08 setembro 2010

A palavra povo

Os manifestantes de 1/3 de Setembro foram qualificados por certos círculos como malfeitores, bandidos, criminosos, irresponsáveis, ilegais, crianças, etc. Mais : gente houve que descobriu tenebrosas e desestabilizantes mãos externas. Criou-se um clima de paranóia conspiratória e anatematizante. Ontem, porém, o Estado decidiu acabar com os aumentos de preços e pôr em campo um programa de austeridade - justamente tendo em conta as manifestações, as exigências dos manifestantes. A palavra povo surgiu de novo no vocabulário. O povo reivindicador é apenas povo e, afinal, tinha razão. Não é, então, malfeitor, bandido, criminoso, irresponsável, ilegal e criança. Recorde a minha carta ao presidente da República, aqui. Recorde Onde anda a "FIR" do Estado Social?, aqui.

11 comentários:

Cuha disse...

Pelo menos o governo foi inteligente numa coisa: evitou que o seu porta-voz aparecesse em menos de uma semana a se contradizer. Na semana passada o jovem dizia que nao haveriam de baixar os precos. Ontem, se ele lesse aquele comunicado, estaria simplesmente a ser ridiculo.
O Governo de Mocambique primeiro fala, depois pensa, e finalmente contradiz tudo o que tinha dito na primeira ocasiao.

Laude Guiry disse...

Caro Professor

Sei que parecerei do contra, mas eu acho que o que o Governo fez foi passar a batata quente para o proximo residente da ponta vermelha.

As medidas aqui tomadas (principalmente as que involvem subsidios) nao sao sustentaveis. Eu acho que o Governo foi apertar o cinto, e disse que se lixe quem ira pagar eh o futuro.

Eu acho que, como resultados de varios erros macroeconomicos, cometidos ao longo dos anos, Mocambique encontra-se numa situacao em que medidas contracionarias e subidas de precos sao necessarias. O Governo errou em nao aumenta-los de forma gradual.

Com estas medidas propostas, estamos a cavar a nossa cova mais fundo, e adiar o dia do enterro. Porque este, inevitavelmente ira chegar.

Continuo insistindo que o Governo precisa criar condicoes serias para incentivar a producao - nao distribuir dinheiro nos distritos. Trabalhar para que o empreendedorismo privado nacional seja possivel - para individuos letrados e iletrados.

Toda gente esta a dizer "Povo no Poder" - eu coloco-me a rir e digo, estao todos cegos com medidas a curto prazo.

Anónimo disse...

Sou leigo na matéria, contudo, segundo o comunicado disponivel no http://www.portaldogoverno.gov.mz/comunicados/Comunicado%20da%202SECM10.pdf, não consigo compreender como só agora o Executivo percebeu que a dupla cobrança da taxa de lixo nas facturas de energia para os consumidores do sistema pré-pago (Credelec)"ponto 1.c, do mencionado comunicado", constituía uma injustiça, sublinho, INJUSTIÇA, que o ESTADO cometia contra os beneficiários deste serviço que foi IMPOSTO pelo mesmo Estado. Quem irá ressarcir os injustiçados?
Como havia dito, que sou leigo na matéria, não compreendo o alcançe da medida referente ao congelamento do aumento salarial e subsídio dos dirigentes superiores do Estado. Quem são os Dirigintes Superios do Estado? (ponto 1.k do comunicado)
Quanto a redefinição da redução das viagens dentro e fora do país e direito do uso da classe executiva, e outros, (ponto 2.a), penso que nos voos internos e regionais, devia-se eliminar essas regalias de viagem em classe executiva, pois, devido a curta distância dos mesmos (não mais de 5horas), não se justifica que assim seja.
No que concerne a criação de novas instituições que acarretem custos adicionais ao OGE, veio tarde, pois, sinceramente, não vejo qual é a mais valia de uma Assembleia Provincial (ex. de uma de entre várias instituições criadas).
Por fim, quanto ao valorização do MT, é só deslocarmos a empresas que prestam vários tipos de serviço (ex: venda de viaturas, Universidades Privadas, transmissão de canais televisivos, estâncias turísticas, imobiliárias, serviços de saúde)e que os governantes são utentes dos mesmos, para verificarmos que os preços são fixados em moeda estrangeira.
Porém, devemos parabenizar o governo pela coragem que teve em reagir com medidas concretas, as reclamações dos Aventureiros, Malfeitores e Bandidos (que afinal tinham razão) da passada semana.

ricardo disse...

Exactamente, sr. Anonimo ha muitos exemplos destas duplas tributacoes que sao sempre pagas pelos mesmos: a Classe Media Trabalhadora.

E e aqui onde eu disparo fortemente contra todas as ordens estabelecidas neste pais como a dos Advogados, Economistas e CTA. Onde e que andava esta gente quando se praticava impunemente esta ilegalidade? Quantas facturacoes paralelas nao alimentou este esquema naquela empresa publica? Como e que isso foi contabilizado pelo SISTAFE?

E a AR como consentiu que isso perdurasse indefenidamente?

Porque?!...

Anónimo disse...

Muitas das medidas surgem apenas para engrossar a lista. São vários gatos entre poucas lebres. Porque não são facilmente monitórárias e são vagas sob pontos de vista de metas e indicadores.
Mais areia nos olhos do povo maravilhoso!

MFerrer disse...

Caro Prof. Carlos Serra,

Não me recordo de o ter conhecido aí em Maputo nos idos de 75/82...
Para além do meu trabalho em EEstatal, onde fui trabalhador independente, não-cooperante, mas onde assumi muitas responsabilidades ao nível da recuperação da produção agro-pecuária, lançamento de Escola de maneio pecuário em Gondola, construção na Matola do maior aviário de África, caso tivesse sido terminado..., recuperação e ampliação da produção avícola em todo o País, ampliação e recuperação da fábrica de tomate do Limpopo...também aí estudei na UEM e tive o enorme privilégio de ter aulas com Aquino de Bragança de quem muito me orgulho de ter sido amigo.
Depois desta enorme apresentação,de que peço desculpa, devo saudá-lo pelo seu blog que não conhecia e que me foi recomendado por um amigo moçambicano.
Já aqui fiz o indispensável link e espero contar com a sua esclarecida prosa se me der o prazer das suas visitas e comentários.
Sobre o irromper da violência popular contra o estado da economia e das perspectivas de vida sempre me insurgi contra o empobrecimento da população, dos trabalhadores assalariados.
Recordo que enviei ao então Ministro MMachungo um mapa comparativo do poder de compra de um cabaz básico aos preços de 75 e depois, em 78 e 79.
Infelizmente não possuo cópia desse trabalho. Mas alertava-o para o empobrecimento de quem trabalhava e que, ao contrário, já de alguns, o qfuturo apenas prometia mais e mais penúria.
Hoje, 30 anos passados, o que foi feito para desenvolver o iniciativa privada? A agricultura e a pecuária sustentada?
Se nada foi feito e apenas se gastaram verbas em condomínios fechados...qual o futuro da população?

Cumprimentos!

MFerrer disse...

Caro Prof. Carlos Serra,

Não me recordo de o ter conhecido aí em Maputo nos idos de 75/82...
Para além do meu trabalho em EEstatal, onde fui trabalhador independente, não-cooperante, mas onde assumi muitas responsabilidades ao nível da recuperação da produção agro-pecuária, lançamento de Escola de maneio pecuário em Gondola, construção na Matola do maior aviário de África, caso tivesse sido terminado..., recuperação e ampliação da produção avícola em todo o País, ampliação e recuperação da fábrica de tomate do Limpopo...também aí estudei na UEM e tive o enorme privilégio de ter aulas com Aquino de Bragança de quem muito me orgulho de ter sido amigo.
Depois desta enorme apresentação,de que peço desculpa, devo saudá-lo pelo seu blog que não conhecia e que me foi recomendado por um amigo moçambicano.
Já aqui fiz o indispensável link e espero contar com a sua esclarecida prosa se me der o prazer das suas visitas e comentários.
Sobre o irromper da violência popular contra o estado da economia e das perspectivas de vida sempre me insurgi contra o empobrecimento da população, dos trabalhadores assalariados.
Recordo que enviei ao então Ministro MMachungo um mapa comparativo do poder de compra de um cabaz básico aos preços de 75 e depois, em 78 e 79.
Infelizmente não possuo cópia desse trabalho. Mas alertava-o para o empobrecimento de quem trabalhava e que, ao contrário, já de alguns, o qfuturo apenas prometia mais e mais penúria.
Hoje, 30 anos passados, o que foi feito para desenvolver o iniciativa privada? A agricultura e a pecuária sustentada?
Se nada foi feito e apenas se gastaram verbas em condomínios fechados...qual o futuro da população?

Cumprimentos!

Anónimo disse...

Os "malfeitores, arruaceiros, ladroes, desordeiros, etc, etc..." venceram. Entao temos um governo que se dobra perante estes ditos "malfeitores". Isto faz crer que para que haja mudancas e preciso partir o pouco construido antes? O grande perigo e isto virar moda: sempre que se quer mudar algo ou alcancar algo recorre-se a mafifestacoes de parte-parte. Antes do 5 de Fevereiro vieram ilustres dizer que nao havia outro caminho senao o que se estava a seguir: veio o parte-parte e encontraram o caminho por via dos subsidios aos chapas; antes do 1 de Setembro a historia repetiu-se, os mesmos ilustres, iluminados vieram dizer que estavam no caminho certo e que nao havia nenhuma outra alternativa: vieram os parte-partes e o resultado: afinal ha alternattivas.

A reducao das despesas publicas principalmente com viagens, ajudas de custos e combustiveis ja vinha sendo sugerido a bastante tempo mas ninguem quis dar ouvidos. Afinal eles sao os unicos iluminados. Mesmo este ano assistiu-se uma competicao de melhor norganizacao de conselhos coordenadores com avultadas somas de dinheiro gastas em viagens, ajudas de custo, combustiveis, e muito alcool.

Sera que aprenderam a licao? haver vamos

Abdul Karim disse...

As solucoes nao passam so por cortar custos desnecessarios e abusivos,

Passa por impulcionar iniciativas contrutivas,

Passa por estar predisposto a resolver problemas sem pancadaria,

E essa predisposicao para o dialogo, nao 'e visisvel.

A policia nao quiz dialogar, o governo continua a nao querer dialogar,

Numa situacao dessas, 'e infeliz o governo que so contabeliza prejuisos directos tangiveis e visiveis do problema,

Quando pararem pra ver os presuisos intangiveis da accao deles, talvez percebam o que perdem.

So o custo de imagem de Mocambique, inplicito, por essas manifestacoes, por teimosia, 'e de longe superior aos custos financeiros contabelizados ate momento.

Isso sem considerar os custos de perdas humanas, sempre irreparaveis e incalculaveis.

'e como eles dizem, "the land of contrast", onde os animais tem mais direitos que os humanos, digo eu.

Anónimo disse...

Algumas coisas que poderiam ser feitas pelo governo, já que todos temos que apertar o cinto em momento de crise:

- Diminuir as regalias dos chefes: se o cidadão que ganha salário mínimo deve trabalhar, poupar e pagar as suas despesas de renda de casa, mobília, educação dos filhos, transporte, água, luz, comida... porque é que os nossos dirigentes têm tudo isso de mão beijada? Eles que trabalham e ganham o que ganham também devem pagar pelo que consomem!

- Rever a constituição de modo a reduzir o número de deputados e de maneira a que esses senhores não estabeleçam para si próprios escandalosas remunerações e vantagens.

- Aos Deputados, PR, Ministros, Governadores, Directores Nacionais, PCA's de empresas públicas, deveriam ser confiscadas a favor do estado todas as acções/quotas/participações em empresas/projectos obtidas depois da entrada em funções.

- Acabar com a oferta de dinheiro aos membros do partido em cada distrito, colocar esses recursos no sistema bancário.

- Separação total entre partido e estado - presidências abertas menos frequentes e com menos gastos. Viajar de carro e apenas com o necessário. Sem pompas nem gastos exorbitantes. Nada de helicópteros de Maputo a Boane!

- Viaturas de estado menos luxuosas.

- Encerramento de alguns ministérios e transformação destes em secretarias nacionais integradas dentro de outros ministérios. Ex:

• Transformar o ministério dos antigos combatentes em secretaria, dentro do ministério da defesa.
• ministério das pescas de volta ao ministério da agricultura
• ministério da mulher no ministério da saúde, da mesma forma que está ao nível dos distritos
• ministério da cultura de volta ao ministério da educação
• ministério da juventude e desportos também dentro do ministério da educação.

Resultado - menos ministérios, menos ministros, menos gastos.

- Diminuição dos efectivos e portanto do orçamento da sise e da casa militar. Têm medo de quê? Não estamos em guerra com ninguém! Esse dinheiro, que é um exagero, deve ser imediatamente canalizado para alimentar o Povo!

- Eliminar sacos azuis e em geral a indisciplina financeira das empresas públicas.

- Encerramento de algumas embaixadas onde o país não tem grandes interesses culturais e/ou comerciais.

- Vamos fazer com que a sociedade se livre do capitalismo selvagem; e chega de insultos que recebemos através da publicidade do estilo de vida da sociedade frelimista: casamentos super luxuosos com gastos exorbitantes, etc.

Abdul Karim disse...

Eu voto a favor do Anonimo,

Pra comecar e impulcionar algumas medidas de recuperacao e "re-moralizacao" da nossa sociedade.

Para alem, obvio, de forte investimento no aumento de qualidade de educacao, de base ao topo, no sentido ascendente.