30 dezembro 2011

Kim Jong-il, multidões, desespero e problemas de análise (1)

A morte do presidente norte-coreano Kim Jong-il gerou um título e um tema partilhados por muitos portais, a saber: Cenas de desespero no funeral de Kim Jong-il. Imagem reproduzida daqui.
(continua)

10 comentários:

Unknown disse...

Para eles e uma especie de Samora Machel

Salvador Langa disse...

Fala dos "militantes" que alertam para o "perigo asiático" e outras coisinhas parecidas? Bem, imagino que o Professor vai caminhar por esses lados.

Paulo disse...

Essa malta é educada a pensar duma certa maneira e depois age de forma igual.

TaCuba disse...

Os coreanos não têm direito a sentir a morte do chefe?

Sir Baba Sharubu disse...

Let us hope that those scenes of people's distress are not forecasting the next wave of repression.

ricardo disse...

Eis os bébes-proveta do culto de personalidade...

A Coreia do Norte é um país fundado nas aparências de um Estado comunista, que nunca foi compreendido por nenhum outro estado do mundo. Possui um sistema wagneriano de formatação e educação de massas similar ao da Alemanha Nazi, mais muito mais eficaz porque atingiu a unanimidade absoluta. Não obstante serem sincronizados, os choros colectivos são efectivamente reais, pois desde o berço eles são ensinados a venerar os seus dirigentes como semi-deuses na Terra.
Por outro lado, é um estado multi-fachada e teatral. E um bom exemplo disso, são as visitas guiadas aos turistas e diplomatas estrangeiros que lá conseguem entrar após um apertado filtro. É normal visitar um hospital equipado com a mais avançada tecnologia médica e não encontrar doentes lá. É normal observar cidades-propaganda fantasma ao longo do paralelo 38 com as luzes acendendo e apagando nas mesmas casas e na mesma hora anos a fio. É normal ir a um restaurante de Pyongyang comer um hamburguer com pão e o guia turístico dizer que aquilo é um invento de Kim-Jong-il. É normal ter um sistema de transportes multimodal em Pyongyang rápido e pontual, a circular com carruagens vazias, enquanto multidões andam a pé. É normal circular 200 km numa auto-estrada impecável e não se cruzar com nenhum outro carro. Parar numa bomba de gasolina para abastecer o tanque, tomar um café colonial "à gaucha" e sair dalí com a sensação que mais ninguém irá usar aquele serviço. Ou seja, uma bomba-propaganda para vender a imagem de uma nacao auto-suficiente e próspera. No fundo, este e o fundamento da Ideia Juche, uma pseudo-teoria politica inventada por Kim-Il-sung resultado das suas vivencias num seminario catolico e o fascinio pelas ideias de Stalin. Alias, Karl Marx e Stalin, sao as grandes referencias ideologicas internacionais dos políticos norte-coreanos. O resto nao existe. Nunca nasceram. Nem Lenin, nem Deng-Xiaoping!

É normal...pois trata-se da Coreia do Norte, o maior manicómio político do mundo. Por isso, não me sinto surpreendido com o que vi por estes dias. Tive uma amostra do mesmo no tempo de Samora Machel.

Jorge disse...

Esta reportagem da BBC pode nos ajudar a compreender o porque dos choros e gritarias colectivos causados pela morte "subita" do "Querido Lider" dos norte-coreanos:

How genuine are the tears in North Korea?

http://www.bbc.co.uk/news/magazine-16262027

N.B.: O livro citado, de Barbara Demick, tenho-o. Quem o quiser pode me mandar email no jnjale@hotmail.com que vou manda-lo.

ricardo disse...

Um livro que eu gostaria certamente de ler. Só que eu conheci norte-coreanos pessoalmente aqui em Moçambique. Vinham ensinar Tae-Kwan-Do. Ainda me lembro, pouco antes da sua embaixada encerrar as portas nos anos 90, ver os funcionários da chancelaria com panos e detergente, a limparem as placas em mármore com a inscrição "Kim-Il-sung" todos os dias de manhã na avenida com o mesmo nome. Inclusivamente foram entrevistados pela nossa TV que quiz saber a razão de tão anti-séptico hábito. E o que responderam foi:" o nome do nosso grande líder é tão puro que não pode ser contaminado pela poluição da cidade...". E sempre assim foi. Eram pessoas muito afáveis e respeitadoras. Todavia mudavam de comportamento repentinamente, por vezes sem motivo aparente. Por exemplo, há dois anos atrás, esteve entre nós uma brigada de médicos coreanos para trabalhar nos hospitais públicos. Rapidamente conquistaram as graças dos pacientes pelo seu profissionalismo e dedicação. Um dia, sem mais nem menos, fizeram as malas e foram-se embora sem comunicarem nada à contraparte moçambicana. E a última foi a grande estátua de Samora Machel recentemente inaugurada entre nós. Perguntados pela televisão local como haviam feito aquela obra de arte, responderam: "...sob a orientação sábia do nosso querido líder Kim-Jong-il ...e patati, patata". Endeusamento maior que este, nem Papa Doc Duvallier no Haiti!

Felizmente, tive a possibilidade de conviver com sul-coreanos. E foi então que compreendi porque é que o Governo de Seul criou um programa de "adaptação à vida sul-coreana" para todos os refugiados provenientes do norte. Porque realmente, se assim não fosse, seria como convidar Charles Darwin a ouvir um discurso de Bill Gates!

Em suma, eu considero o povo norte-coreano isolado, iludido e fantasioso, o que facilita a sua formatação para servirem os seus líderes. Existe um síndrome de Estocolmo generalizado, visto que nada mais existe como elemento de comparação. Tudo igual. Vestes iguais. Gostos iguais. Choros iguais. Falas e pensamentos iguais. Mas é um povo com muito talento e potencial para a ciência aplicada. É possivel estabelecer uma similitude entre este estranho comportamento norte-coreano e os judeus quando estes iniciaram a migração em massa para a Palestina. É a chamada "mentalidade fortaleza" de que temos em África o exemplo paradigmático dos tutsis do Ruanda.

E ao contrário do que se pensa, as decisões do partido dos trabalhadores da Coreia sempre foram colegiais, mesmo no tempo de Kim-Il-sung. Por essa razão, as transições são sempre suaves e controladas. E a dinastia Kim cumpre apenas uma função pictórica de TRADEMARK do regime, e as andorinhas e as ondas do mar também, já se vê...numa mescla de messianismo cristão e pagão. Se na bíblia o espírito santo é representado pela pomba, na Coreia do Norte é a andorinha. Moisés conduz seu povo pelo Mar Vermelho que se abre. Na Coreia do Norte as águas do mar acalmam-se após a morte dos queridos líderes. Moisés lê as tábuas da Lei no Monte Sinai. Kim-Jong-il (registado na Russia como Yuri Irsenovich Kim) nasce na montanha sagrada de Baekdu para governar.

Ideia Juche...

Carlos Serra disse...

O comentário que se segue é do Ricardo e foi por lapso apagado:
"ricardo deixou um novo comentário na sua mensagem "Kim Jong-il, multidões, desespero e problemas de a...":
E já agora, a Ideia Juche e os seus seguidores no mundo inteiro...
http://juche.v.wol.ne.jp/en.htm"

Anónimo disse...

Nos por ca andamos longe do que o Ricardo escreveu......?

Langa