20 julho 2010

Os riscos do efeito borboleta social na África Austral (uma série de 2008) (8)

Esta série data de 2008. Neste momento em que Moçambicanos - como outros estrangeiros - fogem da África do Sul, temendo ser atacados, achei bem recordá-la.
O fim da série, sempre com hipóteses.                                                      
A xenofobia consiste na projecção do Mal sobre um ser externo ou estrangeiro, sentido como perigoso ou incomodante. Em circunstâncias digamos que normais, os prejuízos e a etiquetagem sobre o Outro não atacam nem mutilam, são uma espécie de proteção identitária. Porém, quando a presença do Outro nos parece imponente, omnipresente – tenhamos em conta a imigração massiva zimbabweana, especialmente esta –, a etiquetagem pode tornar-se, como se tornou, activa e mutilante. Surgiu, então, o “racismo sem raça”. Os estrangeiros foram encarados como criminosos e ladrões de empregos locais. Uma imputação objetivamente falsa foi subjetivamente sentida como verdadeira. Finalmente, as causas da repulsa não devem ser mecanicamente atribuídas aos aspectos económicos. A privação é sempre multilateral. E sonhos podem ter e têm, também, força material.
A África do Sul está a deportar em massa os imigrantes zimbabweanos, numa medida destinada, certamente, a evitar o recrudescer da xenofobia. O nosso país recebeu mais de 40 mil compatriotas fugidos da violência. Em ambos casos, Zimbabwe e Moçambique receberam e recebem pessoas feridas, potencialmente geradoras de micro-climas sociais de insatisfação.
Tenho para mim que todos os países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) devem colocar o Estado social na linha de frente, sob pena de um dia o bater de asas social em Alexandra, na periferia de Joanesburgo, poder imediatamente repercutir em Maputo, em Harare ou em Dar es Salaam. E em muitos mais sítios.
(fim)

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