Seria fascinante que um dia os nossos linguistas começassem a estudar de que maneira ou de que maneiras as línguas são usadas enquanto mecanismo de dominação, urbana e rural, de que maneira ou de que maneiras elas se inserem na e homologam a produção de relações sociais hierarquizadas, de que maneira ou de que maneiras as formas de dizer e de escrever reflectem o poder extenso da dominação política, de que maneira ou de que maneiras reflectem estruturas de hábitos adquiridos e enraizados pelo poder político, de que maneira ou de que maneiras elas se inscrevem, enfim, nos campos simbólicos de luta e de dominação. Acresce que o poder político ama pouco a fragmentação das nossas línguas, a sua mestiçagem, a sua, digamos, urbanização. Por quê? Porque gente falante de várias línguas, gente de língua mestiça, vê melhor o mundo e descobre melhor os cordelinhos das relações sociais, os mecanismos da dominação política.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
1 comentário:
O recurso a uma linguística fraudulenta e mistificadora permite institucionalizar um léxico que incorpore os pressupostos que o Poder pretende perpetuar. A descodificação de palavras impregnadas de ideologia permite, segundo François Chesnais, apreender as linhas básicas do processo de internacionalização do capitalismo bem como o festival de termos “vagos e ambíguos” que se tornaram dominantes no discurso político e económico recente: austeridade, meritocracia, inevitabilidades, empreendedorismo, partilha de objectivos, construção do futuro, precariedade...
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