09 dezembro 2011

Diário de campanha (15)

O fim desta série.
Abstenção. Como mostrei ontem, a abstenção foi muito elevada nas três cidades nas quais se realizaram as eleições autárquicas intercalares. A abstenção é um fenómeno curioso que inquieta uns e desinquieta outros. Sugiro sigam a minha série Eleições 2011 e produção de futuro, hoje iniciada aqui.
(fim)
Adenda 1: abordo múltiplos aspectos da engenharia eleitoral no seguinte livro: Serra, Carlos (dir), Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, 354 pp., confira especialmente pp. 43-243.
Adenda 2: recorde duas séries minhas, uma em 17 números intitulada Poder e representação: teatrocracia em Moçambique, aqui; outra, em 20 números, intitulada Para ganhar as eleições em Quelimane, aqui.
Adenda 3 às 6:07: resultados provisórios fornecidos pelo STAE no Moçambique 192, aqui:
Adenda 4 às 7:16: a abstenção nas três cidades foi tão grande que parece termos recuado para 1998, quando se realizaram as primeiras eleições autárquicas no país sob boicote da Renamo - vide adenda 1.
Adenda 5 às 8:58: segundo o "Canal de Moçambique" digital de hoje, o gabinete da candidata do MDM em Cuamba, Maria Moreno, protestou na CNE contra os resultados eleitorais, aqui.
Adenda 6 às 10:53: uma crónica do jornalista Fernando Lima inserta no semanário "Savana" com data de hoje, aqui:
Adenda 7 às 11:56: "Diário da Zambézia" aqui.

10 comentários:

Anónimo disse...

Sobre as abstenções, eu pessoalmente acho que se deveria fazer o seguinte: Já que se decidiu assim, continuar a dar tolerancia de ponto para as pessoas IREM VOTAR no meio da semana. Quem fosse votar teria realmente a sua tolerancia de ponto garantida. Quem nao fosse votar teria o dia da tolerancia descontado nas férias. O mecanismo de controle seria o dedo pintado que seria controlado no dia seguinte.
Sei que isso nao daria tanto efeito no sector publico, mas creio que para o sector privado isso seria bastante util.

Salvador Langa disse...

A Renamo afastou-se, o Mdm aproximou-se, os próxmos 2/4 anos vão ser interessantes.

ricardo disse...

O sr. Anonimo que me antecedeu deve ser do clube dos que perderam o poleiro em Quelimane. Usando a mais ignobil analogia hitleriana, sugere agora que se penalizem os cidadaos pela ineficiencia dos seus politicos...
Nao sabe o anonimo cidadao, que os ausentes tambem tem VOZ. Quando 8 em 10 ficam em casa a descansar ou na rua a trabalhar, so pode significar um atestado de incompetencia de quem ainda legitima processos eleitorais neste formato.

Por afinal, porque municipalizar a vida dos eleitores, se as ordens de serviço, o orçamento e os candidatos continuarem a vir da capital. Algo está mal definido nesta equação política, que é sempre bom lembrar, tem sido muito cara para os bolsos dos eleitores, os quais, além dos tributos nacionais, têm agora também que arcar com os municipais, e qualquer dia, até com os provinciais??!

Porque acreditar num sistema politico onde:

1- Os partidos políticos povoaram-se de profissionais da política, na sua maioria mediocres e sem qualquer sentido patriótico ou de Estado. Distribuem entre si os cargos públicos, impedindo a renovação da classe política e a ascensão dos mais competentes. O grande critério para a sua ascensão não é a competência ou seriedade revelada na vida pública, mas sim a sua capacidade para angariar fundos para o Partido, não importa o expediente usado?

2- Para manterem máquinas partidárias cada vez mais caras, e clientelas numerosas ávidas de dinheiro, ao longos dos anos aprovaram na Assembleia da República, uma série de leis que lhes permitem sacar enormes recursos do país através de subvenções públicas, mas também distribuírem pelos seus membros, cargos-ordenados, reformas, e muito mais?

.../...

ricardo disse...

Porque acreditar num sistema politico onde:

3-O clientelismo, o favorecimento, o amiguismo e a oferta de cargos públicos para retribuir favores ou fidelidades partidárias tornou-se uma prática banal nos partidos políticos?

4- As juventudes partidárias tornaram-se em verdadeiras escolas de arrivistas e de maus utentes do erário público, que desde muito cedo se habituam a viver na dependência dos aparelhos partidários?

5-Praticam uma política orientada pelos seus impactos mediáticos, de forma a granjearem alguma notoriedade pública. Muitos dos políticos que têm alguma "capacidade de expressão" e uma "boa imagem" para conseguirem "alguma popularidade" tornam-se comentadores televisivos, apresentadores desportivos, dirigentes desportivos e por aí em diante?

6- Estabeleceram uma confusão entre interesses privados e interesses colectivos. Tornou-se cada vez mais frequente, por exemplo, verem-se deputados ligados a gabinetes de advogados com interesses no Estado, ou como representantes de empresas, grupos financeiros ou estrangeiros, a proporem e a defenderem leis na Assembleia da República em causa própria?

7- Os elevados custos das campanhas eleitorais, assim como a própria manutenção de pesadas estruturas partidárias, impeliram os próprios partidos a procurarem fontes de financiamento através de processos que estão no limiar da corrupção e da marginalidade?

.../...

ricardo disse...

O resto, o jornalista Fernando Lima escapeliza e muito bem no SAVANA desta semana.

Portanto, se o Anonimo cidadao tiver as respostas para as questoes avancadas aqui neste post, entao a Patria ficaria muito agradecida se as divulgasse amplamente.

Mas duvido que qualquer uma delas passe ao lado dos circulos uninominais de eleitores em Mocambique para todos os pleitos. E tempo dos cidadaos elegerem as pessoas com que se cruzam ou trabalham todos os dias, e nao, pau-mandados que so la aparecerem nos periodos eleitorais ou quando estao de ferias. E sobretudo, que ESCUTEM, e nao oicam apenas orientacoes superiores. A democracia dos tempos modernos, como nos mostram os movimentos sociais recentes e as revolucoes do mundo Arabe, ja não é mais igual à de 100 anos. O nosso mundo evoluiu. As formas de representatividade e de poder também. Cada vez mais, são os interesses dos cidadãos e das corporações que estao tete-a-tete. Os politicos (veja o caso europeu) alem de parasitarios, so atrapalham as coisas... Enquanto que os círculos uninominais reforçam a sua pertinência. Os directórios partidários perdem sua utilidade.

TaCuba disse...

Se calhar pode-se dizer que a maneira de fazer política não mais será a mesma no nosso país...

Anónimo disse...

Quando coloquei a minha proposta nao sabia que poderia despertar tamanha ira do Sr Ricardo. Primeiro eu nao estou em Quelimane, nao perdi nada em Quelimane e até gostei e MUITO de ter havido uma transição do poder naquela cidade. Oxala e outras cidades (e porque nao dizer o pais) pudessem ter transição de poder, porque isso é mesmo democracia! E isso é que traz mais responsabilidade dos governantes e muito do que o Sr Ricardo disse nos seus comentários. Porque só assim os responsaveis do Governo temerão a resposta popular e terão mais respeito para com quem lá os pôs, pondo em pratica o que prometeram. Só assim se cumprirão algumas das suas opiniões (Mais edis da oposição poderão fazer frente ao governo central e conquistar mais direitos para as autarquias!).
Mas, o que quis dizer e gostaria de deixar claro é que a tolerancia de ponto foi concedida aos cidadãos para irem votar e nao para ficarem em casa (toda a demais "ignobil" comparação é futil e fruto a fertil imaginação do Sr. Ricardo). O que cada um faz ou deixa de fazer com o seu voto é apenas da sua responsabilidade e da tem a ver apenas com a sua consciencia. Cada um pode exprimir a sua inconformidade com a inoperancia de quaisquer instituições inutilizando os seus boletins de voto. Mas reafirmo que deveriam, a meu ver ir votar (uma horita, se tanto), porque para isso isso é que lhes foi concedido o dia livre. Apenas isso quis dizer.
Todos sao livres de concordar ou nao com a minha opinião.
Cpts,
M

Anónimo disse...

Ja agora, li o artigo do respeitavel jornalista Fernando Lima e gostaria de dizer mais uma coisa. Segundo o jornalista Lima, em 2008 votaram pelos dois candidatos 43 mil eleitores (24 mil Frelimo/19 mil Renamo) e em 2011 votaram 35 mil (13 mil F/22 mil MDM). Mesmo que os cerca de 8 mil que "faltaram" tivessem votado no candidato da Frelimo, este nao teria alcançado a Manuel de Araujo, ficaria bem perto, e talvez dessa para dar um jeito, mas nao o teria alcançado. Dai que eu acho que de facto o que aconteceu em Quelimane nao foi o facto de os votantes da Frelimo deixaram de ir votar, mas sim de pelo menos parte deles ter perdido a confiança no candidato apresentado por este partido. Talvez pela forma como foi apresentado: por Maputo, com muita fanfarra (há dinheiro para festa mas nao há para a cidade), talvez pela mentira (afinal Pio Matos nao estava doente, como se viu pela campanha, mas apenas nao agradava a alguem ca em Maputo - outra vez Maputo!) e, claro, pelo grande merito do trabalho da oposição! Acho que isso é determinou a votação no candidato da oposição.
Isso mostra que o Povo afinal sabe o que nao quer, pelo menos...
Cpts,
M

ricardo disse...

E sem, em plena crise financeira internacional, se assumisse que a votacao so se fazia aos fins-de-semana, faria alguma diferenca? Diminuiria a abstencao?!

Penso que perdeu a sua oportunidade de anonimamente responder as minas sete questoes.

Obrigado.

Anónimo disse...

Nao pretendo dar resposta a todas as suas questões mas apenas dar a minha contribuição: Antes de mais, eu acho talvez o Governo não esteja muito interessado em que haja mais participação. Isso levaria a mais gente a votar (alguns possivelmente inutilizariam os seus votos, mas outros votariam de verdade) e talvez esses, porque poderiam ver aí a possibilidade de penalizar a quem não trabalha para eles, ou por serem obrigados a votar contra a vontade poderiam penalizar o Partido no poder por os obrigar a votar. Por outro lado, acho que se as pessoas forem votar há menos espaços para manobras obscuras usando os que não vão votar (infelizmente eu ainda nao tenho confianças nas instituições do Estado - policia e mesmo o STAE que tendo melhorado a meu ver nestas eleições, ainda está longe da perfeição e da transparecia desejadas). Ouve-se pela imprensa que alguns candidatos se queixaram de que houve quem andasse a recolher cartões de votantes... e isso a meu ver só é possivel porque as pessoas nao vao, fisicamente, votar e alguem pode votar por elas...

Mas o que acho também que apenas mais democracia, mais manifestação livre da vontade do povo e a consquente rotação no poder pode anular os problemas que o Sr Ricardo levantou e muito bem. Isso porque so assim haverá mais obrigação de prestação de contas. A Beira é disso exemplo. As pessoas estão a ver hoje que a existencia de outros no poder nao traz mais problemas, como tem sido propalado mas, muito pelo contrario, traz mais soluções. A descentalização de alguns serviços para a cidade de Maputo é também fruto mesmo que indirecto, da pressão vinda da Beira e secundada por outros sectores nacionais e internacionais está, aos poucos, dando resultados. Acho que a resposta à desresponsabilizacao, à inercia, ao amiguismo, clientelismo, confusao (??) entre os interesses publicos e privados e mesmo de maior exigencia para que os politicos deixem de ser meros comentadores, são os jovens audazes do calibre do Araujo, do Simango que se continuarem com a postura de bem servir mostram que é possivel fazer melhor e sem tantos recursos, sem corrupção, animam a outros jovens audazes e ambiciosos (no bom sentido) a atacarem o poder para trabalhar. Assim começamos a discutir o trabalho, os resultados e nao os Partidos... A punir através do voto a corrupção, a preguiça e a mentira.
É claro que este processo não vai acontecer de um dia para o outro, mas por algum lado tem que começar... Vai levar o seu tempo, como também levou noutras paragens... O que é bom é que ele em Moçambique já está tomando o ritmo...
Estamos de acordo em que o pais fica mais saudavel com novas caras, com novas formas de estar. As leis da concorrencia funcionam também nestes casos. As pessoas, os partidos concorrem uns com os outros. E disso acho que deverão sair coisas positivas para todos nós.
Cpts,
M