. Ou entao, caminhar calmamente a beira mar...