21 junho 2007

Um sociólogo moçambicano em Paris (1)

1. Métro Poissonnière : 8 horas de hoje, o silencio habitual do métro. A senhora entra, senta-se e logo de seguida, com os dedos da mao direita, inicia uma demorada limpeza do seu calmo e grande nariz. Impressionante a limpeza em profundidade, arqueológica. Após cada limpeza, enrola demoradamente com os dedos o produto pesquisado e atira-o placidamente para o corredor.
2. Arthur Fellig, conhecido por Weegee, o famoso fotógrafo americano (1899-1968), de quem ha uma espantosa exposiçao no Museu Maillol, rue de Grenelle , Paris, 7e, com 228 fotos. Nos anos da Depressao, ele foi o fotógrafo da brutalidade em Nova York (1935-1945), do salve-se-quem-puder, da pobreza, das desigualdades sociais, entre pistoleiros, bebedos, artistas, prostitutas e arranha-céus. Dentro da sua Chevrolet, fotografou pessoas assassinadas ou queimadas nos carros, mas fotografou especialmente os públicos de curiosos que olhavam a morte com o mesmo prazer com que se está no circo ou no cinema. E fotografou também os pedintes , as crianças de rua. Creio que nos falta um Weegee moçambicano.
3. Mercado St Quentin, 10è, amo estes cheiros todos das mais variadas coisas e dos mais variados países. E encontro camarao de Madagascar a 3 euros o quilo. Pensei entao no nosso camarao e no made in Mozambique do Eng. Fernando.
4. Sempre me fascinam as multidoes, esta espantosa diluiçao táctil do eu. A esse propósito, recordei-me hoje de Gabriel Tarde, do que um dia ele escreveu sobre a dificuldade de encontrar um elo que ligue, logicamente, o diverso, o plural, o desencontrado, o nao linear.

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