16 julho 2010

Os riscos do efeito borboleta social na África Austral (uma série de 2008) (4)

Esta série data de 2008. Neste momento em que Moçambicanos - como outros estrangeiros - fogem da África do Sul, temendo ser atacados, achei bem recordá-la.
Prossigo a série, com hipóteses.                                                      
Os problemas de recusa do Outro - de caça ao Outro, de linchamento do Outro - começaram em Alexandra, periferia da cidade de Joanesburgo. Poderiam ter começado em outro bairro da periferia de uma cidade sul-africana. Mas começaram aí. Por quê? Não sei. Se quisermos pôr de lado a teoria do acaso causal, podemos pensar, por hipótese, que aí, nessa periferia de Joanesburgo, estavam e estão concentrados diversos factores que, agrupados, catalizaram o ataque aos estrangeiros, ataque que, depois, alastrou para outros bairros de outras cidades por efeito bola de neve.
Tratou-se, trata-se de xenofobia? De simples progrom? Todos os indicadores apontam para um ataque contra estrangeiros de outros países independentemente do grupo étnico. Por exemplo, os ataques foram dirigidos não contra grupos Shona ou Ndebele do Zimbabwe, mas contra Zimbabweanos.
Foi o ataque dirigido contra pessoas das classes média e alta (deixe-me dizer as coisas assim, de forma instintiva)? Não. Foi contra os pobres de outros países.
No apartheid, brancos puniam pretos. Agora, no pós-apartheid, pretos punem pretos. Ficamos intrigados com isso. Mas estamos face a uma imputação racial sem raça, a um racismo sem raça. Numa situação delicada - mas clássica, variada na história - , o pobre local transfere para o pobre estrangeiro a culpabilidade, a responsabilidade dos problemas sociais, faz dele o bode expiatório.
Estamos perante uma situação em que fenómenos objectivamente falsos (do tipo "os estrangeiros tiram o emprego aos sul-africanos") são, porém, sentidos como subjectivamente verdadeiros.
Aguardem o próximo número.
(continua)

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