07 fevereiro 2010

Privatizar as mentes das crianças?

Resumo de um texto em espanhol sobre o ensino em Espanha: o monopólio estatal do ensino gera a perda de qualidade, as crianças espanholas são educadas no sentido de que o Estado paga, subvenciona e tutela. Do nascimento à morte, os jovens têm as suas mentes estatizadas, votadas à mediocridade por professores sem preparo e sem incentivo que apenas defendem a estabilidade do emprego e a segurança do Estado intervencionista. O Estado é a paisagem natural das vidas e das ruas dos Espanhóis. Tudo conspira a favor da mediocridade. Há que privatizar as mentes. Aqui (se quer ler em português, use este tradutor, aqui).
Perguntas aos leitores:
1. O que entendemos por qualidade de ensino?
2. Diz-se que a qualidade do ensino em Moçambique é má. Tem isso a ver com as escolas do Estado?
3. O ensino privado assegura qualidade?
4. Privatizar as mentes das crianças é uma boa solução?
5. O nosso sistema de ensino reproduz e reforça as desigualdades sociais?
Adenda às 21:17: após o reparo de uma leitora, reformulei a primeira pergunta, com a alteração assinalada a vermelho.
Adenda 2 às 8:47 de 08/02/2010: uma vez mais procurei melhorar as perguntas em epígrafe, com a introdução de mais duas, também assinaladas a vermelho.

13 comentários:

Abdul Karim disse...

Puxa... se os espanhois soubessem que o que consideram de mediocridade para eles... 'e muito mais do que um sonho lindo para nos...

O nosso estado esta mais procupado em manter-nos miseraveis... esfomeados...

ricardo disse...

Antes de responder ao questionario, alguns comentarios:

Nota-se que este e um discurso de classe media e como tal, naturalmente contestario, porque a esta classe esta nas sociedades consumistas em via de extincao. Espanha e um bom exemplo. Viveu durante anos o "Milagre Europeue" pela mao de governos Socialista. E isso, criou habituacao. E de repente, o maior pesadelo de suas vidas caiu-lhes por cima: o desemprego. E a classe media e a mais atingida. Sao profissionais altamente qualificados, mas o mercado nao os absorve. Naturalmente que teem de culpar a Educacao. Se bem que haja razao parcial para isso, o "Sistema" e que esta errado. E isso, nenhum Estado e capaz de resolver. Faco notar que o sistema Espanhol ja se aproxima muito do nordico e contudo, nao ouvimos dizer reclamacao igual la. Justamente, porque o "Sistema" e diferente. Ha um fenomeno que nao e referido, mas que deveria ser respondido tambem. Que e o EXODO do rural para as urbes na Europa. Em Portugal chama-se "desertificacao". Muitas vezes constata-se que as oportunidades que nao aparecem na urbe, estao aos magotes na zona rural. Mas so a migracao estrangeira e que aceita ir para la...

Questao 1: Afirmativo, em termos absolutos sao as que acomodam o maior numero de alunos. Se o output destas for de qualidade inferior, entao probabilisticamente ira influenciar a cifra final do sistema. E onde se molda a classe baixa-media;

Questao2: Negativo, na maioria dos casos, as diferencas sao cosmeticas e cingem-se ao num. alunos X professor, areas de lazer, catering e pouco mais. Os materiais de ensino sao identicos e as metodologias tambem. E onde se molda a classe media-alta;

Questao3: Negativo, socializar e melhor. Privatizar e promover o individualismo puro e duro. Porventura, isso podera ser brilhante num primeiro momento. Mas certamente ira conflituar-nos a todos se pensarmos assim. O Primeiro Mundo (e ate nos agora) esta em crise e sem perspectiva, porque se tornou materialista, da crise financeira, evoluiu-se agora para a terceira crise, a politica. Mas ainda vira a derradeira, a social. E isto, e o resultado da privatizacao das mentes das 500 familias que governam o mundo.

Em toda historia da humanidade houve sempre quem evoluiu mais do que os outros, e uma questao de escolhas e de vontades. Negar isto, e pura utopia.

Abdul Karim disse...

Todas essas crises,... financeira, economica e politica... estao ligadas a factor comum... a ausencia de valores humanitarios...ganancia essencialmente...

.... defende-se economia de mercado... mas ainda nao se descobriu as possibelidades e opurtunidades para aumento de consumo... e ainda nao se chegou a conclusao de que a tal da necessidade do aumento de consumo no mundo , 'e directamente proporcional 'a procura existente no mundo tambem...

...ainda se esta longe de se concluir que os pobres podem ser um mercado potencial enorme para a subida de consumo...a tal necessidade necessaria.

...naturalmente que a crise financeira, vai gerar outras crises... se o mundo estava voltado para aumentar apenas o consumo dos ricos.... e diminuir ou acabar com o consumo dos pobres...

...tentei... acho que o Professor C K Prahalad no seu fortune at the bottom of the piramid... consegue ser bastante mais explicito....

... alias, acredito que 'e no trabalho de Professor C.K. Prahalad, onde a multinacional Indiana TATA assenta a sua estrategia de crescimento...

... concluir que.... 'e na educacao que teremos que restituir os valores humanitarios ao ser Humano...

e se nao conseguirmos fazer isso, nao sei se conseguiremos continuar a ser humanos...

micas disse...

Respondendo

1º Se é o Professor a dizer que o ensino em Moçambique é mau quem sou eu para contestar. Mas se é mau, muitas deverão ser as razões e não as conheço todas

2º O ensino por ser privado não é sinal absoluto de qualidade, mas um bom passo nesse sentido. Por ser pago as exigências dos pais são maiores e assim sendo também a escola tem de se esmerar quer na escolha dos professores(nas suas qualidades científicas e pedagógicas) como também a todos os outros níveis.

3º Essa de se privitzar mentes....
Aos educandos deve dar-se as ferramentas e mostrar caminhos.NADA MAIS! Até porque penso isso ser TUDO.

Para mim é igual se isto for conseguido numa escola pública ou numa privada.Todos nós conhecemos boas e más escolas de um lado como do outro.

Mas não se pense que a solução está só na ESCOLA. Ela isoladamente por grandes mestres que tenha, excelentes condições de trabalho, etc, etc...nada poderá fazer se não for apoiada pelos pais, e pela comunidade em geral

Sobre este tema muito, mas muito mais poderia ser dito.
Bom tema Professor para solicitar aqui o empenho de todos os intervenientes neste processo. Só com todos se poderá dar como ganha a batalha por um ensino de qualidade

Uma pequena nota para perguntar desde quando o Estado Espanhol tem o monopólio do ensino?
Permita-me discordar em absoluto com o texto sobre o ensino em Espanha. São notícias como esta que deturpam as mentalidades: Que tristeza de artigo. Que visão limitada tem este "Jornalista"

Carlos Serra disse...

Micas: eu não disse que o ensino em Moçambique é mau...Limitei-me a resumir um texto e colocar três perguntas para eventual debate. Vamos a ver se colegas professores emitem opiniões (Fátima Ribeiro, Manuel Lobo e outros).

Abdul Karim disse...

Acho que nessa juncao espanhola-mocambicana existem 1 problema, 2 realidades e mesmo resultado.

1- Problema: Qualidade de Ensino.

2- Realidades: - os espanhoes "nao pensam" porque o estado da tudo.
- os mocambicanos "nao pensam" porque o estado da nada.

uns nao pensam porque estao abastados e outros nao pensam porque sao miseraveis.

3- Resultado : ninguem pensa entao.

Agora qualidade de ensino:
1- 'e qualidade de ensino ter condicoes materias sem se ensinar valores humanitarios ?

2- por outra, nao ter condicoes materiais, 'e impedimento para introduzir-se valores humanitarios no ensino ?

3- Afinal como se define qualidade de ensino ? e ensina-se para que...?

micas disse...

Quem sou eu para argumentar consigo Professor...Logo no início do texto diz que é uma resumo.Até aqui tudo bem.

No entanto as perguntas são da sua lavra e a forma como coloca a 1ª pergunta.....

Carlos Serra disse...

Revi as perguntas e verifiquei que tem razão. Leia a adenda há momentos colocada.

Abdul Karim disse...

Professor,

Sera que vira alguem responder as questoes aqui colacadas...?

Ou vao so aparecer, pra ai uns pseudo-intelectuais difarcados na identidade, a tentar dissertar....

O centro decisor politico... nao aparece para estes debates... escondem-se nas paginas de jornais baratos... onde a mediocridade 'e idolatrada...

One Way Comunication Only... eles nao tem capacidade de debate de ideias.... sao mediocres....

...depois os espanhoes ate sao mediocres abastados... os nossos sao pobres de verdade.... levamos porrada ate na mediocridade...

Pobreza 'e complicado...

Vamos esperar...? ...Tudo bem, esperamos...!

Fazer o que...?

micas disse...

Bom...então vamos lá ver se estou minimamente informada sobre a realidade Moçambicana

1ª - Sim e porquê? Não pelo simples facto de serem do Estado mas enquanto que( a ordem pode ser considerada arbitrária)

-não houver escolas com condições físicas aceitáveis( WC, cantina, salas de aulas com cadeiras e carteiras para todos, salas com + de 40 alunos?)

-muitas crianças irem para a escola com fome

- professores mal pagos e sem incentivos de ordem nenhuma e cuja formação foi deficiente

- pais que por falta de preparação, acham que se os filhos estão na escola do estado é para passarem de ano( mesmo que tenham que fazer "pequenas ofertas" aos professores)

-conteúdos programáticos desajustados

Será que chega por agora? Todas estas situações vão ser uma bola de neve que vai sendo cada vez maior, desde a primária até ao fim da carreira académica.

Mas estejamos todos certos que país que não aposta na educação, saúde, segurança e desenvolvimento de vias de comunicação será sempre uma "país coxo"

Anónimo disse...

A Educacao é (era) uma das formas de perpectuar o "status quo". Hoje em dia há tendencias que levam a que a educação faça muito mais que isto. Isto é querem que a educação questione o "status quo" e procure soluções inovadoras para a sociedade e para a vida.

Não vou tratar de responder às suas perguntas professor, mas problematizar ainda mais.

A educação é um acto também politico. Se hoje temos politicos que tem forte influencia sobre as nossas vidas que consideram que temos que ter o(s) partido(s) nas instituições publicas, politizando tudo e todos, como a educação vai melhorar? As restriçoes ao pensamento começam ai e nao no facto da educação ser uma "quasi" prerrogativa do estado.
Por outro lado, o curriculo é "amarrado", fixo. Por mais que tenhamos um ensino privado o que ele pode melhorar se as condições de partida sao inflexiveis? (ou são pouco flexiveis)?
Ainda mais a educação tem a ver com o estágio de desenvolvimento da sociedade, com a possibilidade de a sociedade dar à educação e de tirar proveito da mesma educação. Por isso podemos questionar: O que a sociedade dá à educação: Professores? que professores? e que mais, alem dos professores? escolas? que escolas? Materiais de ensino? de que tipo? Permite ou estimula iniciativas? estimula o pensamento critico com apenas um partido na vanguarda?
Também nos podemos questionar: Os alunos aprendem e depois? tiram proveito dos seus conhecimentos? Encontram emprego? podem fazer o seu emprego? como? obtem emprestimos? Não é a corrupção e o nepotismo que hoje em dia alimentam o mercado de emprego, sobretudo no Estado? Por isso será mesmo que ensinamos aos nossos filhos para trabalhar aqui ou para evoluir noutros quadrantes? (Apenas perguntas) E para aqueles que nao sonham com outros quadrantes?

Mesmo assim eu creio que a descentralização e a concorrencia (ensino privado) podem ajudar a melhorar as condições do ensino em Moçambique. Mas eu acredito que mais democracia, abertura e inovação são necessários nas escolas publicas e privadas.

Cpts,

ricardo disse...

Respondendo às novas questões:

1. Qualidade de ensino é o resultado de uma equação que resulta do preenchimento de um conjunto de variáveis, também denominadas indicadores, que são produto de estatísticas acumuladas durante um determinado período. Como é natural, esta não é uma equação estática. Ela adequa-se à evolução dos tempos.

2. Já respondi a esta questão, a resposta mantem-se.

5. Originalmente não. Mas com o advento da economia de mercado isto passou a ser assim. Como aliás, também se observa em outras sociedades que perfilham este sistema. Penso que o Professor se recorda do percurso de muitos (por ex. o actual Ministro da Ciência e Tecnologia) mas que, graças ao sistema de então, "chegaram lá". Hoje, seria mais difícil, a não ser "pelas receitas de Paúnde"...Como é evidente, se APENAS um pequeno grupo de privilegiados tiver acesso exclusivo ao melhor ensino local, mas fundamentalmente no exterior. Torna-se claro que este será dinasticamente cada vez mais desigual do que os demais.

Abdul Karim disse...

Obrigado Ricardo,

talvez ai esteja o problema..."ela adequa-se a evolucao dos tempos"... a qualidade do nosso ensino nao esta adequada aos tempos reais globais... mas, esta adequada ao tempo real nosso, de mocambique.

....nos produzimos ignorancia... e ensinamos ignorancia... o resultado 'e a actual situacao do pais...

... temos o parlamento cheio de loucos... que decidiram que os unicos lucidos la... nao tem direito a expressar-se... 'e de loucos... mesmo de verdade...!