Prosseguindo esta série. Hoje os momentos são outros, a roda da história parece ter outra história, as maneiras por que se lê e se analisa o que se passa utiliza estradas diferentes. Tenho para mim que não é má ideia recordar extractos de um texto de Samora Machel e retomar contacto com categorias analíticas que parecem perdidas, num país como o nosso onde é cada vez mais forte a presença do Capital internacional e, em particular, do Capital mineiro (clique na imagem abaixo com o lado esquerdo do rato para a ampliar):
Referência: Machel, Samora Moisés, O processo da revolução democrática popular em Moçambique (1970?). Maputo: Departamento de Informação e Propaganda, 1976, in Colecção estudos e orientações, Instituto Nacional do Livro e Disco, 1980, 78 pp.
(continua)
6 comentários:
Embora duvidando da "autoria" do texto, pois trata-se notoriamente de um estilo elaborado com o dedo de Aquino de Braganca e outros intelectuais de extrema esquerda da FRELIMO de entao, como Ganhao, Monteiro, dos Santos e Vieira. Ou se quisermos, resultado dos escritos de Elisio Martins (Eli. j. e. mar., Portugal e capital multinacional em Moçambique 1503-1973, Vol. II, African Studies Editorial, Denmark, 1975). O mesmo e contudo lapidar, porque permite vislumbrar que do ponto de vista ideologico, a FRELIMO tinha a percepcao muito clara da pujanca do seu opositor no quadro evidente da Guerra Fria, o que do ponto vista revolucionario, e uma vantagem tactica. O problema e que as revolucoes nao podem ser permanentes, pois criam instabilidade governativa, economica e social. Em algum momento, elas devem ceder o seu lugar a pensadores ponderados e a rotinas sistematicas.
Por outro lado, o texto, que me faz lembrar o programa eleitoral do Bloco de Esquerda em Portugal, revela uma ausencia total de alternativas crediveis porque enaltece os aspectos perniciosos da estrategia do Capital naquela que daria origem a SADC. MAS NAO FORAM OS ESTADOS DA LINHA DA FRENTE, COM SAMORA A CABECA, que deram origem a actual orientacao socio-economica da organizacao, com apelo ao Capitalismo de Estado? Nao seriam os Kholkozes, nem os Sovkhozes que nos poderiam guiar para um futuro melhor. Mesmo porque, nem sequer na RDA eles conseguiram produzir grande coisa. Porque nos anos 80, o bloco de Leste estava falido e sedento de divisas para dar de comer ao seu povo, quanto mais aos seus satelites do Terceiro Mundo. Vivia aquele Bloco, os mesmos dilemas da actual UE, que sofre ataques infames dos especuladores bolsista e principalmente, nunca conseguiu fixar o Euro, como moeda de referencia nos mercados globais em alternativa ao Dolar. Exactamente o que se passou com o Rublo, que embora servisse de referencia "oficial" do COMECON nunca suplantou o Dolar Americano. Infelizmente, reagimos muito tarde para tentar reverter a situacao, e como consequencia, temos hoje o FMI e o BANCO MUNDIAL, que sao, nada mais, nada menos que os fieis depositarios dos interesses do Capital e tambem, leitores avidos dos textos da "autoria" de Samora Machel.
Mas nao deixa de ser notoria esta deusificacao de Samora nos ultimos tempos. Samora, o Desportista, Samora, o Pai, Samora o Engenheiro, Samora, o Jurista, Samora, o Economista, Samora, o Historiador, Samora, o General. So nos falta ouvir falar de um Samora, o Messias na Terra, capaz de curar os enfermos, dar vista aos cegos, ressuscitar os mortos. O que nao se faz para elevar a imagem de um Partido sem rei, nem roque...Politica a mocambicana, no ano Samora Machel. E da preparacao do Congresso tambem!
O escrito do Ricardo é um perfeito exemplo de pensamento da extrema-direita, até mesmo por duvidar que Samora teve as ideias que expressou, também conheço quem dizia que Agostinho Neto não era o autor do que dizia e escrevia.
A direita é pura, a esquerda é impura. 'É ou não é?'
Não importando muito a sua autoria material, o texto revela um grande sentido de Estado e de futuro por parte de Samora Machel e sua equipe, apesar das alianças de percurso.
Muito acima dos hodiernos conselhos consultivos como opção de planificação de desenvolvimento.
PS
No que diz respeito a endeusamentos, lembrar que algumas ditaduras se socorreram, no passado, desse artifício para entreter as massas. É assim que se criavam os roteiros de chamas de unidade, museus a 'kim il sung', etc., etc.
Desse modo, os cães vão ladrando enquanto a caravana passa. E como passa!
O Poeta Nasce, o Orador Faz-se! Aplica-se a todos os casos, inclusive aos discipulos de extrema-esquerda...
Chefes de estado têm equipas que preparam os discursos com base nas ideias e nas notas que eles transmitem.
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