Senhor Presidente
Bom dia! Machibece!
Permita-me escrever-lhe esta carta, estou certo de que alguém lha dará a conhecer.
Chegou ao meu conhecimento de que querem destruir o cinema Kudeka para, em seu lugar, se construir um hotel.
Esse cinema, Presidente, tem sido, faz décadas, um referencial fundamental dos citadinos de Tete, desta cidade cujo início como burgo data de 1530. Sabe disso melhor do que eu.
E agora, querem deskudeká-lo.
E ainda por cima kudeka significa belo!
Não, Presidente, devemos impedir isso.
Como muitos outros, caro conterrâneo edil, faço questão de conhecer bem a cidade onde nasci, faço questão de conhecer bem o sabor sem perímetro do melambe, da maçanica, do pende, do cabrito, faço questão de conhecer sem fronteiras o sabor da água do meu Zambeze.
Como muitos outros, faço questão de conhecer o cinema Kudeka, lá onde o povo vai ver cinema num écran gigante, ao ar livre, ali próximo do campo de futebol do Desportivo. O maior e único do país, construção de raiz, alberga 773 pessoas. O único que funciona na cidade.
Como muitos outros, faço questão de conhecer o cinema Kudeka, lá onde o povo vai ver cinema num écran gigante, ao ar livre, ali próximo do campo de futebol do Desportivo. O maior e único do país, construção de raiz, alberga 773 pessoas. O único que funciona na cidade.
Não, Presidente, não podemos apagar a memória histórica da nossa cidade. Absolutamente não.
Saiba que já corre na internet uma recolha de assinaturas para uma exposição que, certamente, chegará ao seu conhecimento.
No que me concerne, estou aqui nesta frente de luta.
Obrigado por me ler, nta tenda!
Os meus mais respeitosos cumprimentos.
Carlos Serra
Centro de Estudos Africanos
Universidade Eduardo Mondlane
23 comentários:
Em Tete o cinema Kudeka, na Beira querem arrasar o antigo edifício dos Correios na Praça do Município para construir mais um centro comercial. O que faz objectivamente o nosso Governo para impedir a destruição do nosso património cultural e histórico?
Isso mesmo, Fernando, isso mesmo. Fazer isso com o edifício dos Correios é grave, gravíssimo! Esse edifício tem uma longa, longa história! Encetem aí vocês também este tipo de protesto! Abraço!
Esse Carvalho vai ter que passar pelas cabças de pessoas se quiser avançar com a sua decisão. Já faltam espaços de lazer em Tete: O Jardim Tunduro éstá invadida por fotografos e vendedores de recargas da mcel e vodacom. Jardim Macaco já não se fala. Campos de futebol faltam também. Teatro Mlambe desapareceu. Para além do basquete, futebol, que se pratica ao ritmo da nipa, o Kudeka era de fcato refer~encia para os joves que, fugindo ou evitando buadwa (pombe), iam pra lá passar tempo.
Também precisa de calcular o preço político.
Tem razão, Egídio. Vamos a outros exemplos mais personalizados: a casa dos pais do Sérgio Vieira, tombada, aquilo tinha paredes grossas, como se fosse um prazo. E sabe que o Newitt tem uma foto dessa casa. O edifício dos Carletis. A velha ruína da ilha Canhimbe...Etc.
Corrijo: como se fosse um amuralhado.
Infelizmente, o Carvalho parece não ter muito a ver com a questão. O Kudeca pertencia aum grupo de tetenses que, por sinal, até estão satisfeitos com a sorte que ele vai ter.
Enfim, continuaremos!
Luiza Menezes
Sim, mas é o edil.E deve possuir sensibilidade museológica.
Existem uns apologistas do devir (não se é está-se, o mundo não é, está etc, etc), mas na hora H são os maiores conservadores e saudosistas! Convenhamos! Admitam as consequenciais dos vossos posicionamentos epistemológicos!
Fernando, Egídio e Luiza: receio que uma futura panóplia de hotéis, centros comerciais e bancos possa vir a destruir outros coágulos da memória histórica. Aguardo, por exemplo, para conhecer o destino que se dará ao prédio Pott, aqui em Maputo, lá onde existe todo um repositório do associativismo.
Prof. vou usar o seu blog para contactar o Egídio Vaz
Sou Emídio Beúla, do SAVANA, estou a fazer um trabalho sobre a proposta do líder líbio de criação de Estados Unidos de África. Sei que interessa-se pela História e gostaria de ter uma conversa consigo na segunda-feira à tarde. A hora fica ao seu critério, eu estou disponível toda a tarde. Abraços
Olha Egidio e Prof. Serra peço a vossa ajuda, no sentido de indicar mais pessoas (académicos) que podem falar com conhecimento de causa sobre a ideia dos EUA. Sociólogo, historiador, politólogo,etc. Não me digam que vá ter com o Prof. Carlos Tembe, quero diversificar as fontes na imprensa.
Obrigado pela vossa compreensão. Bom fim de semana.
Esteja à vontade, Beúla. Penso que Egídio é uma boa possibilidade. Outra seria a de Severino Ngoenha, mas ele está na Suiça. Para o Tembe não o encaminho não...Abraço.
Também eu sofro com a hipótese de o Kudeka ir abaixo. Por que razão terá que acontecer se tem para várias gerações tão grande valor simbólico, se ainda continua a servir (Não foi lá que se realizou na semana passada o Miss Tete?), se a cidade tem tão pouco para os seus habitantes? Permitam-me a infantilidade de sonhar que o Presidente do Conselho Municipal e os novos proprietários vão chegar a um acordo: mantém-se o Kudeka, que passa a ser explorado numa parceria público-privada entre os novos donos e o Conselho Municipal, e este concede àqueles um outro espaço de igual nobreza e dimensões para a construção do hotel.
Fátima Ribeiro
Sim, foi lá, Fátima. E ainda há uma carta do Arune Valy que espero publicar amanhã.
É só uma maneira de pensar diferente! As torres gémeas já não existem, mas existem, vivem no nosso imaginário. Há filmes, livros, fotos etc, etc milhares de formas para ajudar o exercício saudosista de reminiscência! Onde esta, hoje, John Orr? Na memória! Essa de manter ruínas em nome do saudosismo, não me parece boa ideia. É apenas uma maneira diferente de ver as coisas. Não me arrogo o direito de dizer que os que defendem a sua manutenção não tenham razões plausíveis. Só não me parecem condicentes com a ideia de aceitar o devir. Afinal, necessário! Eu sou de Xai-Xai! Entre ver o clube de Gaza em ruínas e ver ali erguido um outro empreendimento, preferiria a segunda. No entanto, tenho o moribundo e ruinoso clube de Gaza no coração.
Mas quem falou em ruínas? Quem está contra o progresso?
O que acontece é que o Kudeca está impecavelmente mantido e tratado e ainda lá acontecem grandes realizações. Nada a ver com o clube de Gaza, por onde passei também.
Ninguém está contra a venda. Mas contra o destino de obra tão majestosa e imponente que custa ver propositadamente transformada em ruínas em nome de um progresso que tanto espaço tem para se realizar.
Luiza
Luisa, mova os seus contactos lá na nossa Tete para que o César tenha acesso à carta que escrevi. O Arune está na Beira, o Tomé Artur não atende o cel. Entretanto, mande a ref do seu email para o meu (consta do meu perfil), por forma a que eu lhe possa enviar a carta para assinaturas da Aissa do ISPU.
Luisa: afinal já introduzi o abaixo-assinado. E foi possível falar com o Tomé. Acredito que esta manhã César de Carvalho lerá o que lhe escrevi e espero ainda hoje receber uma foto do Kudeka.Aguardo crónica de Arune Valy.
"O problema dos investimentos": Patrício Langa deveria pensar, para além do soiológicamente correcto, dizia eu, devia também pensar o políticamente correcto. E aqui, quando falo do políticamente correcto quero me referir na necessidade de ver se o Hotel construído na outra margem de Tete (Matema ou Matundo, mantendo dessa forma o espaço onde actualmente está o Cinema Kudeka, esse Hotel não seria concorrido ou não: Do ponto de vista puramente turístico, não seria a localização que atrairia clientes, mas também os serviços que o Hotel ofereceria. Por outro lado, devemos saber que o Kudeca é o único cinema em funcionamento em Tete. O Cinema Estúdio 222 está nas mãos da IURD. Como já tinha referido, aquele espaço constitui dos poucos na cidade. O Hotel, a ser construído naquele local, privaria a um grande número de pessoas de todas as idades, a possibilidade de poder se divertir, assistindo NÃO SÓ filmes, mas grandes espetáculos como concursos de beleza, concertos musicais, incluído alguns comícios do Partido Frelimo, onde fazem recolha de donativos.
O problema de grandes investimentos é que apenas eles beneficiam muito pouca gente: para além do Estado, através da cobrança de impostos e um punhado de gente que para lá irá trabalhar como serventes, aquele espaço em nada beneficia´ra à maioria tetense. Pior ficamos quando sabemos que na cidade espaços como aqueles não existem.
Ao defender a manutenção do Kudeca, não se está a ser conservador. Ou acha PL que construindo um Hotel naquele espaço estará a se prestar maor contributo ao desenvolvimento da cidade?
Voltarei.
Beula, estou disponível para uma conversa.
Caro Egídio.
O meu comentário peca. Peca porque desconheço o kudeca.
Nunca lá estive. Não conheço Tete. Imaginei que estivesse na mesma situação que o clube de Gaza em Xai-Xai, ruínas! Penso que foi a Luiza Menezes que me criticou corrigindo. Nesse sentido as minhas observações tornam-se irrelevantes, acho.
Professor
Alguém me disse que o Edil já leu a carta.
Ontem apareceu também uma crónica do Saizande Jeque na RM, que vou tentar trazer para aqui.
Quanto à negação... aparenta que leva água no bico
Abraços
Luiza
Mande-me a crónica...o representante da Aga Khan desdobra-se contactos negando o envolvimento da associação. Aliás, pode ver isso aqui no blogue.
Anda por aí tamanha confusão, de ditos por não ditos, desmentidos e coisa e tal.
Das dus uma: Ou tentando atirar areia para os nossos olhos, ou tentando tapar o sol com a peneira.
A ver vamos!
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