O "Canal de Moçambique" de ontem apresentou os testemunhos de três pessoas sobre a seguinte questão: as manifestações do norte de África e do Médio Oriente podem afectar o resto do nosso continente? Vou tentar resumir os argumentos: (1) para o historiador francês Michel Cahen, a resposta é negativa, por duas razões básicas: ausência de nação e desconexão entre protestos populares e objectivos políticos; (2) para o professor sul-africano de Direito Internacional Comparado André Thomashausen, a resposta é igualmente negativa, por quatro razões: com excepção da África do Sul, subserviência generalizada, classe média empregada ou dependente do Estado apenas pensando no acesso político e nos benefícios, classes trabalhadoras desorganizadas e governos controlando as situações; finalmente, para o político, empresário e ex-KGB russo Victor Ivanov, tudo tem a ver com negócios de narcotráfico. Aqui.
Observação: tenho para mim que as três posições são excelentes para reflexão e debate. Fascinante é a capacidade complotária ivanoviana para esquecer que as pessoas podem ter razões para protestar e que são bem mais do que meros circuitos conspiratórios de cocaína.
Observação: tenho para mim que as três posições são excelentes para reflexão e debate. Fascinante é a capacidade complotária ivanoviana para esquecer que as pessoas podem ter razões para protestar e que são bem mais do que meros circuitos conspiratórios de cocaína.
5 comentários:
Não fiz futurologia, mas nada me garante que os ventos de mudança no Norte de África não possam atingir a África-subsariana.
Ainda que leve algum tempo, estas revoltas servirão de "Bíblia Sagrada" para a história dos povos futuros - se oprimidos. Haverá quem, num futuro breve, busque inspiração nos líbios, nos egípcios, nos tunisinos, etc. E a história é um repositório de exemplos disso.
Há dias atrás, em Lisboa, perguntei a um poeta moçambicano (que não quer sair do anonimato e que é mui admirador do Prof. Carlos Serra, aliás, deve-lhe uma resposta ao e-mail que lhe escreveu) se os ventos de mudança da África do Norte chegariam à outra parte da mesma África (subsariana) ao que me respondeu:
"Ninguém me garante que as galinhas estão cacarejando na África do Norte apenas chocarão seus ovos. Penso que serão chocados também ovos de serpentes. Penso que se o óleo da cozinha vizinha começar a cheirar bem pode invadir muitos quintais que parecem fortificados, obrigando as crianças a preferir outras ementas políticas. Trata-se de uma possibilidade não descartável".
E no fim do diálogo, advertiu (cito na íntegra)"é bom que fiques atento aos comentários do C. Serra no Diário de um Sociólogo", pois lá encontrarás uma análise sociológica exaustiva daquilo que considero ser as hecatombes do nosso Continente."
A seguir perguintei-lhe, então, caro poeta, sendo assim - que C. Serra já apresenta no seu blog o remédio para os problemas de África, porque é que o nosso país em particular não anda para a frente?
Resposta: - "Meu caro amigo, V. Dias, quando a grandeza intelectual de um homem como C. Serra é 'quilimanjarada' (do Monte Quilimanjaro) não é para ser compreendido pelo sistema. Bom final-de-semana.
Zicomo
No meu ver, quer Cahen, como Tomahaussen tem carradas de razao. O que dizem pode ser demonstrado com factos comprovados.
Ja a tese de Ivanov e uma manobra de diversao. Usando como base os exemplos da Guine-Bissau, Costa do Marfim e outros que ele cita, nada justificaria que Kadhaffi estivesse a ser posto em cheque. Lembremo-nos que quem juntou as faccoes desavindas na Guine-Bissau (ambas com conexoes ao narcotrafico) foi Kadhaffi. Naturalmente, isso nunca teria sido possivel se, o proprio Kadhaffi nao tivesse conexoes directas com o narco-trafico. E como? Como ele proprio diz desafiadoramente aos europeus: "... se eu cair, levas de africanos invadirao a Europa...". Ora quem esta por tras deste movimento migratorio? Os mesmos que usam as rotas do Haxixe...
Logo, nao se percebe a alusao.
Contudo, futurologicamente, e de prever um AUMENTO do fluxo de droga para a UE por conta da desestruturacao dos estados do Maghreb, por conta das convulsoes sociais. So que, neste caso, aplica-se o principio da oportunidade que faz o ladrao...
E ja agora, nao existe similitude entre o que se passa no Maghreb e na peninsula Arabica?
Hoje, por exemplo, foram reportados incidentes na Arabia Saudita, sera do haxixe?!
De facto Viriato, esse "teu" poeta, tem muita razao, em relacao da "Grandeza Intelectual" do Mestre,
Agora se "nao 'e pra ser percebida" pelo sistema, ou "'e desconseguida de perceber" pelo sistema, 'e que 'e a grande duvida.
Eu acredito que podem ser as duas hipoteses, uma depois da outra, assim:
Uma vez a Grandeza Intelectual do Mestre, "ser desconseguida de perceber pelo sistema", entao "ela nao 'e pra ser percebida pelo sistema", tambem.
Em vice-versa tambem funciona,
Como ela "nao 'e para ser percebida pelo sistema", entao ela tambem "'e desconseguida de perceber pelo sistema".
O que que preferes ? a primeira-versa ou a vice-versa ?
NOTA:
O "desconseguida" 'e cumprimentos ao meu amigo com U maiusculo, o "sumido" UmBhalane.
As duas hipóteses estão certas, KARIM.
Zicomo
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