Acusada de matar magicamente uma criança, uma jovem mulher foi condenada por um tribunal comunitário ao pagamento de uma indemnização ainda por fixar, sendo o juiz-presidente citado por um jornal afirmando que ela confessou ter enviado os seus espíritos para matar a vítima como retaliação pela morte da sua filha de 15 anos. A história passou-se no bairro da Munhava Central, cidade da Beira, segundo o "Diário de Moçambique" citado pelo "@Verdade" aqui.
Comentário: Se a descrição corresponde à realidade (tenho para mim que sim, trabalhei alguns meses com material de tribunais comunitários), os juízes aceitaram que a morte de uma criança foi provocada por espíritos malévolos enviados por uma mulher. Uma confissão foi suficiente para provar a acção criminosa das forças do invisível. Este, o primeiro fenómeno. O segundo, tem a ver com a confissão da suposta mandante dos espíritos assassinos. Os juízes não se puseram a hipótese de a confissão ser uma desforra ex post facto, ser a transformação simbólica do desejo em realidade, da vingança desejada em facto consumado. Finalmente: este diário tem muitas entradas concernentes às forças do invisível, confira algumas aqui.
4 comentários:
Ab hoc et Ab hac...
A questão é: que outro recurso estaria à disposição dos juizes para apuramento da verdade material? A autópsia? Não me parece. A AMETRAMO? Seria a Associação de forças invisíveis suficiente para a produção de prova material no julgamento do falecimento-homicídio? Também não me parece.
Supondo que juizes, queixosos, reus e defuntos são tudo pessoas normais, por que razão não se acreditou logo na hipotese de falecimento natural de uma criança? Que sinais indiciaram a intervenção de espiritos? Que acaso ofereceria uma morte a uma desejada vingança da homicida confessa?
Esta coisa de espiritos tem o que se lhe diga; Na Escola Kisse Mavota em Maputo governantes e líderes associaram-se para acalmar espiritos que andavam a fazer das suas às meninas até ao desmaio. Em Muelé- Inhambane, também numa escola, houve que colectar recursos para negociar tréguas com espiritos por outra evidência de interferência das forças do invisível no quotididiano da instituição.
Talvez que o Código sob o qual estes juizes julgam lhes permita validar a confissão sem a formalidade do contraditório.
Vida de nós nestes dias todos.
E profecia cumpre-se. "...As novas elites africanas do sec. XXI apontam para uma «retradicionalização», que conduzirá a uma forma de modernidade especificamente africana baseada, em parte, na etnicidade, na feitiçaria e no clientelismo in "CHABAL, P., e DALOZ, J. P. (1999), Africa Works: Disorder as a Political Instrument, Oxford
e Indianapolis."
Enviar um comentário