04 setembro 2010

Onde anda a "FIR" do Estado Social?

O pão está mais caro na cidade de Maputo, antes do dia previsto para o aumento de preço (dia 6 do corrente mês). Alguns dos meus assistentes e ex-alunos disseram-me que há especulação no preço do pão na cidade de Maputo, aumentou de dois/quatro para cinco, seis e sete meticais consoante as zonas e as padarias (resta ainda saber se o tamanho se manteve ou se diminuiu). Uma especulação. Seja qual for o preço, a questão é que o Estado tudo devia ter feito para evitar que ele subisse. Não o tendo feito e situando-nos agora no facto consumado, o Estado tudo devia fazer para evitar que o preço subisse antes do prazo determinado e, especialmente, como agora sucede, à maneira dos gostos especuladores. Não deve ser função do Estado fazer-se vítima púdica, justificando aumentos de produtos essenciais com a exterioridade dos condicionalismos. Ou abdicar do controlo preçário com o argumento de que leis de mercados são para ser cumpridas. Deve ser função do Estado contrariar isso por todos os meios ao seu alcance e assegurar que os cidadãos mais pobres possam comer pão a preço acessível. A função do Estado é a de - absolutamente - servir os cidadãos. Cada vez mais sinto que reina no país a convição darwinista de que o Estado não pode ser pai, de que o cidadão deve saber desenvencilhar-se, de que deve salvar-se o mais apto, de que devem sobreviver os melhores. É justamente aí que reside a medula do neoliberalismo e o comportamento predador dos grupos servidores e aproveitadores da teoria e dos réditos. O que é pão? É exercício de relações sociais. A favor dos fragilizados? Absolutamente não. Coloca-se a Força de Intervenção Rápida (FIR) do Estado Penal nas ruas para impedir desacatos. E onde anda a "FIR" do Estado Social para impedir quer que o cidadão coma a amargura, quer, como agora, que seja a presa fácil e irremediável da especulação com um alimento urbano fundamental para os mais pobres, para os mais desprotegidos? Ou teremos de aceitar que estamos perante uma violência menos violenta do que a traduzida por uma estrada barricada ou pelo apedrejamento de um carro?

14 comentários:

ricardo disse...

"...Cada vez mais sinto que reina no país a teoria darwinista de que o Estado não pode ser pai, de que o cidadão deve saber desenvencilhar-se, de que deve salvar-se o mais apto, de que devem sobreviver os melhores..."

Só se for por cá. Obama teve uma opinião diferente. E não foi o único.

Mausse disse...

Espero Sinceramente que neste periodo de aparente acalmia o governo reflita e rucue , pois n basta lamentar a perda de vidas humanas e apelidar os mocambicanos de maravilhoso POVO qdo esse mesmo POVO nao ve maravilhas no seu dia a dia....que tudo acabe bem e a contente do POVO.

V. Dias disse...

Este país há muito que foi hipotecado pelos interesses dos frelimistas e dos seus acólitos. Há muito.

Felizmente digo sempre o que sei e vivi.

Andei um "pouco" pelo país (de carro) e conheço mais ou menos a realidade do povo.

Já estive em zonas onde o povo nem sequer sabe dizer se vive em Moçambique!

Não conhece nem o PR... Não conhece e faz bem, porque com eles uma pessoa só apanha pertubações mentais.

Alguém já foi as matas de Kassacatiza para ver como vivem aquela gente? A Zumbo, a Marávia? A Mocimboa da Praia?

Zicomo

Abdul Karim disse...

Quantas mortes por balas balas Verdadeiras ate agora ?

Por Favor, preciso de dados exactos.

Anónimo disse...

Se eu tivesse uma padaria, e soubesse que o preco da materia prima ira subir para semana, estaria preocupado em como arranjar mais capital circulante para manter o negocio.

Esta a parecer que e necessario que eu aumentasse o preco o mais cedo possivel para manter o negocio de produzir pao aos niveis anteriores.

O que acham ?

V. Dias disse...

Karim,

Não é possível saber. Mas garanto-te se fosse uma calamidade natural como cheias, etc já teriamos vários ministros a se pronunciarem "bla, bla, bla" cada um com o seu número, tal é a sede da "mola". Como as balas vieram da polícia, podes crer que vai haver um silêncio total.

Zicomo

Abdul Karim disse...

O pao que eu saiba ainda vai subir dia no 6, pra dia 7 comemorar-se a vitoria da subida de custo de vida,

Esse 'e o programa que eu tenho conhecimento,

Nao ?

Ja subiu ?

Anónimo disse...

a propósito...
http://melomaniako.blogspot.com/2010/09/pos-manifestacao.html

Abdul Karim disse...

Viriato,

Silencio 'e BOM, as vezes, ai nao precisamos de falar alto tambem,

No silencio, falas baixo, e ouve-se Bem.

Vamos considerar "o Pais" como fonte, 'e "fonte credivel, como nas eleicoes era credivel", sao 11 mortos confirmados, e muitos deles ja enterrados,

Esta Bem,

11,

Vamos esperar amanha o G19.

Anónimo disse...

Ouvi dizer que tudo voltou à normalidade e que o preço do pão já subiu.

xicoxa disse...

Muita utwa munho....


Que a Paz Prevaleça

Unknown disse...

Dias
Eu vivo em Mocimboa da Praia e confirmo o que disseste. aqui a noção de País é muito vaga, muitos não sabem o significado dos feriados nacionais e poucos falam português.
ao mudar de Maputo para cá, tive a impressão de mudar de País.

Contudo, o interessante é que aqui, apesar de amior parte da população ser extremamente pobre (10 Meticais por dia) e dos preços ser mais elevados que em Maputo (100 Meticais o lito de leite, 45 meticais o litro de gasolina), não há revolta.

talvéz por não haver ostentação de riqueza por parte de um grupo social. existe diferentes camadas sociais, mas o contraste não é tão flagrante como em Maputo

ricardo disse...

Sr. Natalie,

Confirme-me apenas este meu corolario:

"...E possivel viver com pouco dinheiro, mas de barriga cheia, do que viver endinheirado, mas de barriga vazia..."

Aguardo V.comentario

Unknown disse...

Ricardo

Acha que não há revolta em Mocimboa da Praia porque as pessoas tem "barriga cheia"? Pode ser uma explicação, principalmente neste período do ano em que o arroz foi colhido. mas si não há fome, há malnutrição...
outra explicação seria o fatalismo que caracterisa os adeptos da religião musulmana dominante em Mocimboa da Praia.
outra ainda é a esperança que a situação pode melhorar, alimentada pelas transformações em curso no Distrito: electrificação, prospecção de petroleo, melhoramento de estrada...