Esta série data de 2008. Neste momento em que Moçambicanos - como outros estrangeiros - fogem da África do Sul, temendo ser atacados, achei bem recordá-la.
Quando queremos pensar e teorizar a xenofobia na África do Sul, temos de ter em conta um quadro com pelo menos duas situações:
1. As condições de vida nos bairros da lata, tomando como epicentro os situados na periferia de Joanesburgo.
2. A imigração massiva, com cidadãos estrangeiros fixando-se nos bairros, justamente lá onde os sul-africanos têm um ponto de interrogação diário nas suas vidas.
A primeira situação pode não gerar imediatamente as condições subjectivas, digamos que mentais, de produção do Outro como inimigo a abater, se ela de alguma maneira se alimentar de si própria e se for, por exemplo, canalizada para situações criminais clássicas.
Mas se a segunda situação reagir forte e persistentemente sobre a primeira, a sensação de crise perfila-se de forma intensa e o Outro (sentido como estrangeiro, diferente, perigoso, importuno, oportunista, usurpador) pode tornar-se num inimigo a abater, pode ser convertido no responsável imediato, total, dos problemas de sobrevivência social localmente sentidos. A transferência para esse Outro da responsabilidade pelos problemas internos é um mecanismo clássico. Surge então a catarse, o sacrifício do Outro e a expulsão vitimária. Nos casos extremos, o ataque ao e o linchamento do Outro constituem-se como mecanismos subjectivamente sentidos como regulando e expulsando a crise.
(continua)
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