Terceiro número desta série, com tema referido aqui. Primeiro ponto do sumário sugerido na postagem anterior:
1.Introdução. Estamos confrontados com um fenómeno que já foi várias vezes abordado neste diário: o do questionamento violento das origens da riqueza. Uma vez mais vou tentar mostrar as infra-estruturas sociais e mentais do fenómeno, fenómeno que diz respeito a uma crença que, se objectivamente falsa, é, porém, subjectivamente havida por verdadeira no imaginário popular.
(continua)
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Aparentemente esta crença, ‘objectivamente falsa e subjectivamente havida por verdadeira’, estabelece mercados reais de compra e venda da carne dos outros. Com oferta, procura e linhas de abastecimento de órgãos humanos clinicamente já mortos.
Isto quer dizer que quem procura acredita no efeito benéfico do seu investimento nessa carne, ainda que a hipótese de produzir riqueza por essa via não seja objectivamente verdadeira e, quem oferece, vê oportunidade de acrescentar valor a uma presa fácil ainda que, no fundo, ele próprio não acredite na possibilidade de enriquecimento por esse meio (senão ele mesmo enriqueceria também).
Por vezes são apanhados traficantes de carne dos outros mas nunca ouvimos falar de uma investigação aprofundada do seu roteiro. Tudo termina em caso de homicídio pois os compradores potenciais normalmente não conhecem os vendedores apanhados com a ‘mão na carne’.
E nós aprendendo a conviver com tudo isso já não nos indignamos tanto. Já não empalidecemos ao ouvir/ler que uma pessoa foi encontrada com uma cabeça humana alegadamente encomendada por um imã em Maputo, outra vez são 4 jovens que extraem dentes e os órgãos genitais a uma senhora assassinada em Ulongue e ainda outra o tio de uma criança engana-lhe com guloseimas para lhe decepar o órgão reprodutor na Zambézia e mais outra em Manica ao filho ou sobrinho do cozinheiro do governador foi decepado o pénis por dois indivíduos a monte... . E mais, sem contar o que não chega aos media.
Por isso a minha sugestão é que a abordagem não se limite a análise do valor subjectivo da crença mas que se investigue também a natureza deste mercado de pedaços de carne humana.
Com estas ideologias, como pode uma sociedade crescer economicamente? Se todo o enriquecimento é vilmente "criminoso", como pode um indivíduo saudável gostar de estar nesta situação de rico? Não será esta, uma das causas do fracasso do nosso capitalismo empreendedor? Se todos tivermos medo de produzir e crescer com o nosso trabalho, como vai a sociedade aumentar a sua riqueza?
Possivelmente, é ai que temos que encontrar a resposta para a frase (enigmática) de alguns chefes, que dizem que a "pobreza está nas nossas cabeças"...
Há que combater estas crenças com transparência e muita informação, pois elas são parte de problema e alimentam o lado da procura (se alguém diz que para eu ser rico tenho que comprar um morto, ou matar o meu filho ou algo parecido... se eu quiser ser rico, vou fazê-lo e então procurarei estes serviços). Há também que investigar e mostrar com factos que a riqueza destas pessoas não deriva de "feitiçarias" mas sim do trabalho (bom ou mau). (Eu não acredito que alguém possa enriquecer SÓ por comprar e ter em casa uma parte qualquer do corpo de outra pessoa, por matar o seu familiar ou por outras crendices baratas.) E há que informar às pessoas sobre a origem da riqueza das pessoas. Devemos deixar de fazer tabus da riqueza... honesta (assim como as grandes e ricas famílias europeias, asiáticas e americanas também se orgulham desta riqueza, provinda do trabalho árduo). Por isso também as pessoas não poupam e não deixam riqueza para os seus filhos... (se não os acusam de feiticeiros e os matam com a vontade de usufruir da riqueza antes do tempo. Eu acho que as pessoas precisam de ser mais informadas. O pior é que este tipo de crendices está também dentro da cabeça de professores, de doutores de chefes... daí a dificuldade em combatê-las...
Mas quem disse que neste caso há mesmo "canibalismo" ou "oficina de orgãos"? O relato do jornal apenas fala em suspeitas.
Discursos dos pobres sobre ricos, cada trincheira cada sentença.
E os comentarios dos ricos sobre os problemas dos pobres (2a Lei Hermetica - Correspondencia)...
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