04 março 2014

A que lado pertence Filipe Nyussi?

Existem dois tipos de verdades: a verdade útil e a verdade verdadeira. A primeira dá-nos o conforto de uma certeza sem certeza, do género: não há fumo sem fogo. A segunda dá-nos a plenitude da irrevogabilidade, do género: dois e dois são quatro.
Claro que o bom senso obrigará a dizer algo ao nível da verdade verdadeira: então não se vê logo que Filipe Nyussi está do lado da Frelimo?
Em política e no bom senso em geral, há o fenómeno fascinante de se tomar a verdade útil por verdadeira. Exemplos: o candidato presidencial da Frelimo, Filipe Nyussi, é o candidato de Guebuza (diversos jornais digitais, blogues e redes sociais); o candidato presidencial da Frelimo, Filipe Nyussi, está conotado com a guerra (Fernando Mazanga da Renamo); o candidato presidencial da Frelimo, Filipe Nyussi, é o candidato do povo ("Notícias" de 03/03/2014, a seis colunas na primeira página, acompanhada de uma enorme fotografia de Nyussi).
Antes de prosseguir no que pretendo mostrar, julgo importante colocar como hipóteses que a futura propaganda eleitoral já possue duas formulações "précandidatas": Nyussi como arauto da guerra (Renamo) e Nyussi como candidato do povo ("Notícias").
Mas regressemos à impertinente e na aparência redundante pergunta desta postagem: a que lado pertence Filipe Nyussi?
Resposta: por enquanto não sabemos, para além da verdade verdadeira de que Filipe Nyussi é o candidato presidencial da Frelimo.
Avancemos assim: o que poderemos saber no futuro, através dos carris da história? Por hipótese, fenómenos e respostas a perguntas do tipo: quais os grupos sociais que a linha nyussiana apoiará em caso de vitória presidencial? Terá em conta interesses empresariais estratégicos? Serão os já existentes? Serão outros? Entrará em conflito? Adaptar-se-á? Fará da exportação de matérias-primas a coluna vertebral do seu programa de governação ou procurará, antes, criar uma indústria nacional monitorada por uma burguesia moçambicana criadora, forte e patriota? Em que é que poderá distinguir-se das anteriores presidências em caso de vitória nas eleições marcadas para Outubro? Será um presidente-aspirina ou presidente-antibióticoResgatará uma linha samoriana de transformação das relações sociais ou abandoná-la-á definitivamente? Será um presidente subserviente à presidência política guebuziana na perspectica do duplo poder ou saberá dar autonomia à sua presidência? Que tipo de presidência? Resgatará uma linha samoriana de independência social ou abandoná-la-á definitivamente? E a nível das relações internacionais, que alianças fará, que parceiros escolherá? Finalmente: será um presidente que decalca o passado deixa-andar ou um presidente criador de um futuro verdamente social?
Então, a pergunta desta postagem pode, agora, ser corrigida assim: a que lados poderá pertencer Filipe Nyussi?

2 comentários:

Foquiço disse...

Na verdade esta indagação será tomada em conta pelos que vem se despertando cada vez mais politicamente, desde então até as úrnas. Para mim, existe uma hipótese muito forte de que o candidato, ao vencer, poderá seguir a linha que o partido definir (geralmente, ditada pelos mais fortes), pelas seguintes razões:
1. constituía de antemão uma das preferências do chefe ou dos mais fortes;
2. a força do partido tem suplantado a dos seus líderes quando isolados (caso do recente ex-SG), razão por que terá que buscar sua ala...
3. o facto de não pertencer a geração 25/9, o que em algum momento pode o tornar vulnerável as diferenças e preferências das alas nessa geração.
4. poderá não ser tão forte o suficiente para encarar e combater a grossa corrupção que virou moda na nossa administração, dado que os grandes corruptos tendem a ser "intocáveis", o que lhe pode remeter a um deixa-andar ao seu estilo, portanto, poderá ser um presidente-aspirina.

Quero ressalvar que as mesmas questões são (ou fazem sentido também serem) levantadas, aquí e acolá, sobre a futura administração nacional, se o “candidato do civil” vencer...

Sem mais, que prevaleça a PAZ!

ricardo disse...

Basta ler o que tem sido dito por certos ministros dos negocios estrangeiros que nos visitaram ha pouco, para se saber de que lado esta Nyussi. E no Rovuma onde tudo se aposta. Logo, e natural que o proximo PR fosse das proximidades. E o novo SG conhecesse bem o terreno que pisa.

Depois, vai-se transferir o risco politico de Tete para o mar, e um ultimato sera feito a Dhlakama, que tera que optar pela GUERRA ou pela PAZ.

Deja-Vu!