Juiz de Direito no Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, secção de Instrução Criminal, Dinis Francisco Nhavotso Silica foi assassinado a tiro na manhã do dia 8 deste mês, quando conduzia a sua viatura. O juiz trabalhava nos raptos que preocupam o país. Esta é a segunda vez que um juiz é assassinado*. Só por si, o assassinato permite colocar esta pergunta simples: por que o juiz foi assassinado? Porém, acontece que, segundo a polícia, no carro da vítima foi encontrado muito dinheiro em meticais e dólares. Este fenómeno permite a colocação destoutra pergunta: por que levava o juiz tanto dinheiro na sua viatura? O infeliz acontecimento possui, então, dois fenómenos: o assassinato e o transporte de dinheiro. A primeira pergunta pode levar a supor que o juiz foi assassinado porque os raptores estavam incomodados com o seu trabalho sobre raptos; a segunda pergunta pode levar a supor que o juiz foi assassinado porque estava envolvido na corrupção. Os dois fenómenos e respectivas perguntas têm dado origem a posições públicas veementes, seja em jornais, seja em redes sociais digitais. Na versão do "O País", por exemplo, confira posições aqui e aqui. Rapto, morte, dinheiro. Como escreveu um dia o filósofo francês Paul Ricoeur, "o símbolo dá que pensar" neste conflito das interpretações.
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*O primeiro assassinato foi, creio que nos anos 90, na Matola, o do juiz Alberto Santos Nkutumula (mais a sua esposa). O juiz trabalhava no dossier do roubo de motores e de outro material de aviões militares.
Adenda às 05:23 de 16/05/2014: magistrados pedem segurança, leia aqui.
Adenda 2 às 05:48: leia esta versão aqui.
Adenda 3 às 06:09: leia Tomás Timbane, bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique, na sua página do Facebook, aqui e aqui.
Adenda 4 às 06:40: confira também aqui.
Adenda às 05:23 de 16/05/2014: magistrados pedem segurança, leia aqui.
Adenda 2 às 05:48: leia esta versão aqui.
Adenda 3 às 06:09: leia Tomás Timbane, bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique, na sua página do Facebook, aqui e aqui.
Adenda 4 às 06:40: confira também aqui.
4 comentários:
À esposa de César não basta ser honesta; tem também de parecer honesta.
Agora só falta saber se algum dia saberemos o que realmente se passou. Acho que nunca saberemos.
Não pode dizer-se que "o juiz transportava elevada quantia" só porque foi encontrada no carro do juiz: pode ter sido posta lá sem o juiz saber ou depois do homicídio, como noutra situação qualquer. Certo é que o dinheiro não foi o móbil do crime, o que é estranho e faz pensar que serve para difamar o juiz, ou seja, que pode haver um propósito de amedrontar os juízes que ainda estão vivos ... É possível também que os assassinos não soubessem da presença do dinheiro, matéria que a investigação deve abordar... A pior notícia é: se matam um juiz na rua, ninguém está seguro; pior ainda, se propagam notícias de corrupção sobre a vítima, nem sequer o património da família está a salvo... Recomendo: protejam a sua memória...
Normalmente quando acontece um simples acidente que seja ocorre de imediato um grande afluência de pessoas que nem por respeito guardam distância dos factos ( lembram-se quando despenhou uma avioneta na praia da Beira?) e NORMALMENTE TAMBÉM, a polícia e os bombeiros fazem-se tarde ao local(o próprio comandante geral da polícia sempre muito didacticamente nos explica que em nenhuma parte do mundo a polícia pode ser colocada em todas as esquinas).
Portanto, é mais do que crível que a cena do crime já estivesse viciada quando a polícia de investigação chegou, não se pondo de parte a possibilidade de colocação / subtração de parte do dinheiro encontrado mas certamente com muitas testemunhas atentas ao fenômeno.
Difamar um morto? Não me parece. Amedrontar os juízes? Talvez.
No entanto a troca de mimos entre a magistratura e a polícia que deve investigar faz antever um caso inconclusivo.
Se culpado o juiz , o Sistema vai de mal a pior.
Se inocente o juiz , o País está podre, as Mafias estão a Governar o governo.
É o apocalipse!
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