20 setembro 2011

Um blogue a consultar

Confira, por exemplo, o texto intitulado O problema fundamental de Angola (reflexão), aqui.

10 comentários:

Muna disse...

Acompanho este blogue do angolano Marcolino Moco há já quase um ano. Ele, o autor, o sabe.

Talvez por ter sido seminarista, cultiva uma escrita vernácula e o linguajar polido. É, sem dúvida, uma sumidade de pessoa. No país temos muitos, a maioria andam ancorados ao sistema.

Convido aos leitores deste diário, se me for permitido tal ousio, a dar uma vista de olhos à este blogue, seus textos, destilações e lucubrações.

É provavelmente o único membro do MPLA que desafia de frente o seu partido e o seu líder JES.

Mas atenção, estas não são linhas de quem bajula alguém, pelo contrário, vibro até não mais quando a coerência - numa pessoa - funciona como uma linha-férrea.

Concordo com o poeta, estas palavras:

"Mas a verdade é uma: este Moco não só escreve bem português, como também pensa e constrói um jardim de beleza literária. Muitas das vezes, é preciso sair do palco para ver como vão desfilando os maus dançarinos. Mas para continuar a "atacar a onça é preciso ter a vara comprida". O Moco a possui".

Subscrevo.

Zicomo

nachingweya disse...

Sim, recomenda-se o estudo deste artigo.
Sobretudo nesta circunstância em que foi lançada a proposta de revisão da nossa Constituição sem indicação dos aspectos a rever. Porque também por aqui temos visto essa 'anacrónica sacralização do poder, especialmente do PR'.
Não será a revisão da lei-mãe o prenúncio da formalização dessa 'teocracia humana' que Moco denuncia?
Tenho observado que em quase todas áreas da sociedade moçambicana (e africana) a passagem de testemunho ocorre em ruptura com o passado obrigando sempre a um recomeçar. Nas empresas públicas a massa crítica de ontem não serve hoje, no desporto é que vemos( os treinadores precisam de interpretes para comunicar com os jogadores), em política só Samora sobrevive incólume, talvez ilibado pela trágica morte.
Tudo por causa desta idiota e sim, anacrónica, sacralização do poder. O chefe ( a todos os níveis pois essa é A Doutrina) é o que está sempre certo, é o que deve ser mais rico, é ante quem todos se devem prostrar para lograr merecer as migalhas da sua mesa.
É humano (demasiado humano) que o chefe se queira perpetuar chefe até chegar 'à fase de macaco' que a natureza impõe como nos é dado publicamente ver no Zimbabwe.
A este propósito é interessante observar a média de idades dos executivos do EUA e Europa em comparação com a dos africanos.
Tirando Reagan e George Bush-pai, a média etária dos presidentes americanos das úlitmas 5 décadas não deve ultrapassar os 50 anos. Na Europa idem. Em África, salvo raras excepções, depois do vigor vinténio dos libertadores nas décadas de 60/70, agora são velhos, quase decrépitos, os que dirigem o continente com tendência de se eternalizarem no poder ou colocarem em seu lugar autênticos moluscos acéfalos.
Ao contrário do perfil etário das populações dos continentes e paises referidos.
Eu defendo que os limites de idade para reforma estabelecidos pela Lei de Trabalho com base em critérios ciêntíficos deviam ser aplicados para todas as actividades, incluindo a presidência da República. As pessoas precisam de ter o se tempo para os netos!

Muna disse...

"A este propósito é interessante observar a média de idades dos executivos do EUA e Europa em comparação com a dos africanos".

Este tipo de comparação é desajustada e injusta. Demasiadamente injusta.

Os nossos ditadores só o são porque passaram nos exames de admissão da "Doutrina Ocidental". Só se torna ditadores em função do xarope que recebem do Ocidente.

Que fique claro que um ditador não o é, não se faz ditador em função em número de anos que permanece no poder, é muito mais do que isso.

Nem sempre o uso abusivo do poder torna um líder ditador.

Todo o sistema luta para a sua própria defesa e isto tem custos.

Zicomo

Salvador Langa disse...

Site a não perder, sem dúvida.

nachingweya disse...

Longe de mim injustiçar qualquer ditador, inocente ou não. Move-me apenas a lógica. Assim: Como um país onde a esperança de vida do cidadão é de 49 anos é liderado por alguém com 85 anos e como outro país em que a esperança de vida tende a superar os 80 anos tem por líder um cidadão democraticamente eleito aos 44 anos. Sublinho o 'eleito' para que não se confunda com herança. (O conceito de «LIDHERANÇA» já vai ganhando corpo no nosso Continente).
Em termos estatísticos e considerando uma distribuição normal (curva de Gauss) no primeiro caso o individuo de 85 anos é uma excepção enquanto no segundo caso o indivíduo de 44 corresponde à Moda.
Que respostas aos problemas actuais se pode esperar de um antepassado que teima em deambular entre os vivos?
O papel de ancião é o de conselheiro.
PS. Só um reparo: Os nossos ditadores só se tornam ditadores porque nós deixamos. Não depende de nenhuma poção ocidental.

Muna disse...

Caro Chamuale,

Onde foi buscar esta tese de que África está "atrasada" por causa da "idade avançada" de seus líderes?

A existir tal tese, o que não acredito, é possível que entre para o livro de recordes mundial, o famoso Guinesses Book.

Já que você faz referência a idade dos líderes africanos, eu virava a moeda para lhe perguntar, com alguma ironia, qual é a idade dos réis que habitam em majestosos palácios no Ocidente?

Por favor não me venha dizer que os réis não têm poderes nenhum, que são apenas símbolos, pois esta é uma conversa é para fazer bois dormir.

É certo que o amigo acompanha os noticiários dos países ocidentais e, bem assim, a governação de seus filhos, não lhe é alheio o facto da economia ocidental estar no colapso. Porquê será, amigo?

Será isso culpa da idade desses políticos? As invasões que fazem em economias gordurosas de África, fazem-no pela idade? Afinal não são feitas por esses jovens governantes?

Qualquer que seja os problemas de África há um fiscal de linha externo. Até busca-se neles reconhecimento para legitimar a sua independência, permanência ou sobrevivência?

Zicomo

nachingweya disse...

Tenho que citar o Professor Carlos Serra: 'Eu sou apenas porta voz das minhas hipóteses'. Respeito também as hipóteses dos outros, quando as há.
O que a vida me tem proporcionado ver são Mobutus que assassinam brutalmente os seus opositores para as suas esposas irem trançar os cabelos em Bruxelas e Paris fazendo-se transportar em aviões a jacto privativos, Kamuzu Bandas, Khadafis, Mubaraks, Mugabes e Zedus que se pretendem vitalícios em funções como se para além deles não houvesse mais ninguém.
Que mão externa motivará estas atitudes?
Cada momento tem os seus desafios e cada desafio merece os seus talentos. É por esta razão objectiva que a Lurdes Mutola não correu durante os recentes Jogos Africanos.

ricardo disse...

Enquanto o sistema "chines" de controlo de blogues nao funcionar em Luanda, Moco continuar a dizer aquilo que os manifestantes nao podem dizer na rua, mesmo autorizados. O problema e que o indice de penetracao de Internet em Angola e muito baixo. E onde existe, e essencialmente consumido pela CLASSE MEDIA-ALTA que se tornou no problema fundamental de Angola. Portanto, as palavras de Marcolino em Angola sao dirigidas essencialmente para orelhas MOUCAS...

nachingweya disse...

Adenda:
“… Não tapemos os ouvidos e não vendemos os nossos olhos, ressuscitando os fantasmas do “imperialismo internacional” como os culpados dos nossos próprios deslizes.
Como africano que vem reflectindo, há anos, sobre os nossos principais problemas, estou convencido de uma coisa: todos os mais importantes males que nos vêm de fora entram pelas brechas que nós próprios abrimos. E de depois culpamos os estrangeiros que defendem, naturalmente, seus próprios interesses.
Alguns já estarão a pensar que fechar estas brechas é criar exércitos poderosos ou hostilizar constantemente o experiente e bem estruturado Ocidente. Mas, para mim, fechar essas brechas significa intolerância pacífica mas enérgica contra partidarização do Estado, mesmo quando quem está no poder é o nosso próprio partido, porque a exclusão cria instabilidade; fechar essas brechas significa, antes de mais, criarmos um Estado onde todos caibam, antes de nos aferrarmos obsessivamente às vitórias dos nossos partidos. “
Huambo, aos 01 de Setembro de 2011
[sic Marcelino Moco in 'Sobre os cenários de sucessão', de João Melo]

Muna disse...

Chamuale,

Eu nao coloco em causa as suas hipoteses, alias nao tenho barametro para pedir hipoteses verdadeiras de falsas. Tambem sou um pigmeu quanto o Chamuale. Apenas discordei da sua tese, quando associou o atraso de Africa a idade de vinho do Porto de alguns de seus paladinos.

Finalmente a almofada foi uma boa conselheira para si, pois que hoje aparece com outro discurso. Acusa a Africa de ser curral de ditadores, da existencia de Mabotu, Mugabe, Kadhafi, etc., como se outros paises ocidentais nao tivesse seus Kadhafis!!!

Quando se discute os problemas de Africa aconselho-lhe a perseguir as pegadas da raiz desses mesmos problemas. Estes Dos Santos e outros sao pequenos jacares do Ocidente, nao sao nada perante individuos que levam uma ecoonomia inteira, diria mundial, ao colapso, que invadem um pais como o Iraque alegando a existencia de armas quimicas.

Destes senhores pouca gente fala, parece que o cardapio das relacoes internacionais é concentrar-se nos ditadores africanos.

Ja que voce citou uma das bandeiras da nossa academia, eu vou citar o meu poeta anonimo. "Para censurar os defeitos duma infraestrutura não custa, basta ter apetite de falar. Mas Marx, na sua décima primeira tese a Fuerbach dizia: muitos filósofos interpretam o mundo duma e doutra forma/maneira, mas a questão consiste em transforma-lo. O problema nosso é de cantarmos apenas a nossa tigritude, sem demonstrarmos nada.

Alguns analistas, pecam por abordar os problemas a partir de uma visado monolítica.Outros, por depender de tacho do hemisfério ocidental, parece terem sido ditos que vais continuar a pintar a África negramente e nós vamos manter o nosso compromisso: continuar a te pagar. Ouviste? Sim. Obrigado, patrão. Confirmada a hipótese: basta paga-los, deixam de ter os pés na terra e pensam conforme o cheiro do Euro ou do Dólar. Mas, antes de dizerem asneiras, adubam as consciências dos seus leitores, filosofando.

Será difícil a sobrevivencia de um pintainho cuja morte 'e desejada por muitos dos mandantes deste planeta".

Zicomo