15 agosto 2016

Guerra e hermenêutica das valas comuns em Moçambique [25]

Número anterior aqui. Finalizo o sexto e último ponto do sumário [recorde-o aqui], a saber: 6. Sentido múltiplo, generalizações e economias, passando ao terceiro e último campo de análise proposto aqui, a saber3. Hostilidade múltipla ao Estado. A história das valas comuns e dos corpos a céu aberto, viralmente mundializada com textos e fotos de choque, levava no seu bojo, em certos círculos, uma enorme hostilidade ao Estado, disfarçada nuns casos, com grande visibilidade noutros. Nesses círculos, o que parecia ser um genuíno interesse pela verdade, pela neutralidade e pela preocupação com a morte, era, afinal, um exercício de animosidade política. Aqui e acolá, a mensagem oculta era esta: os mortos são produto das forças governamentais.  Esse foi - para dar agora maior amplitude a uma expressão de Paul Ricœur - o oculto no mostrado nuns casos e o mostrado no oculto noutros. Nesse exercício de imputação a cargo da "consciência julgadora", a Renamo, proprietária de um exército privado, surgiu nos citados círculos ora ausente na responsabilidade pelos assassinatos, ora disfarçada por expressões ambíguas do género "tensão político-militar". E não esteve omissa a ideia de que ela era, afinal, uma vítima da malevolência das forças governamentais e, portanto, do Estado.

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