10 outubro 2012

Remodelar analiticamente a remodelação governamental

2 comentários:

Salvador Langa disse...

Ora aqui está, que tema, que tema.

ricardo disse...

Os Três Envelopes...

"(...) Certa vez, um general estava de chegada e na cerimónia de passagem de pastas, o seu antecessor entregou-lhe três envelopes, com instruções precisas para que, quando lhe surgisse o seu primeiro grande problema, abrisse o primeiro envelope. Todos os problemas graves subsequentes deveriam, logicamente, seguir o mesmo procedimento. Zeloso, o novo general pegou nos três envelopes e enfiou-os cuidadosamente num cofre para que ninguém, senão o próprio, os violasse na hora certa.
Até ao dia em que se deparou com o seu primeiro grande problema. E abriu o primeiro envelope. Lá encontrou uma mensagem lacónica: "Culpar o seu antecessor!". E assim, foi à terreiro e desfez a reputação do seu antecessor até que a situação se acalmasse. E tão logo a vida pareceu querer voltar à normalidade. Mas foi sol de pouca dura. Ainda mal se refazia do embate e já estava perante o seu segundo grande problema. Afoito, foi novamente ao cofre e abriu o seu segundo envelope. Lá estava escrita somente uma frase: "Remodelação!". E assim fez. Mas o processo mostrou-se tão complicado, quanto moroso, que acabou agravando qualquer outro problema, ainda que insignificante à partida. Inúmeros assuntos ficaram parados, à espera que a remodelação acabasse, coisa que na realidade nunca veio a acontecer.
Não tardou por isso, que se deparasse com o seu terceiro grande problema. Aí nem pestanejou quando correu para o cofre para abrir o terceiro envelope. Abriu-o e leu-o estarrecido: " Prepare três envelopes!" Moral da história. A tendência para remodelar no lugar de fazer o que tem de ser feito é uma tendência antiga que nos acompanha desde os primórdios. E nada melhor do que um fragmento histórico de Roma para a percebermos bem: "...Treinámos muito, mas pareceu-me que cada vez que constituíamos grupos de trabalho sólidos vinha uma remodelação. E aprendi mais tarde que tendemos a apelar à reorganização sempre que um novo obstáculo nos impede de avançar. Mas que método fantástico de governação é este, que cria a ilusão exterior de progresso, enquanto internamente produz a confusão, ineficiência e a desmoralização"(Gaius Petronious, 66 DC) (...)"