21 setembro 2011

Marcolino Moco sobre Estado justo, brechas e exclusão

De um texto do angolano Marcolino Moco (doutorando em Direito e ex-primeiro-ministro) em seu blogue: "O que me preocupa, finalmente, é que estamos a construir um consenso do “orgulhosamente sós”, pelo menos nos universos que nos são mais próximos e afectivos (CPLP e SADC), onde o que for bom para o partido no poder é bom para todos os angolanos e para todo o sempre (...) Assim não se constrói um Estado justo, dinâmico e para todos. (...) Não tapemos os ouvidos e não vendemos os  nossos olhos, ressuscitando os fantasmas do “imperialismo internacional” como os culpados dos nossos próprios deslizes. Como africano que vem reflectindo, há anos, sobre os nossos principais problemas, estou convencido de uma coisa: todos os mais importantes males que nos vêm de fora entram pelas brechas que nós próprios abrimos. (....) Alguns já estarão a pensar que fechar estas brechas é criar exércitos poderosos ou hostilizar constantemente o experiente e bem estruturado Ocidente. Mas, para mim, fechar essas brechas significa intolerância pacífica mas enérgica contra partidarização do Estado, mesmo quando quem está no poder é o nosso próprio partido, porque a exclusão cria instabilidade; fechar essas brechas significa, antes de mais, criarmos um Estado onde todos caibam, antes de nos aferrarmos obsessivamente às vitórias dos nossos partidos." Aqui. Recorde neste diário aqui.

4 comentários:

Salvador Langa disse...

Aqui chamar-lhe-iam logo ´apóstolo da desgraça´. Mas felizmente que tempos apóstolos da graça como ele.

BMatsombe disse...

Este Muadié merece respeito.

Muna disse...

Ainda que admire profundamente Moco, nao concordo de todo com ele.

A Africa nao pode continuar a ser socorrista do Ocidente, ha que entrar no selvatico mundo da diplomacia de igual para igual.

Concordo que `orgulhosamente so` (celebre frase de Salazar) nao é a melhor vereda que Africa deve seguir, nao é viavel para Africa, mas tambem nao estamos a altura de ser capim para os veados comerem.

Mas eu compreendo, temos um Ocidente tonto e esfarrapado de dividas, e uma Africa que da sinais de vida, de estar a sair da letergia inusitada, haja apelos estonteados para que o continente continue a abastecer os seus biberoes no Ocidente.

Este mundo da voltas.

Zicomo

ricardo disse...

Contra factos, nao ha argumentos. Sei que no MPLA sempre houve quem pensasse assim. Na UNITA, tambem. Diria ate, em Angola, ha bastantes pensadores de alto quilate, muito bem informados, inclusive aqueles que gravitam no Futungo de Belas. Estes ultimos e que me preocupam. Porque estao conscientes daquilo que deveria ser feito e nao o fazem por conviccao cega no lider, que paradoxalmente, espera deles alguma contribuicao e nao hossanas. Resultando dai que, o lider, passe o seu tempo precioso com estrangeiros ou em viagem. Um impasse. E assim morrem a nascenca em circuito-fechado, intra-muros, boca-a-boca, ideias que poderiam resolver os verdadeiros problemas do POVO...
Tal como Moco, tambem nao perfilho da teocracia actualmente vigente em Angola. Eu sei que ZEDU e um homem inteligente que, se pudesse, largava hoje o poder. Mas, a teia de interesse que se criou a sua volta, fazem-no sentir hoje no mesmo papel de um Chefao da Mafia, que so se reforma com a morte. Penso que a maioria dos angolanos aprovou a sua ousadia de, a revelia dos ditames do FMI, materializar com a China estradas, pontes, vias de comunicacao e ate habitacao. E um facto, com essa cosmetica, Angola tornou-se muito mais atractiva para os investidores e ultrapassou Mocambique em muitos aspectos da reforma do sector publico, nomeadamente Tribunal de Contas que tem sido exemplar, quando o nosso tem sido sussurante. Mas, como Moco defende, isso nao justifica nem a sacralizacao do lider, nem sequer a monolitizacao do Estado. Se bem que, dificilmente se poderia fazer melhor agora, na minha opiniao. Coloquemos as coisas em termos realistas. Estivesse Moco na Presidencia, confrontar-se-ia directamente com a "entourage" militar e policial que lhe sustenta no poder e lhe concedeu vitoria militar e politica - legimitada pelo capital financeiro internacional? Mas nao foi esse o ERRO de Nino Vieira? O MPLA e um partido muito bem antenado, meus srs. e alem disso, nunca conseguiu enterrar os fantasmas do 27 de Maio de 1977. Contudo, Angola tem de se abrir. Tal como o niilismo da UNITA, o estalinismo deve desaparecer de vez do partido do poder. Se nao fosse o blogue, saberiamos o que Moco pensa sobre seu pais, senao os rotulos que lhe colocam os seus adversarios internos e externos? Eu nao me esqueco do dia em que, como primeiro-ministro, lhe hostilizaram pelas vitorias politicas e militares de Savimbi, por ele ser tambem Ovimbundu (a mesma "malta"...), mesmo quando os seus parentes foram assassinados pela UNITA. E ate hoje, sempre que podem, nos fazem recordar que ele vem do Planalto Central tal como os quadros dirigentes da UNITA. Como uma chaga. Como uma impressao digital.

A boa noticia e a de que, uma vez mais, no que tange a processos polticos, Angola sempre sera um laboratorio da democracia Mocambicana, onde poderemos expurgar antecipadamente o que nao nos convem...

P.S.

Caro Professor, ha uma coisa que me entristece e me irrita tambem na famigerada "sociedade civil", que e o espirito de inferioridade daqueles pequenos privilegiados que tem a capacidade de influenciar e esclarecer, que sendo afinal tao oprimidos quantos os demais que deveriam representar, se conformam com as algemas douradas dos algozes. Como:" antes preso, mas alimentado. Do que livre, e esfomeado!". Enfim, toda a inutilidade do novo que ja nasce velho. Mas e disto que Mocambique precisa hoje?!