20 junho 2012

Forças do invisível na produção de prova

Acusada de matar magicamente uma criança, uma jovem mulher foi condenada por um tribunal comunitário ao pagamento de uma indemnização ainda por fixar, sendo o juiz-presidente citado por um jornal afirmando que ela confessou ter enviado os seus espíritos para matar a vítima como retaliação pela morte da sua filha de 15 anos. A história passou-se no bairro da Munhava Central, cidade da Beira, segundo o "Diário de Moçambique" citado pelo "@Verdade" aqui.
Comentário: Se a descrição corresponde à realidade (tenho para mim que sim, trabalhei alguns meses com material de tribunais comunitários), os juízes aceitaram que a morte de uma criança foi provocada por espíritos malévolos enviados por uma mulher. Uma confissão foi suficiente para provar a acção criminosa das forças do invisível. Este, o primeiro fenómeno. O segundo, tem a ver com a confissão da suposta mandante dos espíritos assassinos. Os juízes não se puseram a hipótese de a confissão ser uma desforra ex post facto, ser a transformação simbólica do desejo em realidade, da vingança desejada em facto consumado. Finalmente: este diário tem muitas entradas concernentes às forças do invisível, confira algumas aqui.

4 comentários:

ricardo disse...

Ab hoc et Ab hac...

nachingweya disse...

A questão é: que outro recurso estaria à disposição dos juizes para apuramento da verdade material? A autópsia? Não me parece. A AMETRAMO? Seria a Associação de forças invisíveis suficiente para a produção de prova material no julgamento do falecimento-homicídio? Também não me parece.
Supondo que juizes, queixosos, reus e defuntos são tudo pessoas normais, por que razão não se acreditou logo na hipotese de falecimento natural de uma criança? Que sinais indiciaram a intervenção de espiritos? Que acaso ofereceria uma morte a uma desejada vingança da homicida confessa?
Esta coisa de espiritos tem o que se lhe diga; Na Escola Kisse Mavota em Maputo governantes e líderes associaram-se para acalmar espiritos que andavam a fazer das suas às meninas até ao desmaio. Em Muelé- Inhambane, também numa escola, houve que colectar recursos para negociar tréguas com espiritos por outra evidência de interferência das forças do invisível no quotididiano da instituição.
Talvez que o Código sob o qual estes juizes julgam lhes permita validar a confissão sem a formalidade do contraditório.

Salvador Langa disse...

Vida de nós nestes dias todos.

ricardo disse...

E profecia cumpre-se. "...As novas elites africanas do sec. XXI apontam para uma «retradicionalização», que conduzirá a uma forma de modernidade especificamente africana baseada, em parte, na etnicidade, na feitiçaria e no clientelismo in "CHABAL, P., e DALOZ, J. P. (1999), Africa Works: Disorder as a Political Instrument, Oxford
e Indianapolis."