16 abril 2011

A produção de desconforto para conforto social (11)

Escrevi no número inaugural desta série que a produção de desconforto para que haja conveniência e conforto social é um dos mais interessantes campos da vida dos gostos em geral e da ruptura para com o corpo-em-si em particular.
A última ideia, a ideia de fecho desta série, é a seguinte: a história da humanidade é a história da produção de regras de convívio colectivo que inscrevem o corpo em limites suportáveis, limites supostos retirar-lhe ou esconder-lhe a perigosidade, especialmente a perigosidade sexual. A roupa e a alteração corporal são dois exercícios identitários de amortecimento ou de disfarce, mesmo quando - como tentei mostrar - permitem que o corpo se desnude. O desconforto daí gerado em múltiplas situações tem, porém, a contrapartida do conforto social, quer do acordo geral nas regras do viver colectivo, quer do acordo particular de grupos e estatutos. Mas mais, como também observei em número anterior: roupa e alteração corporal são um protocolo de luta contra o envelhecimento e o medo da morte, mesmo se e quando parecem ser apenas pura busca de alteridade e novidade. A este último propósito, tenha-se em conta o cada vez mais compexo e oneroso processo de rejuvenescimento da pele. Crédito da imagem aqui.
(fim)

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