25 fevereiro 2010

Fuga de cérebros em África

Uma hemorragia perniciosa: o continente africano esvazia-se cada vez mais de pesquisadores, de informáticos, de médicos, de pessoal altamente qualificado. Há cerca de sete anos, a Comissão Económica das Nações Unidas para África e a Organização Internacional para as Migrações estimaram que, entre 1960 e 1975, 27 mil Africanos deixaram o continente, estabelecendo-se nos países industrializados, especialmente nos da Europa ocidental e nos Estados Unidos. De 1975 a 1984, a cifra atingiu 40 mil. Depois de 1990, calcula-se que anualmente pelo menos 20 mil pessoas tenham deixado e continuem a deixar o continente africano. Em francês aqui. Para um quadro geral, incluindo as causas, leia em português aqui. Entretanto, um livro sobre o tema acaba de ser publicado em França, confira aqui.

13 comentários:

Torres disse...

Professor,
O entrevistado enfatizou o lado material. Mas existe uma outra dimensao nesta questao de fuga de cerebros: a questao de consciencia.
Uma pessoa suficientemente educada nao aceita imposicoes, ameacas, injusticas e arrogancia que caracteriza, infelizmente, a massa politica de Africa.
As frases de Filipe Paunde ou Itai Meque revelam essa forma primitiva e inaceitavel de estar na politica dos chefes africanos. Muitos intelectuais nao toleram isso, optando por emigrarem para paises mais tolerantes.
Itai Meque vem reabrir um debate ha muito encerrado, o de liberdade de consciencia. Como e que os cerebros nao vao fugir assim?

umBhalane disse...

Ora cá está uma questão muito pertinente, e que merece uma activa, construtiva, análise, e respectivos comentários dos usuais, e outros, leitores deste sítio.

Claro que a questão, problema, é também pertinente noutros países, mesmo europeus.

Só que estes fabricam excedentes, "podem?" dar-se a esse luxo/perda.

E África, e Moçambique?

E já agora, também porquê em Moçambique?

Viriato Dias disse...

Aqui estarei para comentar...mais logo...E ainda bem que os acólitos dos indomáveis não escreveram coisas que entupissem os meus ouvidos. Ainda bem. Há mudanças nestas bancada.

Zicomo

Viriato Dias disse...

É simples perceber a razão de fuga de cérebros para o caso de Moçambique. Vou aqui tentar citar três factores.

1. Político - Cada vez mais é asfixiante trabalhar no país. Temos um partido no poder que ainda não se acustumou a separar o Estado e Partido como tal. Os interesses do Estado não são na verdade os anseios do povo, mas sim da "Casa Branca", no Bairro Central. Isto faz com que seja o Partido a admitir os funcionários do Estado e não o próprio Estado. Para quem não tiver o vermelhinho, como podem calcular, fica fora do baralho. E quem tem bife na boca, não fala, vai produzindo pequenos Guebuzas, Paúnde e companhia limitada...

2 Rotina - O emprego em Moçambique é uma rotina. Não há grandes promoções, promoções, enfim, o trabalhador desde que foi admitido em 1980 como soldador, ainda que estude uns degraus, morre soldando, não lhe é permitido fazer outras coisas. A inércia ou o absentismo generalizado deixa paralisado um conjunto de acções pre-definidas, por um lado temos os funcionários resistentes à mudança; por outro, é o próprio sistema que obsecou que o único trabalho por fazer é combater o lema "POBREZA ABSOLUTA", quando o problema nem está ai.

3 Garantias - Com dirigentes como Itai Meque (trovoadas) não cria estabilidade para os funcionários formados. A entrada de um novo dirigente pressupõe limpeza da casa, como se as novas caras fossem estra-terrestres, ao invés de mudar de tácticas, técnicas ou métodos, como acontece nos campo de futebol, a ideia é "varrer" pessoas. E o futuro desses cérebros fica naturalmente suspenso e, por essa via, é todo um afecto de pessoas que também fica comprometido.

Zicomo

Anónimo disse...

Para acrescentar aos comentàrios jà deixados, diria, também, que os governantes talvez nem querem que os tais formados nos paises desenvolvidos regressem aos seus paises de origem, por considerà-los uma ameaça intelectual capaz de contrariar aquilo que säo os intentos desses muitos "vampi-governantes" que tomam a Africa de refém.

O africano se sente melhor quando se descobre intectual e economicamente superior à maioria. E um individuo formado no terceiro mundo näo acredito que seja bem vindo para os nossos dirigentes, por sofrerem de uma doença que a chamo de "espirito de superioridade".

Félix

ricardo disse...

Meus Parabens, sr. Viriato...

Fez a radiografia perfeita da situacao.

Viriato Dias disse...

Hehehe, já não sou catavento político, pois não? A verdade é esta Ricardo. Neste aspecto, a Europa deu grandes passos. As pessoas não vivem inseguras nos seus empregos, muito menos são condicionados a ter de perder sono para cantar "viva, viva, viva"; os tribunais funcionam razoavelmente(se o ponteiro não está no 8, então está no 80, enquanto que no nosso belo país, a justiça só anda para a frente, antes e depois das eleições, ou melhor, quando se está nas vésperas de mais um "estou à pedir", para mostrar serviços. Ainda que essa ajuda não grátis, pesa na riqueza do país e no futuro dos nossos herdeiros.

Vivi várias situações em que o ser humano mais se parecia com "Xiconhoca", situações essas que até era capaz de ressuscitar a um morto. Instituições sem planos de actividades, professores com o MESMO manual de ensino, ou seja, com mais de 20 anos de uso...As constantes ameaças de que são vítimas os quadros, estas questões de validade caduca, já foram expostas ao chefe de Estado. Eu próprio em conversa com algum deles reivindiquei estas situação, que me foi dito o seguinte como resposta "Cada um estica-se como pode, aliás, mede-se os pés em função do tamanho da esteira". Até hoje não percebi, se calhar têm razão o Dr. Mataruca "Será difícil Guebuza combater defeitos e males que para uns era o mode de vida, fizeram dele esteira".

Situações destas entristece-me, sim, mas mesmo assim não deixo de denunciar e lutar à minha maneira no sentido de inverter o cenário. Como? Emílio Manhique uma vez citou a um presidente dos EUA que disse: "Sou sim uma formiga. Posso não fazer descarrilar a um comboio, mas posso morder a um maquinista, que por sua vez irá descarrilar o comboio."

Disse e Zicomo

Anónimo disse...

..nossa pátria é onde conseguimos nos realizar como seres humanos,o resto são cantigas... de nacionalismos bacocos não reza a história !!!!
tenho a certeza que em certos países,o povo se tivesse a mesma possibilidade imigraria em massa !!!
não vou mencionar nomes para não provocar as mesmas polémicas de sempre !!!
Tóxico

umBhalane disse...

Se tivessem asas como os passarinhos...ai,ai,ai!!!

Reflectindo disse...

Faltou-me tempo para eu deixar algumas palavras, aliás repetir um facto que tenho relatado na blogsfera.
Ora, um compatriota nosso que trabalhava num ministério x como técnico superior, depois de uma luta, conseguiu da uma bolsa de doutoramento através de uma embaixada europeia. Com sucesso defendeu a sua tese nos finais de 2008. Regressou ao país, apresentou-se imediatamente no seu ministério. Desde lá até aqui, o compatriota não foi afectado. Aliás, há um mês simularam uma afectacão ridícula, uma autêntica humilhacão. Se aquele compatriota sobrevive é porque tem muito para vender ao privado, mas ele não pode de qualquer maneira fazer um novo contrato porque sabe-se que precisa de seguranca quando for reformado...
O nosso compatriota formou-se numa área muito procurada na Europa, logo, deve ter feio um erro, já que ele sabia que não tinha irmão governante e ainda não se forcaria para adquirir o vermelhinho.
Conheco também um caso de outro formado em geologia na Rússia e viveu por algum tempo como professor contrato, curso nocturno, algures na Zambézia...
Mesmo compatriotas que nunca sairam do país, muitos são os que vivem deprimidos. Um exemplo é do falecido Domingos Pilale. Quis contribuir politicamente para Mocambique, passando pela Renamo e foi duplamente castigado. Duplamente sim, pela Renamo por ter feito bom trabalho como parlamentar, ele foi uma ameaca à lideranca. E, pela Frelimo, porque ele se filiara a um partido da oposicão ou seja, porque não foi buscar o vermelhinho.
Estes são exemplos, que nem eu precisava de dar, pois a maioria que escreve neste e noutros blogs com sinais de liberdade é vítima das liderancas africanas. Aquelas que quando querem o poder, dizem que lutam pela liberdade de todos, sem distincão de cor da pele, crenca religiosa, cor partidária, sexo, origem étnica, bla, bla, bla, mas logo que o poder estiver nas suas mãos, até têm coragem de matar ou marginalizar os poucos alfabetizados que existem.
Quantos não esperam pela oportunidade para serem livres de humilhacão "itaiana"?

Amigo Viriato, agora te reconheco. O problema não de estar de acordo, mas dizer a verdade sem procurar ser advogado de quem faz mal aos seus próprios patrícios.

Viriato Dias disse...

Reflectindo,

Falaste de Domingos Pilale. Conheci este senhor através de um grande amigo meu (...). Visitei-o no Hospital Central de Maputo um dia antes dele morrer. Enfim, soube que a trombose foi a causa da morte. Nos últimos tempos via-o debilitado, ali na Malhangale, no Pulmão...A política correu-lhe mal, e tinha razão o meu pai "meu filho, onde quer que eu esteja, nunca sigas a política, não sejas políticos." E ainda me acusam de pertencer o partido x ou y.

Zicomo

Reflectindo disse...

Amigo Viriato, uma das coisas que me vale em ti, é termos conhecidos e factos em comum. É exactamente isso mesmo que aconteceu ao Domingos Pilane. Imagino que o tenhas visitado com Aloni, mas também pode ser com outras pessoas.
Entretanto, admito que ainda ocultamos em dizer os pormenores sobre a invalidade de cérebros em África em geral e Mocambique em particular. Não vou dizer mais senão que Domingos Pilale era enginheiro e antes de ser deputado pela Renemo, foi director nacional. A esposa de Pilale foi directora duma das escolas em Maputo. Pilale vítima da lideranca da Renamo, a Frelimo não perdeu tempo para eliminar toda a família e co-optar parte dela... enfim, este é apenas um dos exemplos de tantas famílias espalhadas por todo Mocambique.
Tão bem inserido neste tema sobre drenagem de massa cinzenta africana, fica-se sabendo do porquê muitos africanos acabam ficando fora.

Anónimo disse...

A fuga de quadros nao acontece somente para o estrangeiro. Aqui dentro de Mocambique hä fugas de quadros. Medicos que vao para as ONGs, funcionarios do Estado que vao trabalhar em outras instituicoes. trabalhadores de empresas privadas mocambicanas para as empresas multinacionais. Em causa estao os factores "luta contra o deixa andar" que se deve entender como uma purga interna dentro do partido isto serve mais para o aparelho de estado e por outro esta a questao dos salarios, que em geral sao mais altos tanto nas ONGs como nas multinacionais. MF