Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1164, de 29/04/2016, disponível na íntegra aqui:
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
30 abril 2016
"À hora do fecho" no "Savana"
29 abril 2016
Administrador desmente notícia de vala comum com 120 corpos
O administrador da Gorongosa desmentiu hoje a notícia de terem sido encontrados 120 corpos numa vala comum naquele distrito, acrescentando que tudo partiu de uma notícia na "Voz da América". Por sua vez, o mesmo desmentido foi feito pela polícia. - "Rádio Moçambique", programa jornal da noite das 19:30.
Adenda: a notícia tem causado impacto no Facebook, acompanhada de fotos absolutamente sem relação com a suposta vala. Veja-se por exemplo esta sofisticada foto da "Voz da América":
Adenda: a notícia tem causado impacto no Facebook, acompanhada de fotos absolutamente sem relação com a suposta vala. Veja-se por exemplo esta sofisticada foto da "Voz da América":
Adenda 2: em comentário neste diário, mas também em duas páginas do Facebook, eis o que escrevi: "Esta tarde, no Facebook, chamei a atenção para duas notícias sobre os ditos corpos, estando numa uma foto com coisas [presumíveis corpos, mas podiam pedras...] dentro de sacos plásticos negros, com inscrições a branco, estando noutra soldados com bóinas vermelhas. Evidentemente que se procurou com as fotos, aparentemente não pertença da "Lusa", mostrar num caso tecnologia de ponta no enterro em vala comum, uma imputação às forças governamentais noutra. A história dos corpos carece absolutamente de investigação. Finalmente, pelo menos a "Folha de Maputo", citando o administrador da Gorongosa, já desmentiu a notícia. Também neste caso é necessário investigar. A dúvida metódica é sempre útil, especialmente quando se juntam vários fenómenos havidos por negativos e acabamos nuns casos por os termos todos como reais, noutros por dotá-los do mesmo coeficiente de validade."
Adenda 3 às 22:15: "No Facebook circula uma fotografia da alegada vala comum. Porém, a mesma é falsa pois se trata de uma vala comum nas Filipinas. A referida fotografia foi tirada há mais de quatro anos e retrata vítimas das cheias a serem sepultados numa vala comum. A mesma circulou na imprensa portuguesa em Dezembro de 2011." - um texto da "Agência de Informação de Moçambique", aqui.
Adenda 4 às 22:41: fungulamaso [=abre o olho, está atento], sempre.
Adenda 5 às 08:51 de 30/04/2016: confira aqui.
Adenda 3 às 22:15: "No Facebook circula uma fotografia da alegada vala comum. Porém, a mesma é falsa pois se trata de uma vala comum nas Filipinas. A referida fotografia foi tirada há mais de quatro anos e retrata vítimas das cheias a serem sepultados numa vala comum. A mesma circulou na imprensa portuguesa em Dezembro de 2011." - um texto da "Agência de Informação de Moçambique", aqui.
Adenda 4 às 22:41: fungulamaso [=abre o olho, está atento], sempre.
Adenda 5 às 08:51 de 30/04/2016: confira aqui.
PGR vai estudar os procedimentos da dívida pública
A Procuradoria-Geral da República decidiu abrir processos para averiguar os procedimentos que deram origem à dívida pública do país e, por essa via, tomar as medidas apropriadas - "Rádio Moçambique" no programa jornal da noite das 19:30.
Adenda às 04:08 de 30/04/2016: confira também aqui.
Adenda 2 às 06:46 de 30/04/2016: leia aqui.
Adenda às 04:08 de 30/04/2016: confira também aqui.
Adenda 2 às 06:46 de 30/04/2016: leia aqui.
Em 2012 também houve uma sexta-feira
No dia 01 de Junho de 2012 inaugurei, neste diário, uma série intitulada "O poder de persuasão dos sms", que começou assim: "Pessoas receberam ontem nos celulares a notícia de uma greve, com ameaça de assaltos, hoje na cidade de Maputo. Esta é uma série destinada a descrever e a analisar o poder de persuasão dos SMS." Aqui. Último número aqui. Tenho por hipótese que basta substituir, no título e no corpo do texto, "sms" por "redes sociais digitais", para mantermos actual o texto de há quase quatro anos atrás. Texto reconstituído da série aqui.
Em ambos os casos os promotores anónimos das manifestações marcaram-nas para uma sexta-feira, como se fossem os mesmos, ontem com os sms e hoje com as redes sociais digitais.
E hoje é sexta-feira.
Adenda às 07:47: o editor do semanário "Savana", Fernando Gonçalves, está a fazer uma excelente análise no programa "café da manhã" da Rádio Moçambique, a propósito da intervenção ontem do Primeiro-Ministro Carlos Agostinho do Rosário sobre a dívida pública. Uma análise de quem estudou o tema e se furta às emoções, à hostilidade e aos histerismos de certos analistas da praça.
Adenda 2 às 10:05: a "Rádio Moçambique" tem jornalistas nas cidades de Maputo e Beira dando conta do movimento urbano. Resumo neste momento: situação calma em ambas as cidades, em Maputo autocarros públicos, chapas, myloves em maior número agora.
Em ambos os casos os promotores anónimos das manifestações marcaram-nas para uma sexta-feira, como se fossem os mesmos, ontem com os sms e hoje com as redes sociais digitais.
E hoje é sexta-feira.
Adenda às 07:47: o editor do semanário "Savana", Fernando Gonçalves, está a fazer uma excelente análise no programa "café da manhã" da Rádio Moçambique, a propósito da intervenção ontem do Primeiro-Ministro Carlos Agostinho do Rosário sobre a dívida pública. Uma análise de quem estudou o tema e se furta às emoções, à hostilidade e aos histerismos de certos analistas da praça.
Adenda 2 às 10:05: a "Rádio Moçambique" tem jornalistas nas cidades de Maputo e Beira dando conta do movimento urbano. Resumo neste momento: situação calma em ambas as cidades, em Maputo autocarros públicos, chapas, myloves em maior número agora.
28 abril 2016
Mexeriquismo político rotineiro
O mexeriquismo político rotineiro de maldizer é como que um fenómeno natural, é como se cada sociedade fosse dicromata e tivesse necessidade de maldizer outrem para, juntamente com o bem-dizer, seguir em frente. Em particular, os partidos políticos, os seus porta-vozes, os seus intelectuais de plantão, os seus militantes, os seus simpatizantes, os seus jornais, os seus blogues e as suas páginas nas redes sociais digitais formam uma rede de castelos feudais permanentemente sem ponta levadiça, quer dizer, sem abertura para o exterior, sem contacto, sem partilha, sem permuta analítica, sem alianças. Dentro de cada castelo o mundo é encarado de forma maniqueísta, como tendo apenas dois lados: o lado dos bons no interior e o lado dos maus no exterior. Certos jornais do país são exemplares exercícios de mexeriquismo político rotineiro, nos quais o que está em causa é - apesar, aqui e acolá, de alguma pretensão científica - uma avaliação moral primária, não poucas vezes boçal. Nesses jornais o partido X é encarnação do bem e os restantes partidos são a encarnação do mal.
Num dos seus livros, Michel de Certeau escreveu que o conflito é inerente à vida social e que toda a sociedade se define pelo que exclui, que toda a sociedade se forma diferenciando-se. Formar um grupo é criar, ao mesmo tempo, estrangeiros. Uma estrutura bipolar, essencial a toda a sociedade, cria um "fora" para que exista um "entre nós"; fronteiras, para que possa existir um país interior; "outros" para que o "nós" possa tomar forma. Temos assim uma lei, a lei do grupo - asseverou Michel - que é, também, um princípio de eliminação e de intolerância. União e diferenciação crescem e marcham a par.
Num dos seus livros, Michel de Certeau escreveu que o conflito é inerente à vida social e que toda a sociedade se define pelo que exclui, que toda a sociedade se forma diferenciando-se. Formar um grupo é criar, ao mesmo tempo, estrangeiros. Uma estrutura bipolar, essencial a toda a sociedade, cria um "fora" para que exista um "entre nós"; fronteiras, para que possa existir um país interior; "outros" para que o "nós" possa tomar forma. Temos assim uma lei, a lei do grupo - asseverou Michel - que é, também, um princípio de eliminação e de intolerância. União e diferenciação crescem e marcham a par.
Sobre a credibilidade institucional
A desconfiança nas instituições estatais tem múltiplos canais, um deles consiste na convicção de que só venalizando as relações se consegue colocar as instituições do Estado a funcionar, a produzir resultados concretos. O mundo dos esquemas é bem mais do que um conjunto de opções individuais ao sabor do arrojo e da lubrificação dos favores pessoais: é o real termómetro da erosão da credibilidade institucional. Como um todo, a moral cidadã sofre uma fractura moral grave.
Pânico e desarme analítico
Parece haver algum pânico na cidade de Maputo, provocado por apelos anónimos a manifestações iniciados nas redes sociais digitais. O desarme analítico parece estar em curso. O que significa? Significa que se acredita não importa em quê desde que duas condições estejam reunidas. Que condições? As seguintes: (1) acúmulo de fenómenos julgados inquietantes do passado e (2) confiança no uso colectivo dos modernos meios de comunicação.
Dívida e Renamo: comentários de Joseph Hanlon
A dívida pública de Moçambique e os ataques da Renamo, com informação e comentários de Joseph Hanlon a conferir aqui.
Adenda: leia também um texto no "The Wall Street Journal", aqui.
Adenda 2 às 16:18: confira agora aqui.
Adenda 3 às 16:27: um texto de Paul Fauvet no Facebook, aqui.
Adenda 4 às 17:01: um texto da "Reuters", aqui.
Adenda: leia também um texto no "The Wall Street Journal", aqui.
Adenda 2 às 16:18: confira agora aqui.
Adenda 3 às 16:27: um texto de Paul Fauvet no Facebook, aqui.
Adenda 4 às 17:01: um texto da "Reuters", aqui.
Pedagogia da autonomia
Creio ser possível defender que uma parte significativa do nosso ensino, aí compreendido o superior, assenta nos processos de memorização e de repetição mecânica. Por outras palavras, assenta na recusa do que Paulo Freire chamava "pedagogia da autonomia". Na verdade, o mais difícil na educação está, justamente, em criar essa pedagogia, em descolonizar os alunos (para recordar o título de um livro de Gérard Mendel ) para os levar pelas estradas da consciência crítica, para os tornar livres dos aguilhões que os formatam.
Desnaturalização dos fenómenos sociais
Uma posição da Sociedade Brasileira de Sociologia: "[...] a sociologia no Ensino Médio tem como tarefa a desnaturalização dos fenômenos sociais. Com efeito, o pressuposto fundamental deste campo científico é considerar o comportamento humano socialmente condicionado. Inúmeras pesquisas nas ciências sociais – em particular na Antropologia – demonstram, de forma definitiva, que as relações humanas não são determinadas por imperativos naturais universais, mas que variam segundo os contextos sociais. Nesse sentido, rigorosamente, a desnaturalização dos fenômenos sociais é operação intelectual básica da sociologia. Isso implica em compreender, sob o ponto de vista das condições históricas e sociais, uma pluralidade de fenômenos, entre os quais, por exemplo, as formas de expressão religiosa e as questões relativas à identidade de gênero, temas que vem ocupando uma parte significativa da produção contemporânea na sociologia." Aqui.
Adenda: recorde neste diário aqui.
Adenda: recorde neste diário aqui.
27 abril 2016
Manipulação internética
Um grupo de guerrilheiros cibernéticos abre uma conta anónima numa rede social digital e anuncia que amanhã, imperativamente, todos devem almoçar no restaurante Come Bem às 21:30. O importante não é isso, o importante é que há sempre gente que está disposta a não perder o encontro e, claro, o almoço. Mas o mais importante nem é isso: o mais importante é o grupo de guerrilheiros cibernéticos rir-se sem limites da credulidade humana. [imagem com a devida vénia reproduzida daqui]
Primeiro-Ministro amanhã em conferência de imprensa
Crise e crisecos
A crise é uma arma apetecida no combate político. Qual crise? A crise dos outros. A este propósito, é possível transformar a crise num triplo momento: (1) falsa preocupação com o mal que é suposto apoquentar os outros, (2) imensa alegria com esse mal e (3) receituário piedoso. Quando surge o que entendem ser uma crise na casa do Outro, os crisecos dão imediata conta pública do quanto estão preocupados, na superfície das preocupações navega o que parece ser um genuíno pesar, um sincero anseio pela alteridade opinativa ou comportamental. No bojo das coisas, porém, viaja uma imensa alegria com o que os crisecos entendem estar a passar-se. E entre a falsa preocupação da superfície e a nua realidade do interior - ser perversamente dúplice no cenário de uma hipócrita conversão na estrada de Damasco -, irrompe um receituário piedoso, cheio de peregrinas mezinhas do género "oiçam o que vos digo, eu sei perfeitamente o que se está a passar".
Atenção à guerrilha cibernética
Vivemos - e iremos viver mais intensamente - certas turbulências políticas, em Moçambique e no mundo. Nas turbulências políticas surgem boatos, expressos das mais variadas maneiras e pelos mais variados canais. Há boatos espontâneos e boatos intencional e politicamente criados. Estes últimos visam causar indecisão, desorientação, pânico e hostilidade. Prestem especial atenção aos ciberboatos oriundos de ciberfontes havidas por confiáveis mas que mais não são do que exercícios panfletários de guerrilha cibernética agindo sob anonimato, especialmente ao nível das redes sociais digitais.
26 abril 2016
"Não foi apenas por cima de nós que caiu o céu"
"Não foi apenas por cima de nós que caiu o céu" - eis a última frase de um artigo de Armindo Chavana Jr, intitulado "Indignação ou indignidade!", a propósito da dívida pública do país, a conferir aqui.
Prémio Escolar Editora de Ciências Sociais
Amplie a imagem com o lado esquerdo do rato para a ampliar. Se preferir o regulamento em pdf, importe-o aqui.
Pedido: caso passe por aqui, por favor difunda o regulamento pelas suas redes de amigos e colegas. Obrigado.
Três tipos criminais em Moçambique [5]
Número anterior aqui, sumário aqui. Mantenho-me no primeiro ponto do sumário proposto, a saber: 1. Linchamentos, passando agora ao ponto 1.2. Périburbanos. O linchamento essencialmente periurbano, por acusação de roubo ou de estupro, ocorre regra geral de noite, a cargo de uma multidão que mata por agressão, à pedrada ou por queima com gasolina. A vítima é quase sempre um jovem do sexo masculino desempregado.
25 abril 2016
Vandalizadas campas de crianças
Descobriu-se hoje que vinte e cinco campas, especialmente de crianças, foram vandalizadas em dois cemitérios do municipio do Xai-Xai, província de Gaza. Um responsável do município mostrou-se preocupado com o fenómeno, acrescentando que se ignoram as causas, mas pedindo vigilância popular para o que se está a passar - "Rádio Moçambique", jornal da noite das 19:30.
Adenda: há muito que um pouco por todo o país os ossos dos mortos são motivo de assalto e comércio. É necessário e urgente investigar em profundidade o fenómeno, criando-se a nível nacional algo como uma Unidade de Diagnóstico Social, a qual, anos atrás, criei no Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane. Linchamentos e xenofobia foram campos de pesquisa e publicação nessa unidade.
Adenda: há muito que um pouco por todo o país os ossos dos mortos são motivo de assalto e comércio. É necessário e urgente investigar em profundidade o fenómeno, criando-se a nível nacional algo como uma Unidade de Diagnóstico Social, a qual, anos atrás, criei no Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane. Linchamentos e xenofobia foram campos de pesquisa e publicação nessa unidade.
Estradas dialécticas, epidermes complexas
Enquanto uns tentam escurecer a pele, tentam outros embranquecê-la.
Uma parte dos "brancos" adora ir à praia bronzear-se ou aos institutos de beleza receber raios ultravioletas. Escurecer a pele é um ideal de beleza, ficar escuro, quase negro, dá auto-estima. É suposto que, assim, homens e mulheres se tornam mais atractivos, com mais saúde, com mais "feeling".
Mas enquanto isso, uma parte dos "negros" jovens tenta ficar branca, através da despigmentação obtida com produtos químicos de grande toxicidade sob formas de cosméticos ou de medicamentos usados em dermatologia. Essa é uma prática já muito espalhada em África, designadamente no Congo, no Zaire, nos Camarões, no Gabão, na Nigéria, no Burquina Faso e no Níger.
Fascinante é o mundo, dialécticas as estradas da vida, complexas as epidermes.
Uma parte dos "brancos" adora ir à praia bronzear-se ou aos institutos de beleza receber raios ultravioletas. Escurecer a pele é um ideal de beleza, ficar escuro, quase negro, dá auto-estima. É suposto que, assim, homens e mulheres se tornam mais atractivos, com mais saúde, com mais "feeling".
Mas enquanto isso, uma parte dos "negros" jovens tenta ficar branca, através da despigmentação obtida com produtos químicos de grande toxicidade sob formas de cosméticos ou de medicamentos usados em dermatologia. Essa é uma prática já muito espalhada em África, designadamente no Congo, no Zaire, nos Camarões, no Gabão, na Nigéria, no Burquina Faso e no Níger.
Fascinante é o mundo, dialécticas as estradas da vida, complexas as epidermes.
No "Savana" 1163 de 22/04/2016, p.19
Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Nota: "Fungulamaso" (abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. A Cris, colega linguista, disse-me que se deve escrever Cinyungwe. Tem razão face ao consenso obtido nas consoantes do tipo "y" ou "w". Porém, o aportuguesamento pode ser obtido tal como grafei.
24 abril 2016
Futsal: Moçambique no mundial 2016
A seleção moçambicana de futsal bateu hoje a Zâmbia em Joanesburgo por dois a um, qualificando-se assim para o mundial da modalidade a realizar-se em Outubro deste ano na Colômbia. É a primeira vez que isso acontece. O Brasil é o campeão em título. ["Rádio Moçambique", informação no jornal desportivo das 19 horas]
Recursos minerais e guerra subterceirizada
Extracto de um texto, a propósito da exploração de recursos minerais no Congo: "É mais fácil, barato, e lucrativo armar criminosos no interior do Estado-Alvo do que criar pretextos para agredi-lo de forma convencional e depois pedir reparações financeiras – da qual ele será impossível pagar – que podem ser convertidas em direitos de exploração de seus recursos naturais e econômicos." Aqui.
Três tipos criminais em Moçambique [4]
Número anterior aqui, sumário aqui. Mantenho-me no primeiro ponto do sumário proposto, a saber: 1. Linchamentos, passando agora ao ponto 1.1. Rurais. Os linchamentos por acusação de feitiçaria ocorrem regra geral em meio rural, seja de noite seja de dia, a cargo de pequenos grupos formados por familiares, vizinhos ou contratados especialmente para o acto. A vítima é quase sempre uma mulher de certa idade, em idade não procriativa. Tenho a hipótese de que muitos casos letais não chegam ao conhecimento das autoridades por serem considerados culturalmente justos e, portanto, normais.
Sobre a paz
Multiplicam-se grandiosos apelos à paz, para que a Renamo páre com a guerrilha destruidora e letal. Urge que sejamos irmãos cordiais - pedem públicos dos mais variados extractos e matizes sociais. Só falta saber o que a paz pode significar em termos de redistribuição de poder político e se os crimes cometidos serão, uma vez mais, amnistiados, em prol da santa impunidade.
23 abril 2016
Falta-nos a pedalada da Lurdes Mutola
Algum dia se fez neste país um seminário a sério, prolongado, sobre como erguer e ajudar a manter a indústria moçambicana? Sobre como proteger a nossa burguesia? Sobre como financiar os nossos empresários, não os empresários com mentalidade chapa 100, mas os empresários que queiram investir (e que estão a investir) na produção a sério e produzir patamares de justiça social? Sobre como assegurar facilidades bancárias e juros preferenciais? Sobre como travar o acesso dos produtos estrangeiros que fazem colapsar os nossos? Sobre como fabricarmos a nossa mobília com cortes de madeira que assegurem a biodiversidade? Sobre como sermos um Estado forte ao serviço de uma indústria forte? Não: não fizemos, nem fazemos. Por quê? Porque estamos a juzante, porque somos matéria-primados, orgulhosos por exportamos o que os outros transformam para seu benefício. O que fazemos, fizemos ou poderemos fazer para evitar a síndrome da dependência, do arruinamento de tudo o que, de produtivo, é nosso e poderia ser nosso? Nada. Amamos apenas o primário e o terciário em nossas parcerias ditas inteligentes. A nossa mentalidade é de galinha. Falta-nos a pedalada da Lurdes Mutola. Para quê comer o nosso bolo se o bolo estrangeiro chega rápido e barato? Embarcamos orgulhosamente no "made in Mozambique" com os pulmões respirando, porém, o oxigénio do export matéria-primal. Amamos o turismo, os turistas, expomos praias, acampamentos na selva, camarões e leões. E o que mais? É inviável questionar as regras do jogo? É inviável defendermos um país forte, industrializado, lutador, com uma burguesia forte, com um Estado protegendo a sua indústria? É inviável pensarmos que temos centenas de engenheiros agrónomos capazes de pôr a nossa agricultura a funcionar em pleno sem necessidade de técnicas chinesas, americanas, russas ou galáxicas? Servirão as futuras estradas, a futura energia eléctrica para termos o nosso povo mais rico e feliz ou para fazermos com que a nossa matéria-prima saia mais rapidamente para benefício estrangeiro? Já nos interrogámos sobre isso? Já procurámos sair um pouco fora dos carris de quem nos pensa em lugar de nos levarem a pensar por nós-próprios? Estamos dispostos a pensar que a crítica faz bem melhor ao nosso povo e ao nosso país do que o seguidismo acéfalo, think-tanks?
CDH da OAM emite comunicado sobre a dívida pública do Estado
A propósito da dívida pública do Estado moçambicano, a Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Moçambique emitou um comunicado aqui.
Adenda às 06:49: entretanto, segundo a "Lusa", citando a agência financeira "Bloomberg", uma fonte do banco russo VTB "afirmou que o Ministério das Finanças moçambicano lhes assegurou que todos os financiamentos garantidos pelo Estado foram divulgados ao FMI." Aqui.
Adenda 2 às 06:56: a dívida pública moçambicana faz lembrar a da Grécia, confira um trabalho inserto no portal da "Bloomberg" aqui.
Adenda 3 às 07:26: Graça Machel citada pelo "O País" digital: "O que é preocupante é que o país deixou de ser uma referência, e agora as notícias dizem que Moçambique é dos piores exemplos que se podem encontrar em matérias de contrair e gerir a dívida”. Aqui.
Adenda 4 às 08:16: leia o que o Presidente da República disse ontem em Bruxelas, aqui.
Adenda às 06:49: entretanto, segundo a "Lusa", citando a agência financeira "Bloomberg", uma fonte do banco russo VTB "afirmou que o Ministério das Finanças moçambicano lhes assegurou que todos os financiamentos garantidos pelo Estado foram divulgados ao FMI." Aqui.
Adenda 2 às 06:56: a dívida pública moçambicana faz lembrar a da Grécia, confira um trabalho inserto no portal da "Bloomberg" aqui.
Adenda 3 às 07:26: Graça Machel citada pelo "O País" digital: "O que é preocupante é que o país deixou de ser uma referência, e agora as notícias dizem que Moçambique é dos piores exemplos que se podem encontrar em matérias de contrair e gerir a dívida”. Aqui.
Adenda 4 às 08:16: leia o que o Presidente da República disse ontem em Bruxelas, aqui.
"À hora do fecho" no "Savana"
Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1163, de 22/04/2016, disponível na íntegra aqui:
22 abril 2016
Fractura moral
O conhecimento público da dívida escondida do país, surgido como que um tsunami destruidor, revela - nos círculos nacionais de opinião mais sérios, mais idóneos, mais cidadãos - desalento, descrença, perda de confiança, mágoa e fractura moral.
Adenda às 19:35: entretanto, leiam aqui.
Adenda às 19:35: entretanto, leiam aqui.
O que Teodato Hunguana disse em 2002
Numa importante intervenção feita em Coimbra em 2003, Augusto Paulino, antigo Procurador-Geral da República, recordou as seguintes palavras de Teodato Hunguana (na imagem), pronunciadas em 2002 na Assembleia da República: "A única forma de evitar que o Estado caia definitivamente nas malhas do crime é desencadear uma guerra sem quartel contra os mentores da alta criminalidade e, também, dos seus executantes ou instrumentos. Um combate apenas dirigido contra estes, deixando aqueles incólumes e intocáveis, significa manter instactas as fontes da sua reprodução, fontes que se tornam cada vez mais poderosas e capazes de se apropriarem do próprio Estado".
Saca-rolhas social
A etnia (tribo, na linguagem mais rude) é um dos mais populares saca-rolhas sociais dos media, das redes sociais e dos blogues do copia/cola/mexerica. A concepção é sempre esta: lá onde habita um Africano, habita também uma etnia, a vida africana é essencialmente vida étnica, nenhum Africano escapa ao teleguiamento étnico. Esta não é apenas uma tese estrangeira, pois muitos são os Africanos que a defendem. No tocante a eleições, ela campeia.
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